“Neste momento há 31 estudantes e
professores presos em Goiás por protestarem pela educação pública.
Dentre eles 13 menores. Na última segunda-feira (15), a PM goiana entrou
violentamente na Secretaria de Educação – que estava ocupada – e
prendeu o grupo.
Antes disso, o governador Marconi Perillo
(PSDB) já havia despejado os estudantes secundaristas de 28 escolas
ocupadas em uma onda de protesto contra a privatização do ensino
estadual.
Tudo começou com um decreto do governador
no final do ano passado repassando 30% das escolas goianas para gestão
das famigeradas Organizações Sociais (OS). A iniciativa prevê a
terceirização de serviços escolares, a contratação privada (sem
concurso) de até 70% dos professores e 100% dos funcionários, dentre
outras medidas.
Trata-se evidentemente de uma
privatização “branca” do ensino. O próprio Ministério Público do Estado
recomendou nesta semana o adiamento do edital das OS, por estar repleto
de ilegalidades, incluindo o repasse de recursos do Fundeb para a
iniciativa privada. Nas palavras do promotor Fernando Krebs: “Chegamos à
conclusão que o projeto referencial é inconstitucional. Vai piorar a
qualidade da educação. Vai promover a terceirização, a privatização às
avessas da escola pública”.
Foi este despautério que motivou a mobilização de estudantes e professores, reprimidos com violência e prisões pela PM.
Mas não é de hoje a paixão do governador
Marconi Perillo por tratar a educação como caso de polícia. Desde 2014,
seu governo tem implementado um inacreditável processo de militarização
das escolas, que também foi alvo das manifestações.
A polícia militar já havia assumido até o
ano passado a gestão de 26 escolas, tornando Goiás o Estado com o maior
número de colégios militares no país. Sob os princípios da “hierarquia e
da disciplina”, oficiais da PM estabelecem a regra do medo, mandam e
desmandam no ambiente escolar.
Nas escolas militarizadas passou a ser
exigido o uso de farda militar por todos os alunos. Os meninos precisam
ter cabelo curto e as meninas são obrigadas a prendê-los. As gírias
foram proibidas, assim como o esmalte de unha, o beijo e os óculos com
armação “chamativa”. A continência tornou-se obrigatória na entrada,
para os professores e também entre os alunos.
Para completar foram inseridas novas
disciplinas no currículo, como a “Ordem unida” – sabe-se lá o que seja
isso, coisa boa não é. Assim como a “sugestão” de uma taxa de matrícula
de R$ 100 e de mensalidade de R$ 50, em valores de 2014, possivelmente
já reajustados nos dias de hoje. O governo pretende militarizar mais 24
escolas neste ano.
O capitão Francisco dos Santos, diretor
da escola Fernando Pessoa, exalta numa matéria da BBC o fim da violência
no colégio. Também pudera. Impondo estado de sítio e intimidação
permanente o resultado seria esse. O preço é rifar o futuro, jogando o
pensamento crítico e a democracia na lata do lixo. A gestão militar da
escola adestra os jovens de hoje para a gestão militar da sociedade.
A repressão ao movimento dos estudantes secundaristas por essa mesma polícia é expressão cabal disso.
Perillo seguiu o exemplo de seu colega de
partido Geraldo Alckmin ao tentar remodelar o ensino à força, sem
qualquer debate com a sociedade. Que, enquanto é tempo, siga novamente
Alckmin, desta vez para recuar das medidas perante o rechaço da
comunidade escolar. É preciso libertar imediatamente os 31 presos e
recuar do projeto de privatização e militarização das escolas.
Caso contrário, Goiás será lembrado como o laboratório da barbárie na educação brasileira.”
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