sexta-feira, 21 de junho de 2013

O efeito moral

Carmem Lucia Teixeira[i]
20 de junho de 2013. Acabei de chegar em minha casa. Estava com um grupo do CAJUEIRO (um Centro de Formação e Assessoria, especialmente direcionado à juventude)  na manifestação por um Brasil melhor, no centro de Goiânia. Impressionante!  Um momento histórico na vida deste nosso país. A quantidade de jovens e o modo de manifestar são novos.

Lembro-me de ter participado de diversas manifestações, de campanhas eleitorais como foi, por exemplo, a do Lula de 1989, o  Fora Collor, entre outras. Nada se compara... Há uma solidariedade no ar! As pessoas, em sua maioria, estão por grupo. Foram convocadas pelas redes sociais para sair para a Rua, por isto move-se em Rede.

O que moveria, desse jeito, o povo para as ruas?  O governo de Goiás já recuara antes da manifestação começar. Já determinara a volta do valor da passagem.  Nada disto acomodou o povo. A iniciativa de caminhar e estar na rua tinha sentidos mais profundos. No caminho íamos cumprimentando e sendo cumprimentados: parecia que todos se conheciam.

As manifestações têm um caráter de rede com vários pontos. Inclusive com carros de sons espalhados. O mais interessante são pessoas organizadas em pequenos grupos, cada uma com seus cartazes. Fiquei pensando no movimento de preparação para o ato. É preciso decidir a frase, a letra e a forma como este grito será dito.
Quando as  vozes se fazem ouvir,  dá a impressão que o povo saiu das redes sociais e ocupou as ruas. Varias pessoas postando suas mensagens; pessoas fotografando, ou curtindo. Alguns param nas ruas, outras andam. Todo o centro de Goiânia foi palco para o grupo se apresentar.

As instituições também se manifestaram: cancelou-se o ato publico de celebração do PT com a vinda do Lula; o Estado dispensou todos os funcionários ao meio dia; a policia fechou a Assembleia Legislativa  ao meio dia e reuniu-se com suas lideranças no dia anterior para informar sobre a operação do dia no manifesto. Havia, no terminal da Praça da Bíblia, próximo de minha casa, dezenas de carros da polícia.  Toda a Praça Cívica cercada com um cordão humano de policia.  O que significa tudo isto? Uma maioria de jovens que saem de casa pela primeira vez ocupam as ruas. Alguns, na manifestação, diziam: “É a primeira vez, estou tremendo de medo”. Porém, permaneciam na manifestação. Enfrentar o medo, sair às ruas, manifestar suas opiniões, lutar por várias causas. Um movimento político porque traz as causas que são de todos/as: transporte, educação, saúde, combate à corrupção e tudo que o povo sabe...

Estar neste movimento e viver a emoção de ver os/as jovens, em sua maioria quase absoluta, na rua, e  sentir a consciência da força popular nenhum livro,  nenhuma escola tem possibilidade de oferecer. É, de fato, uma mega-aula de cidadania. Há cheiros de primavera, com várias flores brotando.

Tudo isto que estamos vendo, não nasce do nada. Foram quantas conferências: Direitos Humanos, Juventude, diversidade, saúde, assistência, educação.... Assim como  não podemos esquecer os Fóruns Sociais Mundiais, a Cúpula dos Povos, os Encontros de Formação dos Movimentos Sociais, o Movimento Estudantil... E digo, com esperança, que a formação oferecida pelo CAJUEIRO, ofereceu também, sementes para plantar este movimento de sair de si, para enxergar o mundo.  Isso alegra o coração.




[i] Socióloga, pesquisadora em juventude, da coordenação do Cajueiro.

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