quarta-feira, 4 de maio de 2016

O dia e o tempo Pascal exige uma carta: Querido Lourival - Luis Duarte





Querido Lourival,

O dia e o tempo pascal que vivemos me convida a te escrever. Confesso que é estranho pensar que irei ao CAJUEIRO e não te encontrarei mais. É estranho ter que aprender a lidar com sua ausência física. É claro, você nunca morrerá em nós e nas causas que assumimos. Mas, preciso dizer que sua ausência é sentida.

Sei que sabes, mas quero lhe contar algumas coisas que vivemos ontem em seu velório, na grande festa da ressurreição. De fato, por mais estranho que pareça, vivemos uma festa. A grande festa da ressurreição. A grande festa das causas e da doação.

Depois de ficar sabendo de sua páscoa, entre vários amigos que avisei, falei com o mano Jean. E meu dia foi marcado pela presença e amor do mano que me cuidou e me ajudou a organizar o ODJ. Um gesto simples para ajudar os grupos de jovens a rezarem sua Páscoa para que a missão siga sempre mais viva e forte.  Logo em seguida, partimos daqui de Rio Verde, em meio de choros e abraços, eu, Karlos, Hellen, Alessandro, Edina, Luiz Rogério e Júlio. Foi uma viagem cheia de silêncios, memórias e partilhas.

Já na chegada era impressionante o número de amigos/as ali reunidos/as. Foi uma festa com tanta gente... De tantos lugares... Com tantas histórias... Sua vida e sua doação reuniu tantos/as amigos/as e familiares na despedida e envio. Até a Vanildes, lutando forte contra o câncer, estava. Sei que a abracei e chorei junto. A Flor, uma das mais novas em nosso meio, estava com seu sorriso e seu olhar carregado de horizonte. A Quel em olhar longe, carregado de memória... Quim, lembrando que você sempre questionava o projeto de vida... A Alessandra, a quem você tanto incentivou e cuidou, mesmo com a perna machucada estava lá... Até a Edina, vindo da missão na África... É claro que faltou muita gente que estava longe, mas muito perto e próximo. Hilário, do RS, nosso mestre e avô, dizendo-nos em meio de choros e rezas que sua vida é uma surra de esperança... Sei que o avô chorou. Ainda bem que a mana Pati estava lá cuidando dele. Mirim e Mercedes lá em São Félix sonhando e organizando a  Romaria dos Mártires.. O Guigo, recordando sua ajuda no ICJ e sua amizade... O povo da PJ espalhado pelo país todo... Seus inúmeros alunos/as e tantos/as jovens assessorados por você... Todos/as num amor sem tamanho, celebrando junto a doação de sua vida...

Em meio aos choros e abraços, sua memória nos unia e nos comprometia. Você jamais morrerá em nós. Porque, muito do que somos se deve a você. Na recordação da vida, foi impressionante (e fez todo mundo chorar) o número de pessoas que narravam as memórias que guardavam de você.  Foi de arrepiar escutar uma vovozinha dizendo de como você foi importante na vida de seus netos e filhos e que por isso ela estava ali com o coração agradecido.

Todos choraram quando a Cida disse forte: “o Lourival me ensinou a ser gente. Com ele, eu aprendi a ser gente”. Como negar sua contribuição para que centenas de nós nos tornássemos autônomos/as e felizes?

Como negar o bem que sua vida fez na Pastoral da Juventude? Foi muito forte a presença de seu grupo de jovens RUACC. Impressionante a presença, a fala, o choro... Forte demais a presença dos amigos/as do Floris e Frutos... O choro de Azézio era o choro de tantos/as amigos/as que fizeste na PJ...

Na Eucaristia, presidida por Geraldo e Célio, junto de duas pastoras, todos/as comungamos do AMOR, na certeza da vida que rompe a morte. O choro de Geraldo e de Célio.  Entre cantos e choros, sua memória nos animava. Não dei conta de segurar as lágrimas com Claudinha, que tanto lhe cuidou, contando que você dizia: “Deus está me chamando para dormir!”. Como não chorar com a oferta de Rosas a ti, ao Ciron (seu amor e companheiro, que lhe cuidou e amou) e a sua mãe, Dona Abigair, que nos ofertou você...

Você pensou em tudo e todos/as... Escolheu a bata que desejava usar, reafirmando mais uma vez sua pertença ao povo latino, sendo sempre um goiano de pé rachado.  Escolheu os pés do Divino Pai eterno para acolher seu descanso eterno. É uma volta ao amor da infância... Até o por do sol foi lindo: um presente seu para nós. E um presente do Gisley, Floris, Albano, Wal, Raimundo, Deusdete, Julciene que te precederam no martírio e na eternidade amorosa. Sei que teve bonita festa no céu para te acolher. Eles também estavam na Eucaristia. Os senti.

O carroceiro que virou pesquisador (Miriam) .... O pobre que derrotou o capitalismo (Rezende)... O homem que me acolheu e sempre acolheu todos (alguém disse)... Gratidão, gratidão, gratidão (disse a Kelli)... E como não se emocionar com Marlúcia, sua irmã, falando?

Impressionante como sempre falavam de você, de Carmem e de Rezende juntos/as... Vocês marcaram a vida de tantos/as... Não posso deixar de mencionar esses dois amigos, mestres e amados/as. O coração doía ao ver as lágrimas dos dois... Também da Vanildes. Na verdade, doía demais ver o choro de todos. Mas, dizer de Carmem, Rezende e Vanildes é dizer de três pessoas imensamente amadas por ti e que te amavam demais... Mas, é dizer de como e do quanto vocês fizeram juntos/as... É claro, que juntos deles estão Edina, Alessandra, Marcelo, Willian, Berg, Geraldo, Claudinha, Arilene, Ciron, Kelli e tantos/as outros/as...

Abraçado no Marcelo, nos perguntamos: “e agora?” E agora? O que faremos? O que faremos sem o Lourival? Com o Berg conversei a mesma coisa, também no carro com o povo de Rio Verde... Já estávamos sem Wal, Floris, Albano e Gisley... O que faremos sem você? Você que sempre cuidou de todos/as nós também pensou nisso... Na véspera de sua Páscoa, pediu que seu sobrinho, um jovem, chamasse e Carmem. E você disse a ela, dizendo a todos/as e cada um/a de nós: “o projeto”. Sim Lourival, amigo e assessor, mestre e amigo, seguiremos com o projeto. Carmem escutou em nosso nome e respondeu em nosso nome: “o projeto vai continuar!”. O CAJUEIRO vai crescer e dar mais frutos. A causa da vida da juventude mais vez é assumida e re-assumida por todos/as nós. Você não morrerá meu amigo, porque sua vida que foi toda doação será sempre eternidade...

Em meio de mantras, que cantamos várias vezes ao longo do dia, devolvemos teu corpo à terra. As palavras ainda não mensuram tudo que sinto e sentimos. Sei que você não morrerá em nós amigo. Sei que a causa jamais terá fim! De minha parte, ainda preciso agradecer tudo que você foi e é em minha vida e em meu processo. Tanto poderia e devo dizer. Mas, deixo isso para a próxima carta. Não faltarão cartas amigo. Te amo. Te amamos! Ajude-nos a cuidar da juventude. Beije o Wal, o Gisley e o Floris por mim.

Beijos e abraços,

Luis Duarte

Um comentário:

  1. Lendo todas as manifestações de carinho durante todo o processo pelo qual o Lourival passou e agora as manifestações de saudades, me enche o coração de um sentimento inexplicável, sinto saudade de uma pessoa com quem tive pouco de convivência, quase nada, mas que foi e sempre será de uma vida, pois o que aprendi com ele, me anima e leva a seguir em frente acreditando no protagonismo juvenil e na presença da mulher na luta por políticas publicas, mas acima de tudo lutar pelo amor, pela humanização dos nossos jovens. Conheci o Lourival na preparação de um seminário sobre politicas para Juventude, com todo seu carinho e metodologia fomos construindo o seminário, por e-mail, telefone, zapi-zapi e por fim fizemos um belissimos trabalho com os jovens do campo e da cidade. Hoje jovens que participaram daquele momento estão engajados nos sindicatos, na luta pela terra, pelos seus direitos, a partir de um olhar carinho e crítico Lourival, deu esperanças e caminhos a aqueles jovens e a mim ensinou muito e continuará me ensinando através dos amigos e amigas que vem trazendo seus conhecimentos e lutas nessas lindas manifestação de amor. Obrigada pela vida doada e pelo amor plantado.

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