sábado, 27 de dezembro de 2014

Desde Samaria – reconhecer e conviver com a juventude – até Jerusalém



Essa é a tenda de Deus com as pessoas. Ele vai morar com eles.
Eles serão o seu povo e ele, o Deus-com-eles, será o seu Deus.”
[Apocalipse 21, 3]


Estamos finalizando mais um ano. Parece ser clichê fazermos esses discursos de encerramento de ciclos... Mas, para nós da Pastoral da Juventude a memória é algo sagrado e por isso nesse caminho de revitalização da Pastoral da Juventude no continente, se configura também num momento importante. Em 2014 vivemos a mística de Samaria no caminho de Jesus e da juventude. Foi tempo de beber da mesma água que o Mestre, saciando nossa sede e encontrando nela mais força para nos lançarmos a Jerusalém, no próximo ano. Na beira do poço nos encontramos e de lá somos enviados/as á Jerusalém, para a consumação da vida na doação máxima, com amor até o fim pela juventude e pelos/as pobres.
Samaria, nesse caminho, nos provocou a dois movimentos desde Jesus em direção à juventude:
1) Reconhecer a juventude – no processo da Samaritana que lemos no capítulo quarto de João e também no texto do Bom Samaritano, capítulo dez de Lucas (entre outros textos...), percebemos um caminho de, aos poucos, irmos entendendo a presença sempre nova dos/as jovens na Igreja e no seu lugar social. Reconhecer essa presença exige antes de tudo uma nova postura. Não é só um reconhecer de quem observa de fora, fazendo ciência – mesmo que isso seja muito importante – para além disso é um reconhecer-se junto deles/as. Reconhecer entre a juventude. E, de maneira especial, reconhecer os/as jovens silenciados/as, esquecidos/as e escondidos/as. Nesse sentido, o convite a reconhecer se torna profecia na medida em que desvela algo que intencionalmente está apagado pelo sistema capitalista. Reconhecer a juventude na Igreja significa dar voz, vez, espaço nos conselhos, celebrações, muito para além de trabalhos como arrumar as mesas para a festa da comunidade. Reconhecer também é “conhecer de novo”. Por mais conteúdos que podemos ter sobre os/as jovens, nunca saberemos tudo. Ainda mais num tempo de mudanças rápidas e significativas, de novos conceitos, conhecer se torna uma tarefa cotidiana de quem estuda e de quem ama, de quem come junto e se encontra diversas vezes. Como temos percebido esse reconhecer a juventude no lugar onde estamos? Quais passos são necessários? O que nosso grupo ou eu como jovem posso contribuir na continuidade desse caminho?
2) Conviver com a juventude – Como é bom comer com quem a gente gosta. A comida fica mais saborosa. O rosto fica mais alegre. Os/as companheiros/as são aqueles que comem o mesmo pão, mesmo quando não há pão. Nesse sentido, fomos provocados/as a conviver diretamente com a juventude para também reconhecê-la. Estar junto... Aproximar-se... Na mística do poço de Samaria, chegar perto, ouvir, dialogar, conviver intensamente para deixar-se inebriar pelo cheiro, pelo gosto, pelo olhar, pelo corpo-alma-espírito da juventude. Conviver também é rezar junto. Rezar a espiritualidade juvenil do Divino que nasce do meio deles/as, da festa, da alegria, da fidelidade, do compromisso, da luta, da justiça, da Civilização do Amor. É a mesma atitude do Deus de Jesus, que monta a Sua tenda entre nós: “Essa é a tenda de Deus com as pessoas. Ele vai morar com eles. Eles serão o seu povo e ele, o Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor...” (Ap 21, 3-4). É divino ser aberto, ser tenda, habitar no meio da juventude para transformar profeticamente as realidades necessárias.
Sabemos que há, na mística de Samaria, muito o que dizer ainda. Não temos intenção de dizer tudo. Apenas algumas provocações. Isso foi o que buscamos fazer ao longo desse caminho à beira do poço. Agora o caminho vivido nos lança a Jerusalém – o ponto culminante do nosso processo de revitalização, de nossa vida de seguidores/as de Jesus, porque Jerusalém é o lugar para onde marchamos com Jesus. Se somos seguidores/as de Jesus, não podemos fugir de Jerusalém, da Jerusalém da cruz e da morte. Da Jerusalém da Ressurreição e da vida plena. Convidamos todos/as a fazer esse caminho conosco, deixando-se invadir pela radicalidade da opção do Nazareno pelo Reino de Deus que quer ser nossa radicalidade na opção pela vida juventude.
Em 2015 não faremos mais textos de reflexão, mas roteiros de encontros de grupos de jovens para vivermos mais intensamente esse tempo. Pensaremos um roteiro de encontro, na mística de Jerusalém. Dentro desse roteiro teremos uma reflexão, a partir de uma passagem bíblica, refletindo as seguintes temáticas:
Janeiro – De Emaús a Jerusalém
Fevereiro – De Belém a Jerusalém
Março – De Nazaré a Jerusalém
Abril – De Betânia a Jerusalém
Maio – De Samaria a Jerusalém
Junho – De Cafarnaum a Jerusalém
Julho – Da região Siro-Fenícia a Jerusalém
Agosto – A experiência da Paixão – Morte - Ressurreição nas comunidades de Marcos
Setembro - A experiência da Paixão – Morte - Ressurreição nas comunidades de Mateus
Outubro - A experiência da Paixão – Morte - Ressurreição nas comunidades de Lucas
Novembro - A experiência da Paixão – Morte - Ressurreição nas comunidades de João
Dezembro – Síntese do caminho vivido desde 2011, desafiando-nos para próximos passos.
Nesse caminho de produção, edição, partilha, organização contaremos com a ajuda do nosso querido Thiesco Crisóstomo, de Marabá/PA, que acolhemos com muita alegria.
Que as águas bebidas no poço de Samaria nos enviem para Jerusalém, para a consumação da doação da vida radicalmente a serviço da juventude, dos/as pobres e na construção da Civilização do Amor.
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Hino de encerramento e celebração do ano de Samaria
Composição e Música - Cladilson Nardino
Interpretação - Liége Santin Xavante-Casaldáliga e Cladilson
Edição do vídeo - Maycon Fritzen


Um longo caminho percorremos
Viemos de Belém para Samaria
Reconhecemos as belezas dessa vida
Bebemos da água de nosso mestre
Caminhamos com fé e gratidão
Em Samaria,
Encontramos cuidado e compaixão
Em Samaria...

Com dialogo e com amor
Da exclusão Ele nos tirou
Acolheu o ferido sem medo
E curou bem de suas feridas
Seu testemunho nos alegra
E nos inspira a anunciar
Com sorrisos, lutas a causa.
Em Samaria...

Samaria é construir comunidade
Nos encontrando com o Senhor
Samaria, lugar sagrado,
Samaria, onde está o outro,
Samaria, lugar pastoral.
Em Samaria...

Vemos no povo oprimido
Nos feridos, no pobre, nosso irmão
Caminhando buscamos vida nova
Inspirados na memória
Memória que alimenta a esperança
Em Samaria... (2x)

Caminhamos rumo a Jerusalém
Dando voz, vez e espaço
Chegar perto, ouvir e olhar...
No jovem ver o divino
Comer do mesmo pão.
Mesmo quando não há pão
E Nos lançar...
À Jerusalém.
Jerusalém
Da cruz e da vida
Jerusalém... (2x)




Cladilson Nardino – Estudante de Engenharia Civil e membro da coordenação arquidiocesana da PJ de Curitiba/PR
Luis Duarte – Militante da PJ
Maicon A. Malacarne – Padre e assessor da PJ de Erexim/RS


domingo, 21 de dezembro de 2014

DECRETOS DE NATAL de Frei Betto



 
     Fica decretado que, neste Natal, em vez de dar presentes, nos faremos presentes junto aos famintos e excluídos, como propõe o papa Francisco. Papai Noel será malhado como Judas e, lacradas as chaminés, abriremos corações e portas à chegada salvífica do Menino Jesus. 
 Fica decretado que encantaremos as crianças de mistérios ao professar o Deus que se fez homem entre nós. Não mais recorreremos ao velho barbudo de sorriso ridículo, e sim aos relatos bíblicos que narram o mais singular de todos os fatos históricos: em Belém, Deus se tornou humano para que possamos nos tornar divinos.
  Por trazer a muitos mais constrangimentos que alegrias, fica decretado que o Natal não mais nos travestirá no que não somos: neste verão escaldante, arrancaremos da árvore de Natal todos os algodões de falsas neves; trocaremos nozes e castanhas por frutas tropicais; renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis; e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e sandália.
Fica decretado que, cartas de crianças, só as endereçadas ao Menino Jesus, como a do meu sobrinho Lucas, de 6 anos, que escreveu a ele convencido de que Caim e Abel não teriam brigado se dormissem em quartos separados; e propôs ao Criador ninguém mais nascer nem morrer, e todos nós vivermos para sempre. 
Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus.
      Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone celular e, recolhidos à solidão e ao silêncio, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor.
     Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecerão ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão.
     Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.
     Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seu custo convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal da pessoa que a serve.
     Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar que ele é “Pai Nosso” se o pão também não for de todos, e não privilégio da minoria abastada. 
  Fica decretado que toda dieta  reverterá em benefício de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou mera formalidade. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços.
     Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém.
     Fica decretado que, como os reis magos, haveremos de reverenciar, com a prática da justiça, aqueles que, como Maria e José, foram excluídos da cidade e, como uma família sem terra e teto, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança. 

 Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.

Pesquisa sobre juventude aponta a situação da vida da juventude brasileira

Um em cada cinco jovens brasileiros não trabalha nem estuda

 Publicado em clique aqui
17/12/2014 10h03
Rio de Janeiro

Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil
Edição: Marcos Chagas
Um em cada cinco jovens brasileiros entre 15 anos e 29 anos (20,3%) não estudava nem trabalhava em 2013. O dado é da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o instituto, a faixa etária que mais concentra os chamados nem nem é a de 18 anos a 24 anos, em que 24% da população não estão nas escolas nem no mercado de trabalho.
Um em cada quatro desses jovens (26,3%) até chega a procurar emprego, mas não encontra.

Entre os de 25 anos a 29 anos, a proporção dessas pessoas é 21,8%. De acordo com os dados do IBGE, os nem nem são proporcionalmente mais numerosos entre as mulheres e as pessoas com até o ensino fundamental incompleto localizadas na Região Nordeste. Também estão mais concentrados nos domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo.

A média de escolaridade dos jovens nem nem é 8,6 anos, enquanto a média da faixa etária chega aos 9,4 anos. Enquanto a média de jovens com filhos é 35%, entre aqueles que não estudam nem trabalham ultrapassa os 57%. Um em cada quatro desses jovens (26,3%) até chega a procurar emprego, mas não encontra, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE.

O estudo comparou o mercado de trabalho de 2013 com o de 2004. Segundo a análise, no período, a população de 16 anos ou mais aumentou 18,7%, mas a população economicamente ativa, ou seja, aquela que trabalha ou procura emprego, cresceu apenas 13,6%. A maior parte dessa população acabou se deslocando para a população não economicamente ativa que não trabalha nem procura emprego, gerando um percentual de 30,6%.

“O crescimento da população não economicamente ativa pode ser explicada, por exemplo, por um prolongamento dos estudos [dos jovens]. Como você tem o mercado de trabalho exigindo mais qualificação, você tem a possibilidade hoje, pela ampliação da oferta de vagas no ensino superior, do não trabalho para permanecer estudando”, disse a coordenadora da Síntese, Barbara Cobo.
Mesmo assim, entre as pessoas não economicamente ativas, 22,2% eram jovens de 16 anos a 24 anos. Quarenta por cento deles tampouco estavam estudando. “É uma questão preocupante para as políticas públicas. Esse é o momento essencial para saber se esses jovens estão estudando e se qualificando, porque eles serão a força de trabalho dos próximos anos”, disse a pesquisadora do IBGE Cristiane Soares.

Pesquisa do IBGE mostra que o emprego formal teve rendimento menor do que o informal no período pesquisado.


A pesquisa do IBGE revelou que a população total desocupada, em todas as faixas etárias, teve um crescimento maior (17,2%) do que a população ocupada (16,5%) no período. O emprego formal cresceu mais (47,8%) do que o informal (10,1%), mas o rendimento teve um crescimento mais expressivo nos trabalhos sem carteira assinada (51,8%) do que nos formais (26,7%).
As mulheres tiveram um desempenho melhor do que os homens no mercado de trabalho, com crescimento de 18,1% na população ocupada e 56% no emprego formal. Entre os homens, os índices de crescimento foram 15,3% e 42,4%, respectivamente.

A proporção de pessoas empregadas em trabalhos formais cresceu de 45,7% em 2004 para 58% em 2013. O crescimento ocorreu em todas as regiões do país, mas o Norte e o Nordeste apresentaram, em 2013, proporções de trabalhadores formais de 40,2% e 39,7%, respectivamente – índices inferiores à média nacional de nove anos antes. “O país está avançando, mas há um crescimento diferenciado [entre as regiões]”, apontou Cristiane.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Convite para Audiência Pública sobre Direitos Humanos em Goiás



CONVITE
Companheiros/as,
Instituto Brasil Central - IBRACE – MNDH/GO, Centro de Juventude Cajueiro, Fian Brasil, RECID, Cara Vídeo - Centro Cultural, Eldorado Carajás, CPT-Regional, CRB rede um Grito Pela Vida, Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, Central dos Movimentos Populares 

convidam as organizações sociais para participar da  


Audiência Pública de construção do Informe Paralelo da Sociedade Civil sobre o cumprimento do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - PIDESC 

 que será realizada no dia 10 de dezembro de 2014 (quarta-feira), das 8:00 as 13 horas, no (auditório) Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFG  - Praça Universitária
O objetivo da Audiência é reunir organizações do movimento social de Goiás para a coleta de denúncias sobre violações aos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, bem como apresentação de propostas e recomendações de ações do Estado para o efetivo cumprimento destes direitos.
Os dados coletados na audiência pública serão utilizados na confecção do Informe Paralelo da Sociedade Civil brasileira, que será entregue ao Comitê de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (DESC), da Organização das Nações Unidas (ONU). O mesmo processo de consulta à sociedade civil, por meio de audiências públicas, está ocorrendo nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal.

 A Audiência Pública também incentivará o monitoramento, por parte das organizações da sociedade civil, dos compromissos do Estado Brasileiro e dos governos em relação à efetivação dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais no país. Por meio deste processo, será possível promover a discussão e o acúmulo de subsídios para qualificar o informe alternativo a partir de diversos olhares e da incidência dos participantes.
 Contamos com a presença de todos (as).


Irene Maria dos Santos
IBRACE

Programação


08h00min Abertura:

08h40min – CPT –Regional: Teatro “Cerrado Vive ou Morre” Grupo Artistas do Cerrado
09h10min Falas
Pe Geraldo Nascimento – Direitos Humanos em Goiás
Carmem Lucia Teixeira – Centro de Juventude Cajueiro Direitos Humanos e Juventude
Ana Lucia – Centro Cultural Eldorado Carajás - Precário serviço de atendimento básico de saúde
CPT/Regional – Violência no campo – Trabalho escravo no campo e na cidade
Ir. Sandra Camilo Ede CRB rede um Grito Pela Vida - Tráfico Humano
10h30min “Sistema de Monitoramento do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – PIDESC”
Assessor: Flavio Pereira Diniz - Sociólogo Universidade Federal de Goiás- UFG
11h00min – Trabalhos em grupos
12h00min Apresentação dos Trabalhos em grupos e encaminhamentos
 13h00min Encerramento
10 de dezembro – Declaração Universal dos Direitos Humanos.
1948 a 2014.
66 anos
Artigo I “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”




SAIBA MAIS SOBRE O PIDESC



O QUE É O PIDESC?
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - PIDESC, adotado pela Assembleia Geral da ONU em 1966, consolida, no âmbito internacional, uma série de direitos já declarados na Declaração Universal de Direitos Humanos e também entre estes, o direito ao trabalho, à liberdade de associação sindical, à previdência social, à alimentação, à moradia, ao mais elevado nível de saúde física e mental, à educação, à participação na vida cultural e no progresso científico.

COMO FUNCIONA? 
O Sistema de monitoramento do PIDESC baseia-se em relatórios ou informes, os quais os Estados Partes encaminham ao Secretário das Nações Unidas, que os envia para análise do Comitê de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (Comitê DESC).
O Comitê DESC após analisar o relatório ou informe emite suas observações conclusivas. Embora as conclusões não sejam dotadas de força legal, constituem-se em importante instrumento de pressão para proteção e garantia dos direitos humanos.

QUAL A RELAÇÃO DO BRASIL COM O PIDESC?
O Brasil ratificou o PIDESC em 24 de janeiro de 1992, obrigando-se a promover e garantir todos os direitos promovidos no Pacto, tanto para adoção de políticas públicas e programas, quanto para promover ações compatíveis com sua efetivação para todos os seus cidadãos.
Em 2001, o Governo Federal apresentou, com quase 10 anos de atraso, seu primeiro informe do Comitê DESC.
Em contrapartida, a sociedade civil, por meio da Plataforma Brasileira de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (Dhesc Brasil), apresentou em 2003 seu Contra Informe ao Comitê, para contestar alguns fatos levantados pelo governo federal e para apresentar novos dados sobre a realidade brasileira.
Após a análise dos dois informes, o Comitê DESC emitiu, em maio de 2003, observações conclusivas acerca do cumprimento do PIDESC pelo Estado Brasileiro, incluindo recomendações e sugestões para sua efetivação.

POR QUE O MONITORAMENTO DO PIDESC É IMPORTANTE?
O Governo Federal deverá apresentar novo informe, especificando se as recomendações propostas pelo Comitê DESC foram observadas ou não.
A sociedade civil deve monitorar as ações do Estado, a fim de verificar se o Brasil está cumprindo as recomendações e sugestões propostas pelo Comitê DESC.
O monitoramento pela sociedade civil, por meio do Informe Paralelo, é fundamental para a garantia dos direitos contidos no PIDESC. Trata-se de mais uma forma de se exercer pressão para cobrar do Estado ações de promoção dos direitos humanos no Brasil.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

História de dom Pedro Casaldáliga é retratada em filme

Trajetória
História de dom Pedro Casaldáliga é retratada em filme
02 de dezembro de 2014 (terça-feira)












Wilson Dias/Agência Brasi

Uma trajetória intensa. É assim que pessoas que convivem com o bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, definem a vida do homem que se dedicou a lutar para que a população mais pobre e os indígenas tivessem consciência de seus direitos e lutassem por eles.
Nesta terça-feira (2), os moradores da cidade mato-grossense na qual Casaldáliga vive até hoje participarão do pré-lançamento do filme Descalço sobre a Terra Vermelha. A obra, baseada no livro que leva o mesmo nome e que conta a história do bispo, é uma coprodução da TV Brasil com mais duas televisões públicas, uma espanhola e outra catalã, e será exibida no canal brasileiro em três episódios nos dias 13, 20 e 27 deste mês.
Dom Pedro Casaldáliga nasceu em Balsareny, na província catalã de Barcelona, em 1928, e veio para o Brasil aos 40 anos, como missionário, para trabalhar em São Félix do Araguaia. Na região, preocupou-se com a saúde, a educação e a assistência à população. A equipe da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) visitou o bispo que, mesmo debilitado pelo mal de Parkinson, falou sobre os problemas da região na época em que chegou: uma terra sem lei, marcada pela violência e pelos conflitos entre posseiros e latifundiários.  
Na luta pelo reconhecimento dos direitos indígenas, ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na década de 70. Egydio Schwade, que também foi um dos fundadores da instituição, é hoje coordenador do Comitê da Memória, Verdade e Justiça do Amazonas e relembra o trabalho ao lado do bispo. “Dom Pedro estava já muito engajado na questão indígena em Mato Grosso, na região do Araguaia, e eu, no noroeste do estado. A gente logo se entrosou”, conta.
Na época, eram promovidos encontros para reunir as lideranças indígenas e foi a partir da criação do Cimi que, segundo Schwade, essa população começou a se organizar e a ser protagonista de sua própria luta, travando embates históricos por questões como a demarcação de terras. O colega de trabalho define o bispo como uma pessoa que trazia ânimo para as reuniões. “Presença humilde, simples, escutando os indígenas”. Na descrição de Egydio, dom Pedro era destemido e não tinha medo de enfrentar a ditadura militar para defender aquilo em que acreditava.
O secretário da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Antônio Canuto, trabalhou com o bispo em São Felix. Eles se conheceram no período em que dom Pedro chegou ao Brasil. Canuto conta que São Felix do Araguaia tinha uma estrutura muito precária em diversas áreas, o que levou o religioso a procurar a ajuda de colegas missionários para trabalhar nos povoados da região. “Ali faziam todo um trabalho de alfabetização de adultos, com as crianças também em termos de escolarização,o atendimento à saúde, a orientação para a saúde, e o padre fazia o trabalho pastoral”.
Canuto lembra que uma das características de dom Pedro é a tomada de decisão em conjunto. Durante os trabalhos com as equipes, tudo era conversado e decidido por todos. Ele lembra também momentos marcantes que viveu ao lado de Casaldáliga, como o lançamento de uma carta pastoral no dia da ordenação de Pedro como bispo. “Ele lançou a carta pastoral Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social, documento que marcou a Igreja pela firmeza das falas e pelas denúncias dos casos de violação de direitos dos posseiros, dos índios e dos trabalhadores que vinham de fora como peões para as fazendas e que eram tratados em regime de escravidão”.
O trabalho desenvolvido por Pedro e seus colegas fez com que muitos integrantes da equipe, e até mesmo ele, fossem ameaçados de morte ou de expulsão do país.
Além da criação do Cimi, Casaldáliga teve participação na criação da Comissão Pastoral da Terra. “Ele e dom Tomás Balduíno são os dois pilares da criação tanto do Cimi quanto da CPT, ao lado de outros”. Com a CPT, muitos trabalhadores foram estimulados, assim como os indígenas, a se organizar.
Ações como o aperfeiçoamento de professores, a educação e o crescimento da consciência da população são reconhecidas por todos aqueles que tiveram suas vidas modificadas em São Felix do Araguaia. Na cidade, o sentimento de gratidão fica evidente nos depoimentos colhidos entre os que conviveram e defendem o trabalho de Pedro. A coordenadora da Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção, Vânia Costa Aguiar, fala com carinho daquele que, para ela, é mais que um padre. “Pedro é a figura que deu uma cara humanista para São Félix do Araguaia. Ele é pai, é protetor. É um ombro amigo a quem a população necessitada pode recorrer para falar e partilhar os problemas”.
Apesar do papel de destaque que tem na cidade, a postura humilde e a posição de que todas as conquistas são do grupo mostram a simplicidade de Pedro. “Eu percebo que ele nunca teve a intenção de resolver tudo sozinho. Sempre tem uma palavra amiga, uma palavra de conforto para quem o procura e sempre tenta buscar mais pessoas o envolvimento de mais gente para o encaminhamento dos problemas e das discussões das questões levadas a ele”.
Mesmo com a saúde frágil, mas ainda muito lúcido, o bispo faz questão de se manter atualizado. Vânia conta que ele nunca isolou os problemas vividos pela cidade e sempre relacionou o que ocorria ali com as questões nacionais. Para ela, o que dom Pedro fez na região vai ficar como legado para as futuras gerações. “O legado do Pedro é justamente ensinar a gente a cuidar das pessoas. Esse tem sido o seu trabalho, além dos apoios que recebemos, como ensinar a ter esperança. O que me chama atenção em Pedro é a sua força de vontade, a sua determinação em seguir adiante, com esperança”.
As informações são da Agência Brasil.
Publicado no jornal o popular