quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A POESIA DO SERMÃO DA MONTANHA - JOARA REIS








 A Bíblia está repleta de poesia. Quando falamos POESIA X BÍBLIA, logo vem à nossa mente Os Salmos e os Cânticos; isso talvez, porque, para nós, poesia é aquele texto que vem estruturado em forma de versos, estrofes, etc., Mas na verdade, muitos outros textos bíblicos estão impregnados de poesia. Assim é com o “Pai Nosso” e o “Sermão da Montanha”.
Presente tanto no Evangelho de Mateus (cap 5, versos 1-12) - repare que falo “versos” - quanto no Evangelho de Lucas (6,  20-26), o Sermão da Montanha se apresenta como uma verdadeira poesia.  Em Mateus, está explícito o termo “Sermão da Montanha” ou “Sermão sobre a Montanha”, isto porque, Mateus tinha a preocupação de mostrar Jesus como novo Moisés – Pois Moisés recebeu Os Mandamentos no Monte Sinai. Já em Lucas, Jesus simplesmente “ergue os olhos” para falar com os discípulos, tal qual um verdadeiro poeta, ao recitar sua poesia.

Jesus direciona seu discurso à multidão sedenta que o seguia (Lc 6, 17...). Gente simples, com sede, não só de pão e de Justiça, mas, de palavras que lhes curassem a alma. O escritor Augusto Cury, em uma de suas obras sobre a análise psicológica de Jesus, ele O chama de “poeta da vida”. E Ele era. Um exímio poeta, que falava as coisas certas, no tom certo, nos momentos certos. Percebia, com sensibilidade ímpar, as necessidades daqueles e daquelas que os seguiam. Daí minha tese de que Jesus, além de poeta, era um político. E seu discurso, em vários momentos, estava carregado de poesia. 

“TINHAM VINDO PARA OUVI-LO”... Jesus sabia que não poderia falar de qualquer jeito, nem falar qualquer coisa... daí ele compõe sua poesia.

Em Mateus, Jesus fala dos “pobres em espírito”, em Lucas, fala somente em pobres. Para a poesia, excluir uma ou outra palavra, faz muita diferença.

                     O poeta Jesus recita a verdadeira “contracultura”. Ele nos fala, de forma poética, que devemos ser diferentes. A poesia engloba um conjunto de valores e preceitos totalmente na contramão daquilo que dominava e que nos domina.
 
O principal recurso poético do Sermão da Montanha é o uso do paradoxo, da contraposição entre um termo e outro: 

- AFLITOS x CONSOLAÇÃO
- FOME E SEDE x SACIEDADE
- DESPOSSUÍDOS X HERANÇA

A poesia de Jesus nunca esteve tão atual quanto à forma de escrever e ao público receptor. 

Reescrevendo-a, peço licença ao poeta de Nazaré!

1.    Bem-aventurados os moradores em situação de rua...
Que sofrem, não só com a pobreza, mas com nosso preconceito... porque serão chamados a abraçar seus direitos e a lutar pelo lugar que  lhes são negados...

2.     Bem-aventurados os encarcerados, prisioneiros de um Sistema cruel e desumano... porque veremos neles, a concretude de uma Justiça Igual e igualitária, de um sistema prisional Humano e digno.

3.     Bem-aventuradas as mulheres... as negras, as lésbicas, as que sofrem violência doméstica e nos direitos de decisão de seus corpos... porque nelas, veremos as atitudes e lutas se reerguerem e formarem pilares de uma Nova Constituição!

4 - Bem-aventurados os homossexuais, as trans... que sofrem violência e desprezo da Sociedade e dos Legisladores... porque neles, veremos a força  necessária para se construir um Novo Tempo, de tolerância e respeito!

5- Bem-aventurados os umbandistas, os candomblecistas e todos e todas que professam outra crença... porque neles, veremos a paz do Sonhado Reino!

6- Bem-aventurados os jovens, negros, negras... porque com eles, construiremos a base de uma Sociedade Humana, Justa e Fraterna.

7- Bem-aventuradas são as crianças e adolescentes... Vítimas de abandonos, de pedofilia... Esquecidas em tudo... desde os seus direitos e garantias essenciais de vida e de Educação.. porque nelas, veremos a Reencarnação do que é Belo, Bom e Divino... Cerceado de Políticas Públicas e de Proteção e não de encarceramento.


8- Bem-aventuradas são as pessoas idosas, no corpo carregam marcas da História Vivida e da saúde fragilizada... Vítimas de maus tratos e desamor... Pois neles veremos a face sempre Terna de Deus, o Deus da Plenitude e da Vida em Abundância;

9- Bem-aventurados os povo indígenas... Tirados de suas Terras.. Dizimados... desrespeitados em sua cultura... Porque deles e com eles, veremos a Terra sem males... onde reine a Justiça de todos os Tupãs!

10-  Bem-aventurados são os grupos que resistem, que sonham e que lutam por um mundo melhor... livre do machismo, da Homofobia, da Xenofobia, da Intolerância Religiosa e de qualquer tipo de violência, seja ela, física, racial, politica ou ideológica... Por que com eles, veremos o Mundo de Deus, neste chão e neste agora.

Assim seja! Amém!


TEXTO PARA ENCONTRO DO GRUPO DE VIVÊNCIA ECUMÊNICA DE GOIÂNIA, EM 26.10.15 - JOARA REIS

 Foto - Carmem  (montanhas de El Salvador)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

RETRATO DO BRASIL - Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs





Em 1957, o sociólogo francês Roger Bastide publicou o livro Brésil, terre des contrates. A obra revelava forte sintonia com outros estudiosos da história brasileira, tais como Caio P. Júnior (História econômica do Brasil, 1945), Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala, 1933),  Raymundo Faoro (Os Donos do Poder, 1958), Sérgio B. de Holanda (Raízes do Brasil, 1936), Celso Furtado (Formação econômica do Brasil, 1959), Darcy Ribeiro (O processo civilizatório, etapas da evolução sociocultural, 1968)...

Um retrato vivo e recente de tais contrastes: de acordo com os dados mais recentes, verifica-se um recuo significativo da produção de veículos no Brasil em 2015. Economistas afirmam que a queda do setor automobilístico responde por cerca de um terço da retração econômica brasileira no ano em curso. As projeções da Anfevea (Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores), a qual representa as Montadoras, tampouco são animadoras. Segundo a entidade, a produção neste ano deve girar em torno de 2.585 milhões de veículos, 17,8% a menos que em 2014.

Em contraste com o setor automobilístico em geral, o mercado de carros de luxo em particular, deve crescer 18% neste ano de 2015. Três das Montadoras mais importantes instaladas no país – Audi, BMW e Mercedes-Benz – somam juntas a comercialização de 13.936 veículos, de janeiro a abril do corrente ano, em comparação com os 11.807 no mesmo período do ano passado. Contradições do mesmo teor, com toda certeza, poderiam ser encontradas no mercado imobiliário, nas compras e vendas relativas à alimentação e ao vestuário ou no setor das finanças. Na contramão da crise, sempre há quem tenha bons motivos para festejar!

Semelhantes contrastes no decorrer dos séculos, desde a Colônia até a República, passando pelo Império, revelam que o lema positivista da bandeira brasileira – ordem e progresso – na verdade mostra um tipo de crescimento anômalo e viciado. A tal ponto que os tempos de “vacas magras” para muitos se convertam em tempos de “vacas gordas” para poucos. Numa palavra, um crescimento seletivo, marcada e visivelmente seletivo. Tende a favorecer o pico da pirâmide social, em detrimento dos que habitam a base da mesma. Não é novidade para ninguém que, em tempos de crise, os bancos Bradesco, Itaú, Santander, HSBC, etc, em geral acumulam lucros extraordinários. A crise parece ser terreno fértil para a especulação financeira, ao mesmo tempo que joga ao desemprego e à rua milhões de trabalhadores com suas famílias.

Resulta que expressões como recessão econômica, PIB negativo, queda da bolsa de valores, alta do dólar, sobe e desce da taxa de câmbio – costumam ser vistos como sinônimos de crise. Mas, crise para quem? Certamente não para a minoria de 10% (porcentagem simbólica) que ocupa o extrato superior dos milionáros e bilionários brasileiros ou estrangeiros no país. Até porque, normalmente, os governos se dispõem a “salvar-lhes” as negociatas, com o pretexto de garantir a estabilidade da economia. Ao mesmo tempo, porém, “abandona a si mesma” a imensa maioria dos 90%  (porcentagem simbólica) que fazem parte dos extratos inferiores. Daí o círculo vicioso e perverso de uma política econômica que cria “ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres”, como alertava o então  Papa João Paulo II em meados da década de 1970, numa visita ao México. A crise é sistematicamente  repassada à população de baixa renda, frágil e indefesa.

Com isso, conclui-se que os “indicadores sociais” (trabalho e salário, saúde, habitação, educação, transporte público, segurança, saneamento básico, etc), e não os “indicadores econômicos” (PIB, bolsa de valores, valor do dólar, taxa de câmbio,etc.), devem consistir nos verdadeiros parâmetros para medir o grau e o alcance da crise.

Roma, 25 de outubro de 2015
imagem  - internet

Um novo caminho...até os lugares vitais da juventude!


Olá irmãos e irmãs de caminhada,

Depois de 5 anos escrevendo juntos sobre as cidades bíblicas no projeto de revitalização da Pastoral da Juventude latino-americana e com os últimos meses amadurecendo um novo caminho, nesse 30º Dia Nacional da Juventude, Luis Duarte
 e eu iniciamos um novo processo (na verdade, continuidade!) de reflexões mensais sobre os lugares vitais da juventude. Inspirados pelo Mestre e pelos seus lugares, agora é hora de ir até a juventude. Quem faz a experiência de Jesus não pode ficar parado! "Um novo caminho...até os lugares vitais da juventude" é o título do texto que enviamos hoje. 
Continuem nos acompanhando. Inicialmente enviaremos por e-mail e depois pensaremos outras formas de partilhar. 
Gratidão.
Luis e Pe. Maicon
 
eis o texto
Um novo caminho...até os lugares vitais da juventude!


Deixar de lado a ansiedade para olhar nos olhos e escutar...”
Papa Francisco

Deu saudade! Saudade de escrever e saudade de servir a juventude através da reflexão e da partilha. Por isso, nós, Luis e Maicon, nos sentidos enviados pelo Senhor a seguir o caminho que outrora nos levou as cidades de Jesus e que agora nos lança para os lugares da juventude. Quem faz a experiência de Jesus não pode ficar parado. Quem faz a experiência de Jesus sente-se sempre enviado a missão. É disso que estamos falando! Sentimo-nos enviados para os lugares vitais da juventude, pelo amor que sentimos por ela e por nos sentirmos amados pela comunhão da Trindade. 

Os dois discípulos de João Batista quando viram Jesus, começaram a segui-Lo. Quando Jesus os viu, voltou-se para eles e perguntou: - O que vocês estão procurando? Eles disseram: - Mestre, onde moras? Ele disse: - Venham e vocês verão! Eles foram e viram onde Jesus morava e permaneceram com Ele (Jo 1, 35-40). Os dois discípulos, assim, fizeram a experiência de um Deus que mora no meio do povo, junto das pessoas. Jesus, que veio nos mostrar o rosto humano de Deus, nos testemunhou um Divino que não se afasta do humano, que chora e sofre as dores do povo, que cuida as feridas e arma sua tenda nos porões da humanidade. E é somente encarnados/as no mundo juvenil que poderemos, de fato, ser a doação que desejamos e a qual somos enviados. É somente nessa doação que seremos quem realmente somos. É que estar com Jesus, estando com a juventude, nos devolve a nós mesmos e passamos a ser quem somos realmente. Estar com o Senhor e com a juventude liberta nossas amarras, pois, o projeto de Jesus é um projeto de libertação, ou seja, de vida abundante e feliz para todos/as (Jo 10, 10). 

É nessa certeza que faremos um caminho de saída de nós mesmos, rumo à juventude.  O Civilização do Amor – Tarefa e Esperança (1995) quando toca na questão dos lugares vitais dos jovens nos diz que “para apresentar de modo atraente e acessível à vida dos jovens, os ideais evangélicos, é necessário uma ação que leve em conta o lugar vital da juventude, ou seja, as situações nas quais ela vive em seu ambiente, em seu dia-a-dia.”

Essa é a Igreja, ou melhor, a eclesiologia do nosso papa Francisco que nos desafia para irmos até os lugares vitais, as realidades em que somos ladeados: “A Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, deixar de lado a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho” (EG 46). É um convite, diário e perene, a estarmos com os/as jovens em seus lugares vitais (CAPyM 466), penetrando em sua vida (CAPyM 469),

É com esse espírito que faremos esse caminho. Acreditamos e queremos ser uma Igreja em saída. Acreditamos e queremos ser uma Pastoral da Juventude não centrada em si mesma, muito menos auto referencial, mas voltada para a vida, para as alegrias, as dores, as angústias e as esperanças dos jovens. Queremos ir aos lugares vitais da juventude. 

O desafio inicial que colocamos é dialogarmos, rezarmos e pensarmos algumas atitudes e posturas de quem sai de si. Não é um sair por sair. É um sair para encontrar o/a outro/a e encontrarmos a nós mesmos nos/as outros/as. Por isso, algumas atitudes são necessárias... Depois, faremos a experiência dos lugares, dos encontros, das partilhas e da vida que brota da juventude onde ela está. Convidamos todos/as a rezar, viver e partilhar essa espiritualidade de ir aos lugares onde vivem as/os jovens no esforço de nos deixarmos fascinar, aproximar, escutar, discernir, converter e comover-se com a juventude. Vamos juntos e juntas?

Luis Duarte Vieira, estudante e professor de Matemática, militante da Pastoral da Juventude em Rio Verde/GO
Maicon André Malacarne, padre e assessor da Pastoral da Juventude da diocese de Erexim/RS.