quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Observatório da Juventude na Contemporaneidade


Flávio Munhoz Sofiati 


Os desafios de compreensão da realidade social dos jovens se expressam nos preconceitos presentes no cotidiano do brasileiro. Soluções fáceis e violentas são constantemente defendidas por auto-proclamados sabidos do assunto. Entretanto, entender a situação da juventude é um processo complexo e peça chave de análise do mundo contemporâneo. Isso porque esse segmento social é quase sempre o primeiro a sentir os efeitos das crises acompanhadas da ineficiência de ação do Estado.
Nestas eleições de 2014, por exemplo, há diversos candidatos, principalmente a deputado Estadual e Federal, que defendem a redução da maioridade penal com mecanismo de diminuição da violência e criminalidade. Muitos destes candidatos sabem que tal medida não resolve este grave problema social, mas defendem a redução por objetivos eleitoreiros, considerando que parte da população apóia estas iniciativas. Entretanto, se prender e matar resolvesse algo, já se teria resolvido, visto que a principal política pública de juventude dos Governos é o próprio sistema prisional. 

As estatísticas oficiais indicam que a população majoritária dos presídios brasileiros é composta por jovens do sexo masculino, de pele negra e classe social desfavorecida. Este mesmo público é a principal vítima de mortes violentes no país. Luiz Eduardo Soares, especialista no tema da violência, chega a afirmar que essa população no país morre em quantidades maiores do que sociedades em guerra.

Há, portanto, um processo de extermínio de jovens no Brasil. Os que não morrem são encarcerados. Isso ocorre há décadas, mas a situação não melhorou. E os jovens continuam sendo abordados pelas grandes redes de comunicação, que influenciam a opinião pública, como protagonistas de violência e criminalidade. Porém, as pesquisas também mostram que eles são as principais vítimas dessa situação.

Tudo isso indica que é preciso fortalecer os estudos sobre a condição atual da juventude brasileira para que, entre as diversas necessidades, as políticas públicas do setor sejam adequadas e visem resolver de fato o problema. Diante deste desafio, um grupo significativo de pesquisadores em Goiás, participantes de diversas instituições de ensino e pesquisa, ativistas sociais e interessados no assunto, deu início ao processo de instalação do Observatório da Juventude na Contemporaneidade.
Gestado há mais de dois anos, o Observatório tem com objetivo articular, estimular e viabilizar estudos acerca da realidade do jovem brasileiro e principalmente goiano. Esta iniciativa se inspira nas experiências de Minas Gerais e Rio de Janeiro que possuem Observatórios ativos e com papel importante nas pesquisas sobre as juventudes.

A instalação será feita nesta quinta-feira, 11 de setembro, na UFG (Faculdade de Ciências Sociais – CAMPUS II – Auditório Lauro Vasconcelos), em seminário que contará com a participação dos pesquisados envolvidos no Observatório e interessados no assunto. Além disso, haverá a conferência com o Prof. Luis Groppo, citado entre os principais pesquisadores de juventude no Brasil. Contaremos também com a presença de Hilário Dick, padre jesuíta e um dos primeiros estudiosos do tema no país.

Com o funcionamento do Observatório, além de pesquisas, pretende-se colaborar com as políticas e programas voltados para o público juvenil no Estado. Espera-se que esta iniciativa diminua o preconceito e a desinformação acerca da realidade do jovem. Pois o mais importante é compreender que lugar de jovem é na escola e não na cadeia.

Flávio Munhoz Sofiati é doutor em sociologia pela USP e professor da UFG.


Um comentário:

  1. Quando falamos de preconceitos presentes no cotidiano do brasileiro, o que me deixa grilado é saber e ver que muitos de nosso sacerdote agir assim...na minha diocese venho comprando briga sobre essa realidade............porem vem causando efeito positivo.
    são muito nosso desafios..........esse dias lacei esse texto sobre nosso jovens, pois acredito....UM NOVO OLHA SOBRE NOSSA JUVENTUDE --POR VICTOR SANTOS
    A juventude, motivada e interessada na construção e produção do Projeto do Reino de Deus, tem encontrado portas e trilhado caminhos, aliada na sua formação profética, missionária, política, afetiva, humana, tem encontrado possibilidades para seu protagonismo.
    Considerando que a juventude é presente e resposta, ousamos levar um sonho que ainda se lapida em nossos sentimentos. No entanto, quando permitimos que a esperança adentre em nossos corações, conseguimos olhar para os jovens com uma visão misericordiosa, mesmo percebendo que a sociedade os maltrata, fragmenta, impossibilita.
    Levados pela experiência do amor, entoaremos “abrirei meus lábios num canto novo”, levaremos para os jovens das comunidades uma alternativa de esperança e utopia. Somaremos forças e juntos apresentaremos alternativas para construir um novo rosto jovem. Assim queremos e assim desejamos. Como canta Caetano Veloso: “todo dia o sol se levanta, e a gente canta o sol de todo dia”, assim queremos levar luz de esperança, “luz radiante”, um novo sol, um novo canto aos meninos e meninas das comunidades, sobretudo aos mais distantes.
    Mesmo diante de tantos pronunciamentos negativos sobre nossa juventude, acreditamos nela, e com os pés firmes nesse chão que consideramos árido e quente, queremos “abrir a janelas e ver o dia que vem” (Zé Vicente). Queremos ver um novo rosto jovem, uma juventude “autêntica e engajada”. Assim ficamos “com a pureza das respostas das crianças”, mostraremos nosso rosto jovem, com seus medos e seus sonhos, com seus desejos e suas angústias, pois a juventude “é bonita e é bonita”.
    Juntos, vamos acordar nossos jovens, cuidar, ouvir, pois seu olhar, algumas vezes amedrontado, carrega sonhos, desejos. Não vamos permitir que a droga, o medo, nada escravize nossa juventude. Que “o Deus da beleza juvenil, Pai e Mãe de todos os povos, derrame sobres os jovens” da comunidade o teu Espírito, que Ele esteja presente, em nossas visitas, em nossa fala, na escuta, por Cristo nosso Senhor, Amem! Axé! Awiri, aleluia!

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