quinta-feira, 5 de abril de 2018

PERFIL DOS JOVENS QUE INGRESSARAM NO PROJETO NA TRILHA DA UNIVERSIDADE EM 2018


O projeto Na Trilha da Universidade, cursinho popular do Cajueiro, 
tem como objetivo preparar jovens empobrecidos/as que desejam continuar seus estudos e
 ingressar nas universidades públicas. Está em sua 9ª Edição com o envolvimento de muitos
 educadores/as e coordenadoras/es, e a participação de cerca de 540 jovens. 
Vários deles sendo aprovados em universidades públicas e privadas, em cursos das mais diversas
 áreas.
O projeto é fruto de uma ação voluntária e conta com a colaboração de grupos e instituições, 
nacionais e internacionais, como o Centro Cultural Cara Vídeo, o programa ProAfro/PUC-GO, 
Missionárias de Jesus Crucificado, Observatório Juventudes na Contemporaneidade,
 Promenor e La Abuela, esses 2 últimos da Espanha. O mandato do Dep. Estadual
 Karlos Cabral contribuiu nestas últimas edições  com as cópias e, neste ano de 2018,
estamos com a parceria da Universidade Estadual de Goiás.

O projeto é um esforço coletivo para que seja acolhimento das trajetórias e
experiências dessas/es jovens e um meio para a realização de seus sonhos e 
desejos de mudança de vida. Estas terras são sagradas, por isto convido você para
ler estes dados, que foram retirados da ficha de inscrição. É uma forma de conhecer
com mais profundidade as pessoas que se candidatam para participar do projeto
Na Trilha da Universidade #TrilhaUni


1 AS CARACTERÍSTICAS DA TURMA DE 2018




Nesta nona edição foram inscritos quase 200 jovens. Destes foram selecionados/as 60 pessoas,
 sendo 39 mulheres e 21 homens, com idade entre 17 e 26 anos, moradores de
 diferentes bairros das cidades de Aparecida de Goiânia (11), Goiânia (42),
 Senador Canedo (3) e Trindade (1). Oriundos de escola pública somam 55 e 5 são de escolas conveniadas.


Essa priorização vem do descrédito do ensino público, desmoralizado pela ausência de política pública. Com baixo investimento[Aa1] , desde os salários dos professores/as às condições
 físicas das escolas, falta equipamentos pedagógicos para facilitar o ensino/aprendizado.
 Todo esse descaso contribui para um perfil de analfabetos funcionais, os quais sabem 
decodificar a escrita, porém com grande dificuldade para leitura e interpretação 
da sua própria realidade pessoal e social.


1.1 Vida Laboral



A realidade da juventude empobrecida também passa pela conciliação de trabalho e estudo.
 Dentre os inscritos no Trilha Uni, 09 (nove) já trabalharam e hoje estão desempregados; 
04 (quatro) trabalham como aprendizes; 9 (nove) no comércio e 3 (três) na indústria e ainda como autônomos, comunicação, educação, banco, mecânica e órgão público ; e 34 (trinta e quatro) não trabalham. O fato de alguns destes jovens estarem trabalhando e estudando já compromete 
o estudo, o corpo, pois depois de um dia de trabalho, terá muito mais dificuldade de se 
concentrar e a capacidade de aprendizagem estará diminuída. Estas barreiras servem
 para manter uma classe a serviço de outra classe que concentra os meios de produção.


1.2 Diversidade do grupo inscrito



O projeto visa atender jovens dos mais variados perfis e colaborar para que possam se tornar capazes de refletir sua realidade, problematizando as questões da vida concreta. Quando perguntados/as sobre a sua cor (auto declaração), 16 (dezesseis) se reconheceram da cor negra; 15(quinze) da cor branca, e a maioria se identifica como parda 29 (vinte e nove). Em relação à orientação sexual, a distribuição é: 6 (seis) se identificaram enquanto bissexuais; 2 (dois) homossexuais; 46 (quarenta e seis) heterossexuais e 7 (sete) não desejaram informar. Estas duas questões para muitas pessoas trazem constrangimentos porque são marcadas por uma cultura de embranquecimento e heteronormativa que orientam os padrões de “normalidade” imposto pelo dualismo a que somos submetidos/as. Estas questões também implicam uma série de outros fatores que impede a pessoa de reconhecer a sua identidade diversa em um mundo plural.


No que se refere a religião, a diversidade também se apresenta, com maioria cristã. Sendo Cristão Católico 21 (vinte e um), Cristão Evangélico 23 (vinte e três), Cristão Espírita 1 (um) e os/as jovens que não praticam nenhuma religião 16 (dezesseis). Quanto à participação em atividades coletivas, o grupo de jovens tem 14 (quatorze) que informaram ter participado de alguma atividade coletiva, possivelmente ligados à religião; grupos artísticos 3 (três); grupo étnico 1 (um); organização não governamental ONG 3 (três). 16 (dezesseis) informaram não ter participado de nenhuma atividade coletiva e 26 (vinte e seis) não responderam .


1.3 Condições socioeconômicas da juventude


No questionário foi pedido para informar a renda familiar: 14 (quatorze) jovens indicaram que a renda é de 0 a 1 salário; 30 (trinta) de 1 a 2 salários; 12 (doze) de 2 a 3 salários; 4 (quatro) de 3 a 4 salários; e apenas 1 (um) mais de 5 salários. Um outro dado é sobre a moradia: própria 30 (trinta), alugada (24), cedida 3 (três) e financiada 2 (duas).


1.4 E os sonhos que trazem tanto da Profissão como do curso que desejam ingressar

Percebemos ser esses/as jovens formam um campo muito diverso e assim aparecem profissões das mais variadas áreas, com destaque para as tradicionais, que inspiram saída da condição de pobreza.
O interessante é a amplitude de interesses na profissão dos sonhos. Vejam: Advogados – 3 (três), Agronomia (1), Arquitetura (3), Assistente social (1), Ciências Sociais (2), Delegado/a (4), Dentista (3), Designer (2), Enfermeiro (2), Engenheiro (3), Farmácia (2), Fisioterapia (2), Juiz (1), Mecânico (2), Medicina (9), Medicina Veterinária (7), Nutricionista (1), Pedagoga (2), Perícia/polícia (2), Professor (5), Promotora (1), Psicólogo (3), Técnico em alimentação e futebol (2).


Na pergunta sobre o Curso que pretende ingressar na Universidade temos: Arquitetura (3), Ciências Sociais (3), Designer (2), Direito (12), Educação Física (3), Enfermagem (2), Engenharia civil, elétrica, mecânica, Agronomia (5), Farmácia (2), Fisioterapia (2), Geofísica (1), Letras (1), Medicina (9), Veterinária (2), Nutrição (2), Odontologia (2), Pedagogia (2) Psicologia (3), Serviço social (1), não informaram (2).


Para o melhor entendimento das profissões e cursos há uma exigência de aprofundar os projetos de vida para conhecer melhor as capacidades e aptidões dos/as jovens, assim como, o lugar da
 realização humana, quando se trata do que queremos contribuir para a construção de um mundo melhor, como pessoas criam e constroem para além do capital e da sobrevivência. Faz-se
necessário desmistificar com a juventude empobrecida, o que está imposto a ela nas escolhas profissionais e porque escolhemos uma ou outra profissão.


Há uma pergunta que fala do porquê do interesse do jovem em participar do projeto TrilhaUni das três respostas fechadas indicadas no questionário, a maioria indicou que quer participar para 
aprovar no ENEM, 37 (trinta e sete); 16 (dezesseis) para ampliar o conhecimento; e 8 (oito) para se preparar para atuar no mundo como sujeito histórico. Aqui há um desafio para o projeto, pois a mentalidade dos/as jovens pode ser a de que o TrilhaUni é um curso preparatório comum, ou seja, comercial, conteudista como é a experiência escolar. Esta busca precisa ser parte da atenção do curso, mas o desafio é construir com eles/elas uma cultura dos aprendizados que trazemos, ampliação da leitura de mundo, diversas formas de conhecer e de aprender a fim de que a entrada na Universidade seja para permanecer e mudar este ambiente de aprendizagem que tem uma cultura de exclusão das pessoas empobrecidas. A ideia que está presente no nome do Projeto é de construir uma trilha na universidade, entendendo aqui a Universidade no seu significado mais amplo ou seja, a diversidade que somos no mundo e para o mundo.


Estes jovens que se inscreveram para o projeto já trazem a experiência de ter realizado a prova do ENEM, pois a maioria respondeu que “Sim” 49 (quarenta e nove) a essa pergunta. Algumas
pessoas mais de uma vez, inclusive, e somente 11 (onze) ainda não fizeram a prova. O
interessante é que temos 27 pessoas que ainda estão cursando ou estão com o ensino médio incompleto.


1.5 Como estes jovens se informaram sobre o projeto TrilhaUni

A força da divulgação está no “boca a boca”. As pessoas amigas e conhecidas são indicadas como a maioria 33 (trinta e três), pelas Redes Sociais 11 (onze), pelo Jornal Daqui 8 (oito), pelo Folheto organizado pelo Cajueiro 7 (sete), e pela PUC-TV 1 (uma). Pode-se dizer que o conjunto destes meios facilitam que a informação chegue ao jovem que busca oportunidades de mudar suas vidas através da entrada na universidade. Porém, aqui o desafio será envolver os/as jovens que participam do projeto para que sejam os porta-vozes do projeto junto a outros jovens que buscam este caminho de formação.


1.6 A importância do perfil dos/as jovens para o TrilhaUni

Nós como Centro de Formação, Assessoria Pesquisa em Juventude buscamos atuar articulando estes três campos da ação. Conhecer à juventude empobrecida, suas necessidades e sonhos para aproximar melhor e atender as demandas que ela nos traz.

Os dados apontam que o grande desafio será manter o interesse do público, uma vez que o sistema que os mantém alienados/as, também injeta uma dose de mágica: o dia a dia, de trabalho e estudo, proposta de curso a noite, a gratuidade, são fortes elementos para desistirem de seus sonhos. Assim, como as exigências de ensino aprendizagem que tem a tarefa de nos tirar do lugar, incomodar com novas perguntas, também, fazem com que os jovens não avancem e prefira se refugiar nesta prisão na qual o sistema os mantém. Neste sentido, o TrilhaUni também tem a tarefa de motivá-los/as a posicionar-se no mundo, reconhecer-se diversos.

Desafios que são apresentados a nós equipe de educadora e para os/as jovens que estão se inscrevendo para fazer um caminho de abrir as portas para a Universidade. Outro desafio
 importante é o da sustentabilidade do projeto para garantir a presença da juventude: uma boa proposta pedagógica, lanche, biblioteca, material didático, acompanhamento pessoal ao projeto de vida.


1.7 Pedido de ajuda para continuar oferecendo o projeto

O desafio maior é a sustentabilidade do projeto. O Cajueiro é uma associação de pessoas que são profissionais em diversas áreas e que acredita que o mundo pode ser melhor, por isto organizamos projetos com o propósito de defender a vida. A juventude quer viver com mais educação, transporte, saúde, alimentação, lazer de qualidade e nós queremos somar neste esforço. Todos os dados que temos do TrilhaUni reforçam a sua importância e nos movem para continuar neste propósito.

Diante disso, mantemos campanha permanente na busca de colaboradores para a construção de um mundo melhor para apoiar o projeto com doação de alimentos para o lanche, contribuição financeira ou mesmo doando seu tempo/trabalho para o projeto. Acreditamos que um pouco de cada pessoa pode fazer diferença na vida da juventude empobrecida.


Carmem Lucia Teixeira
Educadora de Escola Pública, pesquisadora de juventude, da direção do Cajueiro