Tem em comum a juventude e a jovialidade exuberantes, em plena
flor, ao lado de uma enorme vontade de divertir-se. Em lugar de arquitetar planos
de médio e longo pazo, procura viver de forma intensa e total o presente,
desfrutar tudo o que contém o “aqui e agora”. Conciente ou não, recicla o carpe diem. Estabelece relacionamentos,
sem dúvida, mas em geral evita fazê-lo de forma duradora ou comprometedora.
Melhor estar livre para eventuais e inesperadas oportunidades.
Muitos a batizam como “geração dos botões”, “geração.com”
ou “geração online”. Junto com os
primeiros passos e as primeiras palavras, familiarizam-se rápida e facilmente
com os aparelhos eletrônicos, absorvem de imediato as inovações tecnológocas da
informática, e passam horas navegando diariamente pelo oceano ilimitado da
Internet. Não ignoram os embates e dificuldades do mundo real. Às vezes até os
sofrem de modo mais vívido, amargo e agudo. Mas são, antes de tudo, cidadãos de
uma pátria virtual e sem limites.
Daí seu pouco engajamento em um patriotismo exacerbado ou
em um nacionalismo a ser defendido com unhas e dentes. Nada disso! Trata-se,
antes, de uma geração maciçamente urbanizada, constituída de distintas etnias e
nacionalidades, cosmopolita, aberta ao que chega dos quatro cantos do planeta e
à diversidade. Tolera, convive e mistura-se com outros rostos, outros povos,
outras culturas – permeável a novos valores e novas ideias. Além da pátria
virtual em comum, pouco a pouco erguem as bases de uma conviavilidade plural,
flexível, leve, mesclada e ansiosa por novas decobertas.
Simboliza tudo o que não pode suportar o fanatismo e o
rigorismo ético-religioso! O funtamentalismo ou totalitarismo, político,
ideológico ou religioso, se nutre de duas ou três “verdades absolutas”. A
partir destas, com o dedo em riste e a língua cortante como faca afiada –
quando não com punhos, gritos e armas – passa a aniquilar toda e qualquer forma
de crítica, interpretação ou visão diversificada. Cultiva um ódio visceral ao
pensamento livre e aberto, bem como à variedade de costumes e modos de ser.
Interna e externamente, o uniforme, a disciplina e a rigidez militar são-lhe
marcas registradas. Idolatra um deus igualmente rígido, pesado, inflexível e
implacável no julgamento. O outro, o
diferente e o estranho é por princípio “infiel” e deve ser pura e
simplesmente eliminado.
O encontro informal, a diversão sadia e saudável, o
prazer de estar juntos; a música, a luz e a dança; a descontração e o jogo
entre os sexos – tudo isso está definitivamente proibido. Não o tolera o deus
juiz, sério e sisudo, isolado e intratável, distante mas vigilante. De seu
tribunal celeste, em lugar de amor e misericórdia, emana uma série de “nãos”,
interditos à alegria e à convivência solidária, amiga, humana e fraterna. Daí a
“ordem” irrevogável de acabar com essa algazarra do “Bataclan”, ao mesmo tempo
lugar e símbolo da cidadania sem fronteiras de uma sociedade multi-cultural e
pluri-étnica.
Certo, à “geração
bataclan” falta talvez o confronto recíproco entre distintas visões de
mundo. Falta o diálogo lento, difícil e laborioso com outros saberes. Mas pelo
menos mantém uma convivência pacífica com outros credos, bandeiras e línguas,
rompendo barreiras históricos. Diferentemente da juventude das décadas de 1960,
70 e 80, embalada pelo rock and roll
e pelas revoluções – a atual cultiva pouco os ideais de ordem social, política
ou ideológia. Prefere as campanhas humanitárias de curto prazo, imediatas e
iluminadas por uma chama viva, súbita e forte, mas que tende a extiguir-se com igual
rapidez. Geração solidária e entusiasmada, com a marca da juventude, mas alheia
a laços eternos.
Certamente tem algo a ver com o que Bauman chama de
“modernidade líquida” ou o que Lepovietsky denomina “império de efêmero”. Tudo
que líquido e efêmero, porém, tem seu lado positivo: descortina horizontes inéditos
em direção a um novo conceito de pátria e de cidadania.
Roma, 19 de novembro de 2015
Imagens do Dia Nacional da Juventude de Goiás - Lourival e da Escola de Educadores de Manaus.
Imagens do Dia Nacional da Juventude de Goiás - Lourival e da Escola de Educadores de Manaus.
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