sábado, 21 de janeiro de 2017

Carta para a reunião da Pastoral da Juventude que acontece em Crato/CE - Luis Duarte


Amadas e amados jovens e assessores,
Amada Pastoral da Juventude,

É com imenso desejo de unir-me a vocês, reunidos por ocasião da Ampliada Nacional da PJ, que lhes escrevo. Fiquei pensando na beleza, profecia e sonhos que vamos tecendo em toda a PJ Brasil afora e que se encontram agora no Crato. O desejo de Ser-Tão PJ tem movido nossas orações, sonhos e serviços nos últimos tempos.

Na Ampliada Nacional, reúnem-nos nossos sonhos e nossa memória. Olhando os passos que já damos, poderemos celebrar a vida. Encarnando-nos sempre mais em nossas realidades, poderemos ter consciência das barreiras que precisamos romper. E sonhando coletivamente, alimentaremos e renovaremos nossas esperanças.

Penso que o tripé da memória, da organização e da esperança são fundamentais para toda a Pastoral da Juventude, de modo especial nesse tempo da Ampliada e pros próximos anos.

Em tempos de uma sociedade sem memória ou de uma forçada amnésia, como diz Eduardo Galeano, a PJ não pode se eximir da memória. Não podemos esquecer quem somos, os passos dados. Não podemos negar quem nos precederam no serviço à juventude na PJ. Não podemos esquecer de tantos e tantas que são gigantes em doação. Não podemos trair nossos valores, princípios e opções. Mas, não nos enganemos. Há muitos querendo que esqueçamos quem somos. Não seremos quem somos chamados a ser, se não tivermos memória. Não esqueçamos que no centro de quem somos e do serviço que somos chamados a ser e viver, está a opção pela vida em grupo. O grupo de jovens é nosso amor primeiro.

Junto da memória está a organização que somos e sonhamos. Recordemos sempre que nossa organização só tem sentido se gera nucleação, fortalecimento, acompanhamento e formação de grupos de jovens. Alguma coisa nos levou ao grupo. Mas, foi a vida grupal que nos marcou e determinou nossas vidas. Não podemos descuidar da vida de nossos grupos. É dos grupos articulados e organizados que iremos marchar pela vida da juventude. É dos grupos que iremos para as Galileias juvenis. É dos grupos que iremos pautar a defesa da vida. E em tempos de noite neoliberal, organizar grupos é imensamente desafiador. Mas, é o Senhor mesmo que nos envia e acompanha nessa missão grupal.

E junto da organização e da memória está a esperança. Não cabe entre nós o cansaço ou o desânimo. Os tempos são difíceis. Nossas forças podem fraquejar. Mas, não nos é dado o direito de perder a esperança. A falta de esperança é heresia. Onde nos matarem, iremos ressuscitar em serviço à juventude e ao Reino. Vamos seguir transformando o sertão em açude. Sempre que cairmos na tentação da falta de esperança, é preciso olhar para o grupo de jovens, nosso amor primeiro, e renovar a esperança. Não descuidemos da esperança que brota da vida grupal. Lembremos sempre que a falta de esperança é heresia.

E para abraçar cada um e cada uma recordo que na PJ descobrimos o grande mistério e beleza de que não estamos sozinhos. Estamos unidos por profundos laços de amizade.

Que Floris, Gisley, Albano, Herreros, Walderes, Julciene, Mauro, Raimundo, Deusdete, Lourival e tantos e tantas amantes da juventude, estejam presentes nesses dias de Ampliada Nacional da PJ ajudando-nos a não descuidarmos da memória, da organização e da esperança.

Abraços e beijos com saudades,
Luis Duarte
Rio Verde, 21 de janeiro de 2017.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

*Se não quiser adoecer – “Fale de seus sentimentos”* Drazio Varela

 
 
Um texto muito interessante para o exercício do cotidiano, se possível em grupo, para constituir espaços comunitários e favorecer a construção de outro mundo, com mais atenção e cuidado. Katiuska Serafin sugeriu este texto para nossa leitura.

Segue o texto na integra:

Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna.. Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados.O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia..

*Se não quiser adoecer – “Tome decisão”*

A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

*Se não quiser adoecer – “Busque soluções”*

Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas.Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

*Se não quiser adoecer – “Não viva de aparências”*

Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso… uma estátua de bronze, mas com pés de barro.Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

*Se não quiser adoecer – “Aceite-se”*

A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

*Se não quiser adoecer – “Confie”*

Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

*Se não quiser adoecer – “Não viva SEMPRE triste!”*

O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.

*“O bom humor nos salva das mãos do doutor”. Alegria é saúde e terapia.*


Dr. Dráuzio Varella

Texto retirado:

domingo, 15 de janeiro de 2017

Uma carta para a PJ - Luis Duarte

Uma carta escrita de um jovem para outros jovens. Um jovem de Goiás, do Cajueiro escreve para a PJ organizada. É uma carta escrita para toda PJ.
Veja a carta da Integra: 


Queridos/as jovens da PJ do Rio Grande do Sul,

É com alegria que me uno a vocês na realização do Animadores/as da PJ do Rio Grande do Sul. Ao acompanhar de perto e de longe esse encontro e seu processo, fiquei pensando em umas das coisas mais sagradas da PJ em minha vida e sei que nada vida de quase todos/as os/as jovens: a amizade!
Sem dúvida alguma, uma das maiores marcas da PJ nas nossas vidas são as amizades. Sim, na PJ descobrimos os sabores da vida tecida em amizade, esse amor eterno. É no grupo e nos encontros/atividades que vamos cultivando grandes e verdadeiras amizades. É no grupo que descobrimos que seguimos Jesus e nos comprometemos com o Reino de Deus, como um grupo de amigos/as.

Com certeza, cada um/a de vocês pode dizer o nome de dois ou três amigos/as que fez na Pastoral da Juventude. E sabe o mais bonito disso tudo? Daqui a cinco ou dez anos esses/as continuarão sendo amigos/as de vocês. Todos/as que passaram pela PJ levam dela, a marca da amizade.

As amizades tecidas na PJ são amizades duradoras. É que a vida de grupo nos permite amar o/a amigo/a naquilo que ele/a é e não naquilo que desejamos que o/a outro/a seja. Nos permite e nos ajuda a sermos quem somos verdadeiramente e assim acolhermos o/a irmão/ã naquilo que ela/e é.
Ora, se a vida em grupo nos deixa inúmeras marcas e nos deixa a também a grande marca da amizade, é dever nosso garantir que outros/as jovens também possam ser marcados/as profundamente pelo grupo de jovens... Sim, precisamos cuidar dos grupos de jovens de nossas Paróquias e Dioceses para que mais jovens possam fazer a experiência da vida em grupo.

Entre nós não cabe o desânimo ou o cansaço. Somos permanentemente convocados/as a articularmos grupos de jovens. A fazermos formações. A aprofundarmos, em grupo, a nossa identidade, missão, mística, seguimento e serviço.

É fato que haverão momentos difíceis na caminhada de nossas Paróquias e Dioceses. Mas, é fato que não estamos sozinhos. Somos e temos amigos/as na Pastoral da Juventude e juntos/as enfrentaremos e venceremos os desafios. Não duvidemos de nossas capacidades, ainda mais quando estamos unidos/as por profundos laços de amizade.

Sigamos articulando e animando nossos grupos de jovens. Sigamos criando grupos de jovens e animando-os. Todos/as os/as jovens têm o direito de serem marcados pela vida grupal e pela amizade. Não descuidemos de nossos grupos de jovens. Permitamos com nossos serviços que outros/as jovens também façam essa bonita e intensa vivência da amizade em grupo.

Que o Mestre de Nazaré, nosso amigo e irmão, estejam nessa missão. É Ele quem nos convoca e nos envia a articular grupos de jovens e viver profunda e radicalmente a amizade.
Abraços muitos,
Luis Duarte Viera

sábado, 7 de janeiro de 2017

PODE CHAMAR-ME DE FRANCISCO Hilário Dick




Hilário Dick foi provocado por muitas pessoas para ver a série da Netflix sobre o Papa Francisco. Depois muitos de nós queríamos saber como foi o seu olhar e o que lhe provocou como jesuíta.  Eu e Vanildes comentamos sobre a emoção, sobre as tensões de tantas decisões, sobre a música, sobre o compromisso com os pobres, a proximidade com a vida cotidiana. O momento histórico das ditaduras militar e do capital sobre os trabalhadores/as atracando-lhes as possibilidade de vida e de dignidade. Temas que faz pensar na conjuntura que vivemos. Peço que vejam a série de 4 capítulos e também, deixe aqui o seu comentário. Carmem

Hilário deixa suas reflexões sobre a série.

 Ontem assisti, com certa ansiedade e reverência, o documentário sobre o Papa Francisco, da Netflix, atualmente com mais de 80 milhões de assinantes. O caso é que assisti as quatro partes do documentário num fôlego só. Não entendo muito de filme ou filmagem, mas desejava muito ver Pode me chamar de Francisco. Não sei se eu queria ver o Papa (o Francisco) ou o Jesuíta (o Bergoglio), mas vi Pode me chamar de Francisco. Ainda preciso descobrir porque gostaria de me espelhar nele. Acho que vejo e toco nele a utopia. Bergoglio, voltando dos estudos na Europa, foi mandado dar aula num Colégio de ricos, em Córdoba: aulas de literatura. Que cena mais linda aquela do escritor argentino, de fama mundial, cego, falando com aqueles estudantes. Vendo aqueles alunos e observando o Padre Jorge, lembrei-me do Hilário dando aulas no Colégio Anchieta, em Porto Alegre. Ele já era padre, e eu não. Eu era “frater”. Se ele teve que ver seus alunos soltando um porco na sala de aula e no corredor, tive que enfrentar alunos da mesma idade falando-lhes ou impingindo-lhes coisas de literatura brasileira, portuguesa, latina e grega e teoria literária, o que significava, de alguma forma, segurar um bode na sala de aula. Pouco ou nada havia ouvido falar de Bergoglio, então; só sabia que os jesuítas argentinos não eram bem jesuítas porque não haviam aceitado com grande agrado as Conclusões da Congregação Geral 32 dos anos de 1974, Congregação onde Bergolio estivera. Ele era padre novo porque fora ordenado, em Buenos Aires, em 13 de dezembro de 1969, dia depois da Festa de Guadalupe, enquanto eu fui ordenado, em Santa Cruz do Sul no dia 27 de dezembro do mesmo ano – 1969, na festa do apóstolo São João. 

Se, no Brasil, estávamos em anos de ferro (veja-se 1968), em 1969 deu-se o Cordobazo na Argentina, que Bergoglio deve ter visto. Tem vezes em que eu estranho coincidências e desencontros, mas nunca fui superior enquanto ele, já em 1973, era Provincial da Província da Argentina. Se ele nasceu em 17 de dezembro de 1936, eu nasci um pouco depois, em 12 de maio de 1937. Não dá nem meio ano de diferença. Ele pegou os anos muito duros e tenebrosos da Argentina: em 1972 volta Perón; em 1976 dá-se um golpe militar sangrento; de 1973 em diante, fim dos movimentos de jovens. Bergoglio estava no meio disso tudo, como Mestre de Noviços e Provincial. Dá para imaginar?  Ele deve ter sido muito amigo do bispo Angelelli – um bispo profeta e amigo dos pobres e dos homens do interior da Argentina - porque, quando soube do assassinato dele pelos militares, chorou. Angelelli dizia: Não venho para ser servido, mas sim para servir. Servir a todos, sem distinção alguma, nem de classes sociais, nem de modos de pensar ou de crer. Como Jesus, quero ser servidor dos nossos irmãos, os pobres. Nos anos de 1980, após seu provincialato, Bergoglio voltava a Córdoba quando, em 1992, João Paulo II o nomeava bispo.

Falando do documentário, minha primeira estranheza é que ele – no documentário – quase não ri. Embora livre e solto, a vida dele aparece dura, com a dureza da vida por fora e por dentro da Companhia de Jesus. Talvez não convinha... Francisco não é apresentado como jesuíta. Haveria certo escanteio? Todavia, ele vive no meio de uma Buenos Aires carregada de terror político-militar e de pobreza. Basta falar ou recordar a dor horrível das mães procurando seus filhos desaparecidos e o que significou a Guerra das Malvinas com 700 jovens mortos por uma atitude estúpida de militares querendo afirmar certo tipo de nacionalismo besta. Quem vê Bergoglio entrando nas periferias, encontrando sacerdotes ameaçados e mortos, lembra-se do Movimentos dos Sacerdotes do Terceiro Mundo e de tanta outra utopia. Dureza ideológica e de perseguição, dureza e sofrimento de periferias contrastando com o luxo de poucos. Francisco viveu o horror da “Noite dos Lápis” e, naquele automóvel sem chamarizes e com aquela batina rota, Bergoglio ia firme espalhando esperança e distribuindo firmeza.

Se o documentário não me fez ver Bergoglio rindo com aquele sorriso descarado de argentino, fez-me comover, contudo, quando ele chorou, especialmente em duas ocasiões: uma, quando assistia a missa numa das igrejas, na Alemanha, onde simpatizava com as obras de Guardini, e ouvia a história daquela senhora sentada ao seu lado e pedia desculpas porque chorava; outra, quando lhe noticiaram a morte do bispo da região de Rioja – do qual já falei - e Bergoglio sai para um canto, fora de casa, e chora numa esquina de jardim. Ele não era contra a Teologia da Libertação. Inventou outra forma de dizer e praticar o mesmo com palavras menos perigosas. Em 1973 ele estivera na 32ª Congregação Geral dos Jesuítas e teve muita dificuldade em transmitir aos seus companheiros o que lá aprendera - que o serviço da fé a e a promoção da justiça devem formar um casal indissolúvel. Talvez por isso Bergoglio ficou um tanto escanteado entre os jesuítas, mas mostraria mais tarde – como Papa – tudo que significava este casamento. Deve ter sido nestes anos de provincialato de Francisco que o Padre Pedro Arrupe, Geral da Ordem, foi – por assim dizer – quase obrigado a fazer uma visita à Companhia de Jesus na Argentina. Isso, contudo, não vi no documentário.


Bergoglio sente-se muito “em família”, tanto com seus familiares como com as pessoas que procuravam ser família. A dor das “Mães de Maio” se encarna naquela forma bonita de ver a dor dos outros. Que maravilha quando o povo da periferia pega o bispo e o atiram para o ar, fazendo festa depois de uma conquista de permanência de moradia. Transparece, no documentário, um Bergoglio afetivo, evangélico, humilde e educador – assim como já tinha sido nas aulas de literatura em Córdoba. Com aquela pasta preta, cheia de firmeza e de esperança, lá vai Francisco para diferentes Palácios, especialmente o da Justiça, um pouco para as igrejas suntuosas e muito pelos becos que não tem nome, mas só apelido em todos os lugares do mundo. Parece que a pasta preta sempre tinha algo a revelar e a afirmar. Sei que todos os jesuítas deveriam chorar mais que eu vendo este documentário, mas desconfio que uns tantos não vão gostar de ver o que deveria ser o coração de todo jesuíta. Hoje, ainda, li Francisco recordando o que os jesuítas aprenderam ou deveriam ter aprendido há mais de 500 anos: “a pobreza é mãe e muro” – gera vida e defende.
P. Hilário Dick
Janeiro de 2017