Carta
aberta aos Excelentíssimos e Reverendíssimos Senhores Bispos das
Igrejas Particulares do Estado de São Paulo – Regional Sul 1
São Paulo, 06 de Novembro de 2015
“Se achei graça a teus olhos, concede-me a vida,
eis o meu pedido; salva meu povo, eis o meu desejo.” Est 7,3
Estimados Pastores,
Nós do Grupo de Ação Pastoral da Diversidade de São Paulo, formado por cristãos católicos leigos LGBT, nos dirigimos a V. Ex.ªs com grande tristeza por ocasião de mais uma dolorosa morte, motivada pela exclusão e pelo preconceito. Nesta terça-feira (03/11) no município de Poá – Diocese de Mogi das Cruzes, Luiz Aquino, um menino de 16 anos, filho de um lar católico, morreu por suas próprias mãos por não mais suportar o preconceito e a intolerância que sofria por conta de sua condição homossexual. Segregado e sem rumo, Luiz se enforcou.
A
Igreja Católica deu um passo adiante incluindo no Catecismo a exigência
de se evitar qualquer discriminação às pessoas homossexuais. Outros
passos foram dados no Sínodo dos Bispos deste ano que reforçou a
necessidade de atenção pastoral às famílias com pessoas com essa
orientação. Mas em muitas de nossas comunidades ainda se encaminha os
jovens LGBT a ‘terapias de reversão’ ou a ‘orações de cura’, que
frequentemente são formas disfarçadas de exorcismo. E é contra essa
homofobia presente nas nossas paróquias e dioceses, contra esse ‘medo’
das pessoas homossexuais e transgêneros, que escrevemos essa carta
aberta pedindo a vossa voz forte e profética para lembrar a todos que
qualquer oposição doutrinária, que possa haver às práticas afetivas das
pessoas LGBT, não elimina a dignidade fundamental que possuímos como
filhos e filhas de Deus.
Compreendemos
a preocupação com a doutrina, mas o que pedimos é que a Igreja não se
prenda na ambiguidade, porque para além dos documentos onde se prega a
nossa acolhida, são condenações sem fim que tantas vezes ainda ouvimos
nos púlpitos, nos grupos de oração, nos almoços em família. E cada vez
que ouvimos nos chamarem de doentes, pervertidos, pecadores e perigosos é
a compreensão do nosso valor enquanto filhos de Deus que se parte, é o
nosso espírito que se rompe, muitas vezes sem possibilidade de
reparação.
Não
foi o desejo de Deus que Luiz morresse. A sua morte foi resultado da
ignorância e do medo de sua comunidade, de sua escola, de parentes e
amigos, de sua Igreja quanto à realidade das pessoas LGBT. Em nossas
comunidades existem muitos outros meninos e meninas como Luiz, eles
estão rezando por compreensão e aceitação, muitos outros estão
escondidos com medo da violência, do preconceito e do abandono. Essa
também é a história de muitos de nós, membros deste grupo de ação
pastoral, pois ainda que alguns tenhamos encontrado a acolhida calorosa
que se espera na casa do Pai, outros ainda somos açoitados pela
incompreensão e pela vergonha.
Luiz
Aquino era nosso irmão! Em nossa Igreja ele foi batizado, mas não
plenamente acolhido. Os amigos dizem que ele era gentil, amoroso e
alegre e aos olhos de Deus o Amor e a Bondade são tudo o que importa. É
nesta certeza que esperamos que o Senhor o acolha em Seus braços e
conforte sua família neste momento de dor, para o qual não encontramos
palavras de acalento, mas apenas nossa oração sincera. Assim como
pedimos por todos os nossos irmãos e irmãs que encontraram na morte a
única saída para uma vida de sofrimento e negação, e por todos os irmãos
e irmãs vitimados pela violência homofóbica.
Caros
Bispos, nós também somos filhos dessa Igreja, também somos o Povo de
Deus, e pedimos a vossa bênção e a vossa acolhida para crescermos em
comunhão enquanto participamos do anúncio da Boa Nova de Jesus. Enquanto
Comunidade LGBT, nós esperamos por mudanças, mas sabemos que a
principal mensagem do Evangelho é que ninguém pode ser excluído,
especialmente de uma comunidade que guarda em seu coração a mensagem da
salvação.
Com nosso afetuoso abraço,
Grupo de Ação Pastoral da Diversidade - SP
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