sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Olho por olho e acabaremos todos/as cegos/as




Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio.
A Não-violência não depende do número; depende do grau de firmeza.
Se um único homem chegar à plenitude do amor, neutraliza o ódio de
milhões.

O caminho da paz é o caminho da verdade. Na verdade, a mentira é a mãe
da violência. Um homem sincero não pode permanecer violento por muito
tempo. Ele vai perceber, no curso de sua busca, que não tem necessidade
de ser violento. Vai também descobrir que enquanto houver nele o menor
vestígio de violência não conseguirá encontrar a verdade que está
procurando.

A força gerada pela não violência é infinitamente maior do que a força
de todas as armas inventadas pela engenhosidade do homem. A
Não-Violência é a força mais potente do mundo

A não violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem
armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua
um elemento de medo, se não mesmo de covardia. A não violência nunca
deve ser usada como um escudo para a covardia. É uma arma para os
bravos.

O que precisamos matar no inimigo é o desejo de matar

A não-violência é o primeiro artigo da minha fé; e é também o último
artigo do meu credo

Se queremos alcançar a verdadeira paz neste mundo e se queremos
desfechar uma guerra verdadeira contra a guerra, teremos de começar
pelas crianças; se crescerem com a sua inocência natural, não teremos de
lutar; não teremos de tomar resoluções ociosas e infrutíferas, mas
seguiremos do amor para o amor, da paz para a paz, até que finalmente
todos os cantos do mundo estarão dominados pela paz e pelo amor, pelo
que o mundo inteiro está ansiando, consciente ou inconscientemente.

Citações extraídas de "As Palavras de Gandhi" texto selecionado por
Richard Attenborough, Editora Record.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

 

O materialismo do Papai Noel e a espiritualidade do Menino Jesus

21/12/2013


Um dia, o Filho de Deus quis saber como andavam as crianças que outrora, quando andou entre nós,“as tocaca e as abençoava” e que dissera:”deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o Reino de Deus”(Lucas 18, 15-16).
À semelhança dos mitos antigos, montou num raio celeste e chegou à Terra, umas semanas antes do Natal. Assumiu a forma de um gari que limpava as ruas. Assim podia ver melhor os passantes, as lojas todas iluminadas e cheias de objetos embrulhados para presentes e principalmente seus irmãos e irmãs menores que perambulavam por aí, mal vestidos e muitos com forme, pedindo esmolas. Entristeceu-se sobremaneira, porque verificou que quase ninguém seguira as palavras que deixou ditas:”quem receber qualquer uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe”(Marcos 9,37).
E viu também que já ninguém falava do Menino Jesus que vinha, escondido, trazer na noite de Natal, presentes para todas as crianças. O seu lugar foi ocupado por um velhinho bonachão, vestido de vermelho com um saco às costas e com longas barbas que toda hora grita bobamente:”Oh, Oh, Oh…olhem o Papai Noel aqui”. Sim, pelas ruas e dentro das grandes lojas lá estava ele, abraçando crianças e tirando do saco presentes que os pais os haviam comprado e colocado lá dentro. Diz-se que  veio de longe, da Finlândia, montado num trenó puxado por renas. As pessoas haviam esquecido de outro velhinho, este verdadeiramente bom: São Nicolau. De família rica, dava pelo Natal presentes às crianças pobres dizendo que era o Menino Jesus que lhes estava enviando. Disso tudo ninguem falava. Só se falava do Papai Noel, inventado há mais de cem anos.
Tão triste como ver crianças abandonadas nas ruas, foi perceber como elas eram enganadas, seduzidas pelas luzes e pelo brilho dos presentes, dos brinquedos e de mil outros objetos que os pais e as mães costumam comprar como presentes para serem distribuidos por ocasião da ceia do Natal.
Propagandas se gritam em voz alta, muitas enganosas, suscitando o desejo nas crianças que depois correm para os pais, suplicando-lhes para que comprem o que viram. O Menino Jesus travestido de gari, deu-se conta de que aquilo que os anjos cantaram de noite pelos campos de Belém”eis que vos anuncio uma alegria para todo o povo porque nasceu-vos hoje um Salvador…glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa-vontade”(Lucas 2, 10-14) não significava mais nada. O amor tinham sido substituído pelos objetos e a jovialidade de Deus que se fez criança, tinha desaparecido em nome do prazer de consumir.
Triste, tomou outro raio celeste e antes de voltar ao céu deixou escrita uma cartinha para as crianças. Foi encontrada debaixo da porta das casas e especialmente dos casebres dos morros da cidade, chamadas de favelas. Ai o Menino Jesus escreveu:

sábado, 21 de dezembro de 2013

Celebração da Páscoa de Walderes e memória dos 40 anos da PJ



Inspirado pela iluminação bíblica da comemoração dos 40 anos da Pastoral da Juventude no Brasil (“Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos – At. 4,20”), resolvi fazer a partilha do que vi e ouvi na última terça e quarta-feira (17 e 18 de dezembro).

Na terça-feira, a Igreja da Libertação, a Igreja dos/as Pobres, e em especial a PJ e o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), perderam uma pessoa muito querida, o Walderes Brito.

Tive contato com o Walderes, apenas duas vezes, a primeira rapidamente e a segunda quando ele já estava debilitado, quando fui juntamente com uma amiga na casa dele, visita-lo. Mesmo sem tê-lo conhecido, decidi ir ao velório, em solidariedade a vários/as amigos/as, os/as quais tinham (tem) enorme admiração e consideração por ele.

Durante o velório, ocorrido na quarta-feira, em alguns momentos, rezamos o Ofício Divino e nos momentos de recordação, eram feitas partilhas a respeito do Walderes. Nessas partilhas, tive a certeza que mesmo diante da morte física, “a vida anuncia que renuncia a morte”. Isso para mim é o movimento da Ressurreição. Apesar da tristeza, foi uma experiência transcendental, perceber esse movimento, o qual é característico de quem de fato acredita e busca seguir o Ressuscitado.

Em uma das partilhas, foi dito que o Walderes sentia-se incomodado e indignado com a Igreja Católica, principalmente com a postura institucional, principalmente ante as relações homossexuais e às mulheres. Ao ouvir a partilha, lembrei-me de uma notícia que li na terça-feira. No dia em que Walderes realizou sua páscoa, o Papa Francisco comemorou 77 anos de vida e foi declarado a pessoa mais influente do mundo no ano de 2013, pela revista Advocate (publicação dedicada à comunidade LGBT - http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2013/12/17/revista-gay-americana-escolhe-francisco-como-personalidade-do-ano.htm). Conforme a revista, “Francisco ainda não disse que a Igreja Católica apoia as uniões civis entre casais do mesmo sexo, mas os comentários que ele fez já causaram reflexão e consternação na Igreja” e ainda segundo a revista, Francisco “tornou-se um sinal para os católicos e para o mundo de que o novo papa não é como o antigo e quer queiram ou não, o que ele diz faz diferença”. Walderes, infelizmente, não pôde ver isso em vida, mas com certeza, lá do céu, ele está feliz, pois simbolicamente, e a vida é feita de simbologias, isso pode significar um grande avanço.

Percebi o movimento da Ressurreição, também nas falas com relação à PJ e às Escolas Bíblicas. A maioria das partilhas, foram de pessoas que fizeram ou fazem parte da PJ ou das Escolas Bíblicas para Jovens. Ouvir essas partilhas aumentaram ainda mais meu encanto e amor pela PJ, me fazendo ter a certeza que realmente “ela vem de dentro, de dentro ela vem, toda energia que a PJ tem”. É essa energia que nos faz seguir em frente, que alimenta nossa esperança no Deus da Vida, da Libertação, da Ressurreição.

Que continuemos, como seguidores/as do Ressuscitado, percebendo a vida que brota da morte (ressurreição), na certeza de que “todas as coisas são mistérios”!  

Jardel Santana, jovem da PJ do Distrito Federal, Cajueiro.



Natal tempo de espera do menino

Gratidão!

Esta é a palavra do ano para tantas pessoas que acreditaram em nosso projeto. Foram tantas visitas, telefonemas, cartas de apoio e solidariedade ao caminho que nos propusemos traçar a partir de 2013.

Nosso corpo experimentou dor e alegria! Nos amadureceu na direção da Causa.  Não somos os mesmos. Há situações que se tornaram novas, creio que ficamos mais lúcidos para distinguir relacionamentos que animam para uma “causa” comum e outros que são marcados por interesses políticos ou pessoais.

Agora neste tempo de espera do Deus Menino com desejo de brincar com Ele debaixo de uma árvore marcada pelo rio da amizade, do amor, do cuidado com a juventude. 



A oração ao Grande Espirito é nosso legado para a vida




Oração

Oh, Grande Espírito,
cuja voz eu ouço nos ventos
e cujo sopro dá a vida a todo o mundo, ouça-me.
Eu sou pequeno e fraco.
Eu preciso de sua força e sabedoria.
Recordem comigo a uma das ultimas partilhas do Walderes e se puderem a leiam em voz alta para seu coração sentir e ouvir.
Permaneçamos unidos, sempre.  

Deixe-me caminhar pela beleza e fazer meus olhos
sempre contemplar o pôr do sol vermelho e roxo.
Faça que minhas mãos respeitem as coisas que você fez
e meus ouvidos afiados para ouvir sua voz.
Faça-me sábio para que eu possa entender
as coisas que você ensinou ao meu povo.
Deixe-me aprender as lições que você tem escondido
em cada folha e rocha.

Busco força, não para ser superior ao meu irmão e irmã,
mas para lutar contra meu maior inimigo - eu mesmo.
Faça-me sempre pronto para chegar até você
com as mãos limpas e os olhos em linha reta,
assim, quando a vida se desvanece, como o pôr do sol desaparecendo,
meu espírito virá até você
sem nenhuma vergonha.

Um beijo,
Walderes

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Leonardo Boff analisa primeiro ano do Papa Francisco

MATÉRIA PUBLICADA NO BRASIL DE FATO


Nesta entrevista à Carta Maior, Leonardo Boff faz um lúcido balanço das esperanças suscitadas por Francisco, das perspectivas de transformação que se levantam no horizonte, dos atos já cumpridos e dos que virão
16/12/2013
A ternura e a inteligência juntas são armas muito dissuasivas. Escutando o teólogo brasileiro Leonardo Boff se entende rapidamente por que seu amigo Joseph Ratzinger o afastou da igreja quando foi publicado um dos livros fundadores da Teologia da Libertação escritos por Boff, “Igreja, carisma e poder”. Muito antes de ser papa, Ratzinger foi amigo de Leonardo Boff, mas quando o severo teólogo alemão começou a subir a escadaria do poder no Vaticano não duvidou em levantar a mão para fazer Leonardo Boff sentar no mesmo banco onde, muitos séculos antes, a Santa Sé julgou Galileu GalileiLeonardo Boff pagou o tributo por suas ideias.
Perdeu o direito de exercer o sacerdócio. Passaram-se muitos anos e muitos combates e Leonardo Boff não perdeu um centímetro dessa inteligência que evolve as coisas em uma mesca de racionalidade e revelação juvenil.
A paisagem que rodeia sua casa de Petrópolis é idílica, frondosa e absorvente como as ideias que este intelectual de 75 anos vai expondo com o frescor de um adolescente. Sob o título “o papa do povo”, a revista Times escolheu o papa Francisco como a personalidade do ano. “O que faz este Papa tão importante é a rapidez com que capturou a esperança de milhões de pessoas que haviam abandonado toda esperança na Igreja”, escreve a TimesLeonardo Boff não está longe de pensar o mesmo. Chega ao fim o ano da eleição de Bergoglio como primeiro papa não europeu da história.
Nesta entrevista à Carta MaiorLeonardo Boff faz um lúcido balanço das esperanças suscitadas por Francisco, das perspectivas de transformação que se levantam no horizonte, dos atos já cumpridos e dos que virão. O teólogo brasileiro está convencido de que, com Francisco, chegou muito mais que um homem vindo de longe: com ele chegou ao Vaticano outra filosofia de vida, de política, outra prática pastoral, outra sociologia e outro cristianismo inspirados nas raízes do continente.
Leia a entrevista:
Passam os meses e, da sua maneira sempre renovada, o papa Francisco segue proporcionando surpresas. Como você analisa este momento particular do catolicismo através de uma figura que está deslocando quase todos os centros de gravidade do Vaticano?
Estamos em uma situação totalmente nova. Nós viemos de um inverno muito duro e rigoroso, com João Paulo II e Bento XVI. Agora sentimos a primavera com suas flores e frutos. Francisco é um papa que surpreende, que a cada dia inventa coisas novas. É a primeira vez que um papa não vem da velha cristandade europeia, mas sim da periferia, ou seja, da América Latina. As igrejas da América Latina eram igrejas espelho, enquanto as da Europa eram igrejas fonte. Agora, depois de 500 anos, nossas igrejas se converteram em igrejas fonte. Nossas igrejas têm suas tradições, suas reflexões, suas liturgias, criaram um estilo de cristianismo ligado à libertação, ao compromisso social. Deste caldo, espiritual, político e religioso veio o papa Francisco.
O novo papa tem outro tipo de mensagem, não é o velho cristianismo, doutrinário, disciplinar. Trata-se de um cristianismo de profunda comunhão com todas as pessoas, livre de doutrinas castradoras, com uma mensagem baseada na simplicidade e na pobreza. Isso é inédito na história do papado. É preciso levar em conta que só 24% doscristãos estão na Europa; 62% estão na América Latina e os demais na Ásia e na África. Isso significa que, hoje, o cristianismo é uma religião de Terceiro Mundo. Teve suas raízes no primeiro mundo, mas isso já passou.
Francisco está muito consciente desse fato. Por isso tem a fantasia criadora e é capaz de dizer “é preciso mudar”. Eu acredito muito em sua fantasia, em sua liberdade, em seu coração e liberdade espiritual. A igreja necessita de coração, não de poder. Onde há poder não há amor nem compaixão. Francisco tem amor e compaixão. Eu não quero saber nada de poder, nem de tradições.
Para você, então, Francisco é um papa de combate?
Creio que Francisco combina duas coisas: a ternura de Francisco e o rigor do jesuíta. É franciscano na forma humilde de viver, popular, mas é um jesuíta da racionalidade moderna, analisa os fenômenos, identifica a causa principal e, quando descobre, intervém com muita determinação. Creio que o papa é uma feliz combinação entre ternura e vigor. É disso que precisamos hoje na igreja. Para fora é um pastor, para dentro é muito rigoroso.
Quando esteve no Rio de Janeiro, o discurso mais duro que pronunciou foi para os bispos e cardeais. Disse a eles que não eram pobres nem interiormente, nem exteriormente, que eram duros com o povo e que não foram capazes de fazer a revolução da ternura, da compaixão, da compreensão com o povo. Em Roma disse o mesmo: os ministros da igreja tem que sair da fortaleza e ir para o povo e o povo deve poder vir e sentir-se em casa. A igreja não está aí para condenar ninguém, mas sim para acolher, perdoar, suscitar esperanças e ter compaixão com quem tem problemas. Essa é a característica mais bela e evangélica de Francisco.
Você acredita que Francisco pode realmente reformar a igreja?
Eu acredito que Francisco, antes de reformar a cúria e a igreja, já reformou o papado. O estilo do papa é outro. O papado tem um ritual, nas vestimentas, nos símbolos do poder. Franciscorenunciou a tudo isso e fez o trabalho contrário: conseguiu que o papado se adaptasse a suas convicções e a seus hábitos. Por isso renunciou a todos os símbolos de poder. Ele disse: “a igreja tem que ser pobre como Jesus”. São Pedro não tinha um banco e Jesus não entendia nada de contabilidade! Jesus era um profeta que trazia fé, esperanças. Francisco resgata a tradição mais antiga da igreja e recusa chamar-se papa. Papa é um título dos imperadores. Francisco se considera um bispo de Roma que governa a igreja na caridade, não no direito canônico. Isso muda tudo.
Francisco é mais que um nome: é um projeto de igreja, de uma sociedade mais simples, solidária, é o projeto de uma simplicidade voluntária, de uma sobriedade compartilhada. Possivelmente isso vá criar uma crise entre os bispos e cardeais. Eles se acreditam príncipes da igreja e o papa não quer nada disso. Francisco quer que se renove o pacto das catacumbas quando, ao final do Vaticano segundo, 30 bispos se reuniram nas catacumbas e fizeram votos de viver na pobreza, de abandonar os palácios e viver no meio do povo. Essa é a proposta para toda a hierarquia da igreja. Essa será, para mim, a grande revolução de Francisco.
Com que forças Francisco poderá contar para mudar as más tendências profundas da igreja? Por enquanto temos ouvido uma mensagem pastoral muito entusiasta, mas para chegar à transformação completa há um grande passo. Por acaso se apoiará na teologia da libertação, tão reprimida por João Paulo II e Bento XVI?
É um papa muito inteligente. Francisco criticou muito os conservadores. No dia 11 de setembro aceitou encontrar-se com Gustavo Gutiérrez (o outro inspirador da teologia da libertação). Isso me parece muito importante para apoiar essa teologia que é, além disso, de certa forma, o lugar de onde ele vem. A Argentina tem uma teologia da libertação própria, que é a teologia da cultura popular.Francisco se apoiou nesta teologia que se diferencia da teologia da libertação comum porque não trabalha em torno do conflito de classe, mas sim em torno da cultura dominante e da cultura dominada, da cultura do silêncio que precisa ser liberada.
Ele está nesta linha. Daí vem a sua novidade.
Ele já escolheu oito cardeais de todo o mundo para criar uma instância de decisão. Seria fantástico se Francisco convidasse mulheres para dirigir os destinos da igreja na perspectiva da globalização. Até hoje, o cristianismo era algo ocidental que foi se convertendo em algo cada vez mais acidental. Ele precisa ser globalizado. Para ser global tem que ter outras dimensões. A igreja não encontrou seu lugar na globalização. Ela é muito romanizada, eurocêntrica. Mas Francisco tem a visão do jesuíta São Francisco Xavier, missionário na China, segundo a qual a igreja precisa sair para o mundo.
Para mim a melhor maneira é criar uma rede de igrejas e comunidades que se encarnam nas culturas e tem rostos chineses, japoneses, africanos, latino-americanos. É outro tipo de presença da igreja, não como poder, mas sim como uma instância de apoio a tudo o que é humano. O cristianismo se soma a outras religiões, a outros caminhos espirituais e renunciam assim a seu privilégio de excepcionalidade, como se fosse a única igreja verdadeira, a única religião válida. Não. O cristianismo está junto às demais religiões para alimentar valores humanos, para salvar a nossa civilização que está ameaçada.
No entanto, o discurso tradicional do Vaticano ainda se mantém.
Sim, eu creio que ele seguirá mantendo o discurso tradicional de defesa da vida, contra o aborto, mas com uma diferença: antes, os temas da moral sexual, familiar, do celibato dos sacerdotes ou do sacerdócio das mulheres, eram temas proibidos, que não podiam ser discutidos. Nenhum cardeal, bispo ou teólogo podia falar disso. Francisco não, ele deixou aberta a discussão. Ele vai abrir uma ampla discussão na igreja e vai recolher elementos que podem se tornar universais.
Francisco abriu muitos espaços. Não sei até que ponto poderá avançar com isso, mas haverá sim uma ampla discussão na igreja. Possivelmente consiga permitir que as igrejas locais, por exemplo, na África, onde há outras culturas tribais, outra relação com a sexualidade, possam atuar de outra forma ante a utopia cristã, uma forma que não seja só a ocidental.
Hoje temos uma só maneira de ser cristão, mas há outras. Na América Latina estamos demonstrando que é possível um cristianismo afro-indígena-europeu, uma mescla de três grandes culturas. Por isso aqui a igreja tem outro rosto, é mais aberta, mais comprometida com as mudanças que beneficiam o povo. Temos que universalizar isso, porque a injustiça mundial é muito grande. E este papa é muito sensível ante os últimos, os invisíveis. Aí está sua centralidade.
Já se passou certo tempo da renúncia do papa Bento XVI. Esse fato foi um enorme terremoto para os católicos do mundo. Qual é hoje sua análise sobre esse momento de fratura sem o qual o para Francisco não teria chegado ao trono de Pedro?
Eu creio que, quando Bento XVI leu o informe de mais de 300 páginas sobre a situação interna da igreja, seja o que concernia aos problemas do Banco do Vaticano, seja os escândalos sexuais que implicavam bispos e cardeais, creio que isso o abalou profundamente. Bento XVI sentiu que não tinha força nem física, nem psíquica, nem espiritual, para enfrentar um problema dessa natureza. Esse problema não vinha de fora, do mundo, da sociedade, não: o problema vinha de dentro da igreja, de sua parte mais central que é a cúria romana. Isso o escandalizou.
Bento XVI foi muito humilde ao reconhecer que outra pessoa deveria vir com mais força, com mais determinação e outra visão da igreja para criar um horizonte de esperanças e credibilidade que a igreja havia perdido totalmente.
O Banco do Vaticano e todos os escândalos ligados a ele foi um dos desencadeadores da renúncia de Bento XVI. Assim que assumiu, as primeiras medidas do Papa Francisco tiveram a ver com o banco. Você acredita que ele poderá levar a cabo a reforma final desta instituição financeira comprometida com a máfia e a circulação de dinheiro opaco?
No Banco do Vaticano há muito dinheiro da máfia, apoiada e comprometida com altas figuras da Cúria romana. Neste sentido, há um risco que pesa sobre o papa.
Quando a máfia se sente agredida, é capaz de cometer crimes, de eliminar pessoas. Por isso, é muito inteligente que o papa não viva nos apartamentos pontificais, mas sim em uma casa de hóspedes. É muito inteligente também que não coma sozinho, mas sempre com muitas pessoas. Francisco disse brincando que assim era mais difícil envenená-lo. Mas, para além disso, creio queFrancisco vá inaugurar uma dinastia de papas do Terceiro Mundo, da África, da Ásia, da América Latina. Com isso, o catolicismo se enriquecerá com valores de outras culturas que nunca foram respeitadas, mas sim colonizadas.
O cristianismo da América Latina é um cristianismo de colonização. Fizemos muitos esforços para criar um cristianismo nosso, com nossos santos, nossos mártires.
Nosso cristianismo tem seu próprio rosto, que não é o velho rosto europeu. Isso vai facilitar que o cristianismo seja uma boa proposta para a humanidade, não somente para os cristãos. Nosso cristianismo tem outro elemento de ética, de humanidade, de espiritualidade para um mundo altamente materializado, tecnologicamente sofisticado. Francisco encarna esse contraponto, essa dimensão.
Sua proposta tem futuro.
Foto: Wilson Dias/ABr

domingo, 15 de dezembro de 2013

Entrevista da Revista Forum com Noam Chomsky - o que prega o Papa Francisco


REVISTAFORUM

14/12/2013 12:34 pm
Noam Chomsky: EUA matavam quem praticava o que prega Papa Francisco
Por Travis Gettys, do The Raw Story | Tradução: Ítalo Piva
Os Estados Unidos declararam e lutaram uma amarga, brutal e violenta guerra contra a igreja, disse Chomsky (Foto: Wikimedia Commons)
Os Estados Unidos lutaram por décadas uma guerra contra católicos que praticavam os ensinamentos que levaram o Papa Francisco a ser eleito personalidade do ano pelaTimes, segundo o filósofo político Noam Chomsky.
Segundo Chomsky, em 1962, a conferência Vaticano II reformou os ensinamentos da Igreja Católica pela primeira vez desde o século IV, quando o Império Romano adotou o cristianismo como sua religião oficial, e isso teve um profundo impacto nos líderes religiosos da América Latina.
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Um dos futuros santos da Igreja, João Paulo II colaborou com a CIA
Na semana passada, em uma entrevista com o ativista de justiça social Abel Collins, Chomsky explicou que padres e laicos latino-americanos formaram grupos com camponeses para estudar o Evangelho e reivindicar mais direitos das ditaduras militares da região – que ficaram conhecidos como Teologia da Libertação.
“Há uma razão porque cristãos foram perseguidos pelos primeiros três séculos,” disse Chomsky. “Os ensinamentos são radicais – de um texto radical – que pregam basicamente um pacifismo radical com opções preferenciais aos pobres.”
Ele reafirmou que praticantes da Teologia da Libertação foram sistematicamente martirizados, ao longo de mais de 20 anos por forças apoiadas pelos EUA, que tentavam evitar que nações latino-americanas instalassem governos socialistas em benefício de seus próprios povos, contrariando interesses norte-americanos.
“Os Estados Unidos declararam e lutaram uma amarga, brutal e violenta guerra contra a igreja,” disse Chomsky. “Se existisse imprensa livre, é assim que representariam a historia.”
Ele explicou que os EUA apoiaram a “posse de governos e instituições ditatoriais com estilos neonazistas”, como parte de uma guerra que finalmente terminou em 1989 com a morte de seis jesuítas e duas mulheres na Universidade da América Central por tropas salvadorenhas.
Chomsky disse que aquelas tropas foram treinadas pelo governo norte-americano na Escola Kennedy de Guerra Contra a Insurgência, e agiram sob ordens oficiais do comando salvadorenho, que mantinha uma relação próxima com a embaixada norte-americana.
“Eu nem tenho que atribuir isso ao governo,” disse ele. “Já é aceito. A Academia das Américas, que treina oficiais militares latino-americanos – basicamente assassinos – um dos seus pontos de discussão é que o exército norte-americano ajudou a derrotar a Teologia da Libertação.”
O Papa Francisco, um jesuíta argentino, tem feito gestos simbólicos para uma nova aceitação da Teologia da Libertação na Igreja, depois de anos de condenação por suas aspirações políticas pelos papas João Paulo II e Bento XVI.
Seu recente Evangelii Gadium – ou Alegria do Evangelho – foi visto por muitos como um ataque ao capitalismo e economia de mercado livre, mas Chomsky acredita que até agora o Papa não transformou suas palavras em ações.
“Gosto do fato de que o discurso mudou, e de que há uma melhora na discussão sobre justiça social, mas temos que ver se isso chegará ao ponto de as pessoas se organizarem e insistirem por seus direitos percorrendo o caminho da opção preferencial pelos pobres, ou seja, de levar o Evangelho a sério.”

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Jornal Popular divulga: Onde é melhor para ser jovem

Vulnerabilidade

Onde é melhor para ser jovem

Índice com diversos fatores que interferem na Juventude aponta Sul do Estado como melhor região
Pedro Palazzo13 de dezembro de 2013 (sexta-feira)
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A Região Sul de Goiás concentra cinco dos dez municípios com melhor Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ). Já as regiões Leste e Norte têm sete das dez piores cidades para pessoas entre 12 e 29 anos. O indicador foi desenvolvido pelo Instituto Mauro Borges (IMB) a pedido da Superintendência da Juventude da Secretaria de Estado de Articulação Institucional e mede sete subindicadores: incidência de gravidez na adolescência, renda, nível de instrução, frequência escolar, inserção precária no mercado de trabalho, atividade de estudo e/ou trabalho e vítimas da violência.
Caçu é o município onde os jovens são menos vulneráveis, de acordo com o estudo. A pesquisadora Juliana Dias Lopes, que participou da elaboração, afirma que o fator economia foi o principal responsável pela colocação. A localidade abriga usina de cana-de-açucar, o que infla os números de emprego e renda entre os jovens. Também é a renda que eleva a capital à segunda posição no ranking dos dez melhores colocados no IVJ.
Por outro lado, Pirenópolis, um dos principais destinos turísticos de Goiás, tem o décimo pior índice entre os 246 municípios do Estado. E é justamente por ser um polo atrativo de pessoas que a cidade está tão mal. “Isso acontece por causa da violência. Quando acontece acidente, por exemplo, o registro é feito lá”, explica Juliana Lopes. São Domingos, no Norte, tem o pior IVJ - por ter as piores renda (R$ 257) e formação escolar para jovens - de Goiás.
O índice foi construído com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e registros de violência feitos pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO). Todos os números são de 2010. Os autores do estudo alertam para “a dificuldade de obtenção de dados relativos à violência”. O subdimensionamento ocorre porque nem sempre um ato criminoso - como furto ou lesão corporal - é registrado.
ANTERIORES
O gerente de Estudos Socioeconômicos e Especiais do IMB, Marcos Fernando Arriel, afirma que estudos anteriores elaborados pelo órgão e por outras entidades já apontavam o rumo. Caçu, por exemplo, é destaque em desenvolvimento humano e econômico. “A renda e a formação da mão de obra são significativas. Quase todos os índices de lá têm melhor desempenho que outros e praticamente não há violência”, afirma o pesquisador.
O superintendente da Juventude da Secretaria de Estado de Articulação Institucional de Goiás, Leonardo Felipe, afirma que o estudo será utilizado no desenvolvimento e aperfeiçoamento de políticas públicas para os jovens goianos.

Jovens em Caçu destacam emprego e dedicação

(Maria José Silva)13 de dezembro de 2013 (sexta-feira)
Fernando Ferreira de Castro mal atingiu a maioridade e já definiu os próximos passos do seu destino. Morador de Caçu, município apontado como o de menor índice de vulnerabilidade juvenil pela pesquisa do Instituto Mauro Borges, ele trabalha durante o dia como gerente de uma empresa de produtos agropecuários localizada na cidade. À noite, faz o curso de Geografia no campus da Universidade Federal de Goiás (UFG) de Jataí. “Pretendo me formar, ser professor, fazer mestrado na área e ajudar minha família”, pontua. Para alcançar seu sonho, percorre, todos os dias, de ônibus, cerca de 250 quilômetros para ir e voltar de Jataí. Fernando é empregado há mais de um ano na empresa de produtos agropecuários.
A dedicação ao trabalho também faz parte do cotidiano de Jéssica Luíza Sousa Nunes, de 17 anos. Há cerca de um ano e meio ela exerce a função de atendente de caixa em um estabelecimento comercial de Caçu, onde mora. A jovem concluiu o Ensino Médio neste ano, em uma escola da rede pública da cidade e tem convicção de que quer fazer o curso de Psicologia em uma unidade da UFG localizada sem Mineiros ou em Jataí. “Quero me formar e poder dar a minha contribuição à sociedade.”
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Sul de Goiânia tem o melhor índice na região

13 de dezembro de 2013 (sexta-feira)
A região Sul de Goiânia - com destaque para os setores Oeste, Bueno e Marista - tem o melhor Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) da região metropolitana da capital. Áreas de Trindade, a Região Noroeste da capital e Cidade Livre, em Aparecida de Goiânia, têm o pior desempenho.
A capital e as cidades que a circundam foram divididas em 68 áreas de ponderação, devido aos cenários distintos que podem ser encontrados no local.
Os pesquisadores do Instituto Mauro Borges (IMB) criaram outro índice específico para regiões subdivididas em mais de uma área de ponderação. A fórmula foi aplicada na região da capital e no Entorno do Distrito Federal, que teve áreas de Valparaíso de Goiás entre as melhores e áreas de Águas Lindas entre as piores.
“VÁRIAS GOIÂNIAS”
O superintendente de Juventude da Secretaria de Estado da Articulação Institucional de Goiás, Leonardo Felipe, responsável pela encomenda do estudo, afirma que os resultados são preponderantes para a elaboração de políticas públicas.
“Temos várias Goiânias. A do Setor Bueno não é a mesma da Vila Mutirão”, afirma.
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Educação é destaque entre os melhores

13 de dezembro de 2013 (sexta-feira)
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil goiano mostra que a média dos 246 municípios foi 41,12 numa escala de 0 a 100. Quanto mais próximo de zero, melhores são os fatores de relacionados aos jovens. A análise foi divida em cinco grupos, dos menos aos mais vulneráveis. A maior renda média per capita de jovens no grupo melhor qualificado é de R$659,22. A proporção média do número de pessoas de 25 a 29 anos que completaram o ensino fundamental ou etapa superior era, em 2010, de 70,32%. “Constatou-se, neste grupo, a maior proporção de jovens de 15 a 17 anos que frequentam a escola, 85,12%”, revela o estudo.
De acordo com os técnicos, os dados “mostram que este grupo de municípios proporciona a seus jovens as melhores condições de formação e inserção no mercado de trabalho, ou seja, uma baixa vulnerabilidade juvenil.” O grupo 2 tem vulnerabilidade considerada média-baixa.
“Isto ocorre pois, em média, esses municípios possuem uma renda consideravelmente inferior que a renda dos municípios do primeiro grupo. Porém, a queda em outras variáveis como formação e trabalho formal é pequena em relação ao grupo que apresentou os melhores dados no presente estudo.”
Os elaboradores consideram o terceiro grupo de média vulnerabilidade. “Em relação aos quesitos renda, formação escolar e trabalho formal os índices constatados neste grupo se aproximam mais do segundo que do quarto grupo. Já o grupo 4, de vulnerabilidade alta, tem queda dos índices de renda, instrução e trabalho formal em relação ao terceiro grupo. O quinto grupo é composto por “municípios que oferecem uma condição de vulnerabilidade altíssima para seus jovens.” Pesa para isto baixos índices de educação, emprego formal e renda.

Fonte: O Popular.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Rede Social de Justiça e Direitos Humanos


Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Adital ADITAL


03 Dezembro 2013
Relatório Direitos Humanos no Brasil 2013
(Relatório em eBook)ou (Relatório em PDF)
Introdução
Terra, trabalho, educação, saúde e comunicação são alguns dos direitos abordados pelos autores da14ª edição do Relatório de Direitos Humanos no Brasil 2013. Os protestos que levaram multidões às ruas a partir de junho e os projetos de leis que causaram polêmica neste ano, como o PL da terceirização e o de mídia democrática, são exemplos de assuntos da edição de 2013 do livro da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
Terra
Os enormes subsídios governamentais que sustentam o agronegócio geram violência no campo, fome e destruição ambiental: "observam-se claramente os ciclos ascendentes dos preços dascommodities das terras, o relançamento do crédito rural subvencionado e, principalmente, o orquestrado desmantelamento dos órgãos públicos encarregados da regulação da estrutura agrária”, afirma o economista Guilherme Delgado. Ainda segundo ele, o preço da desregulação é o "recrudescimento do trabalho similar à escravidão, dos desmatamentos e das queimadas em grandes proporções”.
A crítica à expansão do agronegócio é tratada também no artigo de Maria Luisa Mendonça. Para a diretora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, a difusão da ideia de "crescimento” econômico, que permanece na atualidade, "serve para esconder a dimensão que a crise mundial toma no Brasil, que se expressa na concentração de capitais no campo e no movimento de capitais financeiros que migram para o setor de commodities”. Já o pesquisador Fábio Pitta concentra sua crítica na expansão da agroindústria canavieira, que a relaciona com a crise econômica mundial e seus impactos. Em comum, os três artigos falam da acentuação da precariedade nas condições de trabalho no campo.
Sobre a repressão contra movimentos sociais no campo, o secretário da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra Antônio Canuto narra os crimes da Santa Bárbara Xinguara S/A. Ele exemplifica a violência de grupos econômicos no Pará que expulsam comunidades camponesas de suas terras, assassinam trabalhadores rurais e grilam terras públicas. O advogado Roberto Rainha narra a saga dos quilombolas de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais. Após muitos anos de resistência, eles receberam em outubro a notícia de que o Incra havia emitido a posse de cinco áreas retomadas por eles, restando agora a conclusão do processo de titulação destas.
Larissa Mies Bombardi, professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), afirma que os impactos do uso de agrotóxicos fazem mais vítimas do que os conflitos no campo: "De 1999 a 2009 houve 1.876 casos de morte por intoxicação por agrotóxicos, ou seja, uma média de 170 por ano, ou uma a cada dois dias”.
Entre as vítimas dos agrotóxicos estão também "seres ainda em gestação no útero materno, bebês e crianças que, submetidos a uma dose alta e variada de agrotóxicos, precisam alterar suas rotinas de forma drástica e percorrer hospitais e ingerir remédios em vez de brincar ou ir à escola”, de acordo com Susana Salomão Prizendt e Benjamin Prizendt, ambos da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. O uso de agrotóxicos, juntamente com os transgênicos, fertilizantes e demais insumos químicos, impede a produção de alimentos saudáveis e a agroecologia, defendida pelos movimentos da Vía Campesina. Os impactos do modelo do agronegócio para a agricultura camponesa são descritos no artigo de Cleber Rodrigues Folgado, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
"Tocar em questões de terra e de trabalho no Brasil é mexer em um vespeiro, com reações rápidas e violentas do setor patronal envolvido no crime. O mundo empresarial, que tem suas raízes ou tentáculos em interesses no campo, reage duramente e possui seus representantes em diversos setores da sociedade e do Estado”, segundo o artigo do coordenador do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ricardo Rezende Figueira.
É o que também acontece com os direitos dos indígenas. O artigo de Patrícia Bonilha e Renato Santana, assessores de imprensa do Cimi, trata do poder da dita bancada ruralista e do desregrado crescimento de propostas e medidas legislativas e executivas do Estado visando a desconstrução de direitos legitimamente adquiridos – e ainda longe de serem efetivados.
Políticas públicas
Com relação ao mercado de trabalho no Brasil, o diretor técnico do Dieese Clemente Ganz Lúcio avalia que houve "forte geração de emprego, criando vínculos de trabalho formais, com melhores salários e redução do tempo de espera por um novo emprego na última década. Mas esse dinamismo não conseguiu eliminar as desigualdades de gênero, ainda muito presentes no mercado de trabalho brasileiro”.
O livro mostra ainda avanços e contradições em relação ao direito à educação, conforme apontam Mariangela Graciano e Sérgio Haddad, pesquisadores da Ação Educativa. Embora "não existam estudos nacionais que indiquem a proporção de estudantes oriundos de escolas públicas em universidades públicas, uma pesquisa sobre o ingresso e permanência na Universidade de São Paulo de estudantes que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas ilustra a relação entre educação básica e ensino superior público: dos 113.793 inscritos no vestibular da Fuvest em 2010, os estudantes de escola pública representaram 26,6%”.
Para que as políticas públicas possam ser realmente universalizadas, é necessária uma mudança no sistema tributário brasileiro, conforme defende a assessora de projetos da Christian Aid no Brasil Ana Cernov Rocha. Segundo Rocha, "os gastos públicos são importantes para garantir direitos, e isso só pode ser feito com um eficaz controle social sobre como é elaborado o orçamento e como são arrecadados e aplicados os impostos”.
Na pauta dos movimentos sociais estão também os desafios para garantir o direito à verdade, memória e justiça. Os debates no âmbito da Comissão Nacional da Verdade são analisados no artigo de Renan Quinalha e Tatiana Merlino.
Protestos
Os protestos, que a partir de junho de 2013 levaram multidões às ruas, foram analisados neste relatório em três artigos: o de Rodolfo de Almeida Valente, "Violência urbana e resistência popular na era da grande marginalização”, destaca a repressão brutal aos levantes, que ilustra o papel determinante do sistema penal na construção da violência urbana. Para Aton Fon, a exposição do tratamento militar dispensado ao direito de manifestação resultou na solidariedade generalizada aos manifestantes e na admissão do direito humano de expressar livremente suas convicções e pleitos.
Já Sivaldo Pereira e Douglas Moreira, do Intervozes, fazem uma análise comparativa de como a mídia, tanto a tradicional como a alternativa – em especial via internet –, noticiaram a onda de protestos que se espalharam por todo o Brasil. Eles tratam também do debate sobre a necessidade de se criar uma Lei Geral de comunicação, capaz de tornar o setor mais democrático. O Projeto de Lei da Mídia Democrática, como ficou conhecido, foi lançado em maio. Entre seus vários pontos importantes, destacam-se "a previsão de mecanismos para ampliar a diversidade e impedir o monopólio e os oligopólios nos meios de comunicação, cotas para a produção regional e independente, processos mais transparentes e participativos para a distribuição das concessões e reserva de 33% dos canais para emissoras públicas e comunitárias”.
A luta pela aprovação do Marco Civil da Internet com neutralidade, privacidade e garantia da liberdade é analisada por Sérgio Amadeu, do Conselho Científico da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura. Amadeu aponta as empresas de telecomunicações como um dos setores contrários à regulamentação, para que possam "ter um poder econômico, cultural e político maior do que já possuem”.
Outro tema da atualidade, abordado por Paulo Illes e Cleyton Borges, revela que os imigrantes continuam sendo tratados como politicamente invisíveis. Embora tenham ocorrido pequenos avanços em relação à política migratória, como a criação de uma Coordenação de Políticas para Migrantes na cidade de São Paulo, o Brasil segue atrás de países como Equador e Argentina em relação à garantia dos direitos de imigrantes – mesmo que São Paulo seja a cidade sul-americana que mais recebe estrangeiros de diversas partes do mundo.
Saúde
No contexto latino-americano, o Brasil também fica atrás da Venezuela e da Argentina no que diz respeito aos direitos das gestantes em parir com dignidade, como mostram Cristiane Kondo e Lara Werner, ambas da Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa. O artigo trata da violência obstétrica e sua configuração no Brasil. Além de o país ter um dos maiores índices de cesarianas do mundo – grande parte delas desnecessárias ou eletivas –, o sistema de saúde, tanto público como privado, muitas vezes não garante à mulher o direito a um acompanhante e executa diversos procedimentos que causam dor e humilhação, embora sejam desnecessários, como é o
caso da episiotomia.
Dados impressionantes revelam que 23.652 crianças menores de um ano morreram em 2010 devido a doenças contraídas no período perinatal. Especialistas avaliam que tal índice pode sofrer drástica redução caso se tenha uma equipe de Saúde da Família cuidando da saúde daquela população. Analisando os dados referentes à saúde no Brasil, sob a ótica do artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Thiago Henrique dos Santos Silva contextualiza a necessidade do Programa Mais Médicos. Ainda sobre o direito à saúde, Yanina Stasevskas relata os desafios da luta antimanicomial, que, segundo ela, combate todos os muros que sejam autoritários. "A bandeira antimanicomial se firmou na direção de uma compreensão de que todos os arbítrios do poder contra a pessoa estão interligados”, diz a autora.
Um tema original no livro este ano é lembrado pelo fotógrafo João Ripper, que defende: "tão importante quanto denunciar é mostrar a beleza das populações que sofrem esse enorme processo de censura, de exclusão e, portanto, de segregação, de estigmatização através da violência, da marginalização e da criminalização”. Ripper nos proporciona ainda belíssimas fotos que anualmente ilustram este livro e que registram a luta dos movimentos sociais no Brasil nas últimas décadas.
A edição de 2013 do Relatório Direitos Humanos no Brasil presta homenagem a todos que lutam e se solidarizam com essa história de garra e coragem por transformação social. Agradecemos a colaboração de todas as entidades e autores que tornaram possível a continuidade deste registro, que representa uma construção coletiva.
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Leia o Relatório na íntegra (PDF).

RELATÓRIO DIREITOS HUMANOS 2013

Reju - Carta Salvador


Adital
Nós, juventude ecumênica, participantes da REJU, estivemos reunid@s para o Encontro Nacional em Salvador/BA de 05 a 08 de dezembro do ano de 2013 na sede da CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço."As conexões em rede e a garantia de direitos das juventudes" foi o tema que nos guiou durante esses quatro dias. Para a atividade, recebemos o apoio da CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviço, da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço e da ICCO - Cooperación.
O Encontro Nacional teve como objetivo: i) vivenciar a experiência de ser rede ecumênica pela promoção dos direitos das juventudes; ii) partilhar as diferentes experiências das regionais da REJU, buscando um maior conhecimento das realidades da rede e a possibilidade de diferentes articulações; iii) refletir sobre a conjuntura atual, a partir das realidades de juventudes, pautando a incidência política e a garantia de direitos; e iv) celebrar uma mística da acolhida, da valorização e do respeito, na superação das intolerâncias.
A escolha de Salvador como sede do encontro deste ano, teve como intenção o fortalecimento e a ampliação da atuação da rede no Nordeste, especialmente na REJU-BA. Além disto, também existiu o desejo de ampliar os diálogos e parcerias com outras redes e movimentos deste contexto, incluindo as conexões e interações realizadas em outras regionais, como as parcerias com a Pastoral de Juventude (PJ-ICAR), a Pastoral de Juventude do Conselho Latino-Americano de Igrejas (PJ-CLAI), a Marcha Mundial de Mulheres, o Levante Popular da Juventude, a Igreja Batista de Nazareth e Aliança de Batistas, a Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (REPROTAI) e o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE).
Nós jovens, tivemos a possibilidade de partilhar as experiências e a atuação da REJU, por meio das tendas regionais; e a oportunidade de participar dos vivenciais celebrativos e da biodança. Em todos os nossos passos e inquietações, a espiritualidade se fez uma presença. Em cada Encontro Nacional, celebramos as nossas utopias e histórias em comunidade, guiando-nos pelos ventos que nos envolvem e nos conduzem aos sonhos e ações diárias que buscam uma casa-comum realmente justa, casa de todas as gentes.

Quanto aos desafios das juventudes e incidência política na garantia de direitos, partilhamos nossas perspectivas. O enfrentamento à violência contra a juventude negra, a desmilitarização da polícia, o patriarcado, a homofobia, a intolerância religiosa, a democratização dos meios de comunicação, a luta do povo negro e as "jornadas de junho” foram temas pontuais e importantes levantados em nosso encontro. Como destaque, sinalizamos que as intolerâncias e injustiças ferem a nossa casa-comum e são estruturadas a partir de um tripé: patriarcado, racismo e capitalismo. Junto a isto, apontamos a ambiguidade das experiências religiosas, que podem tanto legitimar estas intolerâncias e injustiças que estruturam a nossa sociedade, como podem trazer caminhos para a promoção de direitos e a construção de outros modos de viver, guiando-se a partir de distintas espiritualidades, como temos vivenciado nas experiências enquanto REJU, em um movimento: anti-patriarcado, anti-racismo e anti-capitalismo.
Para nós, esta articulação acontece a partir de nossa organização em redes. Outro diálogo que realizamos em nosso Encontro Nacional. O desafio posto a partir das novas configurações da sociedade e da ação política, passa pela capacidade de se articular lutas particulares com eixos de convergência e unidade; pela procura permanente de uma organização sustentada na horizontalidade, valorizando as conexões entre as pessoas, a lógica descentrada, a multiliderança, com outras comunidades de pertença e outras narrativas. O trabalho em rede mostra-se como uma capacidade de colocar comunidades e vivências de espiritualidade distintas, mas conectadas, na luta e promoção dos direitos das juventudes.
Com estas perspectivas, nos reunimos em regionais para avaliarmos as ações realizadas em 2013 e planejarmos o ano de 2014, revisitando e reafirmando os quatro eixos de atuação propostos para o biênio 2013/2014, sinalizados na "Carta de São Paulo”: 1) Juventude e Equidade de Gênero; 2) Juventude e Superação de Intolerâncias; 3) Enfrentamento à violência contra a juventude negra; e 4) Juventude e justiça socioambiental.

Por fim, celebramos e partilhamos a vida! Jovens de distintas experiências religiosas que se encontraram com o objetivo de ser rede na garantia dos direitos das juventudes, buscando interfaces com outros agrupamentos juvenis e sociais, sonhando outros mundos e lutando, a partir das distintas vivências de espiritualidade, pela justiça – o pulsar de nossa fé.
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
Salvador, 08 de Dezembro de 2013.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Centro de Juventude Cajueiro divulga planejamento 2014/2015


 
 

O Centro de Juventude Cajueiro organiza seu plano de trabalho para o ano 2014 e 2015. Ele é fruto de diversos encontros com pessoas colaboradoras de diversos locais, de reflexões e de uma mística que alimenta este caminho. Temos consciência que o caminho é novo, mesmo que o ritmo da caminhada está firmada na história de 30 anos de compromissos com a vida da juventude.

Um caminho novo, frágil, acampados debaixo de uma árvore, que está fincada à beira de rio de amizade e compromisso com a vida, por isto, suas raízes são fortes, seus frutos saborosos. Uma associação de pessoas que acreditam na organização dos/as empobrecidos/as e assumem em sua história o/a jovem como protagonista, os princípios da educação popular, a defesa dos direitos humanos, a construção a partir da diversiddade.

Avaliado o caminho percorrido, começamos a sonhar com os próximos dois anos. Uma clareza: construir o Centro de Juventude Cajueiro com atenção à vida da juventude, de modo coletivo e participativo.

A pessoa e seus projetos de vida, o grupo e sua dinâmica, a organização do centro estarão presentes em nossa dinâmica de 2014/2015. O pé no chão é a meta, por isso, pensar dentro das possibilidades e com parceiros que assumem conosco. Construir equipes com atores/atrizes  dispostos/as a caminhar com liberdade de profissionais militantes que assumem a trajetória comunitária em tempos de isolamento.

O Centro de Juventude Cajueiro está organizado em três eixos estruturantes: a formação, a assessoria e a pesquisa. Cada um destes eixos possuem dois campos, assim organizados: FORMAÇÃO: comunitário e Políticas Públicas; Assessoria: com parceria de nossos projetos e acompanhar os processos próprios do grupo que solicita; Pesquisa: a investigação e a sistematização das experiências. 

 
Programa de Formação de Lideranças

Projeto Comunitário

a)      Formação de Educadores/as

b)      Na Trilha de Formação de Educadores/as – Civilização do Amor

c)       Na Trilha de Formação de Lideranças – grupo de jovens

d)      Re-encantar a esperança – estudo bíblico da ótica juvenil

e)      Missão Aprender – Intercâmbio

f)       Seminário de Educação Popular e Juventude

Projeto das Políticas Públicas

a)      Na Trilha das Políticas Públicas

b)      Projeto La Abuela - Preuni – Formação de jovens empobrecidos para acessos a universidade, na perspectiva da educação popular.

 

 

Programa de Assessoria

Projetos do Centro de Juventude Cajueiro

a)     Formação de Lideranças “Viver os Sonhos”

b)    Formação de Educadores/as – (Município de Uruana/GO)

c)     Escola de Educadores/as de adolescentes e jovens. Iguatu/CE

 

Projetos dos grupos solicitantes da assessoria para seus processos

a)      Irmãs Missionarias de Cristo;

b)       Irmãs de Jesus Crucificado,

c)       Pastoral da Juventude em diversos âmbitos

 

Programa de Pesquisa

Projeto de Pesquisa sobre a condição Juvenil em Goiás

a)      Pesquisa financiada pela FAPEG, em parceria com a UFG (Universidade Federal de Goiás)

Projeto de sistematização das experiências

a)      Registro das experiências realizadas, retomar os projetos já publicados para publicação (impressão ou virtual).

A organização e a mística são elementos que nos sustentam e sustentarão no caminho, tendo como referências os princípios da educação popular. Estamos propondo inicialmente quatro equipes – 1) Formação de lideranças, 2) comunicação e publicação, 3) sustentabilidade e 4) pesquisa.

 
Será apresentado para o ano o calendário das atividades e, ainda um folder de divulgação do Centro de Juventude Cajueiro. Convidamos as pessoas interessadas em uma ação junto ao mundo juvenil para se juntar a nós e aos projetos que estamos propondo.

O desejo é que o Centro de Juventude Cajueiro seja espaço para colocar em prática nossas habilidades e talentos, ou seja, o modo a realizar Projetos de Vidas nossos e da juventude.  Por isto, quem deseja fazer sua adesão para prestar um serviço à  juventude e a causa popular pode associar-se a um projeto ou ainda colaborar financeiramente. Diga: Sou Cajueiro contribuindo nos projetos ou com contribuições financeiras afim de fortalecer o grupo na construção de “um outro mundo possível e necessário”.

Você que deseja informações nos escreva:

centrojuventude@cajueiro.org.br para maiores informações sobre o nosso projeto;

soucajueiro@cajueiro.org.br para ser sócio colaborador/a em algum dos projetos;

livraria@cajueiro.org.br para solicitar livros, material, camisetas.