Querido Pedro Calsadáliga,
Já
comecei esse escrito várias vezes e não conseguia terminar. Faltam
palavras, sobram lágrimas. Esse é o primeiro, de outros escritos que
virão. Ontem reli seus escritos para os/as jovens das Pastorais da
Juventude quando escrevia a coluna “Mística” no Jornal Juventude. Em um
desses escritos você diz sete traços marcantes da vida de Jesus. Os
traços da vida Dele que mais marcam a tua vida. Sem dúvida, os traços
que indica do Cristo são os traços que marcam sua vida.
Mas, inspirado nesse escrito, quero escrever sete traços de tua vida que tocam a minha. Sete traços que me tocam e me convocam.
1. *Fidelidade*
– Sua vida comunica fidelidade. Fidelidade aos/às pobres e ao
Evangelho. Fidelidade ao Senhor e ao Reino. Fidelidade mesmo quando isso
significou perseguição. Você foi fiel ao Evangelho e aos/às pobres
mesmo quando a estrutura eclesiástica te questionava. Você foi fiel
mesmo nas ameaças de morte.
2. *Martírio*
– Não é possível falar da memória dos/as Mártires sem falar de ti e do
como sua vida ajudou-nos a alimentar essa mística martirial. A memória
dos/as mártires seguirá e nos seguiremos. Vamos multiplicar Romarias
dos/as Mártires. Quisera eu ter um pouco da mesma paixão e do mesmo
compromisso que moveu os/as mártires e a ti.
3. *Profecia*
– Você chegou à região de São Félix e encarnou-se na vida desse povo.
Tal qual Deus se encarnou na vida. E sua vida, suas ações e suas
palavras foram profecia. Sua vida sempre foi pedra de tropeço para os
ricos e poderosos. Sua vida sempre incomodou, tanto os governantes como
algumas autoridades eclesiais. Sua profecia não era apenas na fala, mas
sobretudo nas tuas ações, na tua encarnação na vida do povo. Até tua
partida se faz profecia. Vives tua Páscoa no dia em que o Brasil se
entristece por 100 mil vidas ceifadas pela pandemia. Até em tua partida,
você se une aos/às obres que também estão partindo por conta dessa
pandemia e do desgoverno que preside esse país.
4. *Amor*
– Na poesia eternizada de sua vida e seus escritos você escreveu: “Ao
final do caminho me dirão: - E tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer
nada, abrirei o coração cheio de nomes” Hoje nesse tempo pascal, fico
pensando nesses milhões de nomes que saem de seu coração. Fico pensando
nos pobres a quem você serviu. Fico pensando nas prostituas que você
acolheu sem julgar. Nos indígenas que defendeu. Nos sem voz de quem tu
foi voz. Tua Páscoa é sentida por demais, sobretudo por aqueles/as que
tiveram a dignidade de suas vidas respeitadas por conta de tua vida.
Fico pensando constantemente nos pobres da Prelazia. Penso nesses/a que
você amou. Fico pensando nos/as camponeses/as. Fico pensando nos/as
índios/as. Fico pensando no Cristo que você enxergou no rosto de cada
pessoa com quem se encontrou. Queria ser capaz de amar assim.
5. *Luta*
- Jamais poderão falar de sua história sem dizer de sua luta pela vida e
dignidade dos/as pobres, camponeses/as, indígenas e sem voz. Sua vida
muito representa para as lutas tão necessárias nesses tempos. Sua
memória seguirá nos inspirando.
6. *Poesia*
– Pedro tu és poeta. Tu sabes. E como poucos, tu descrevestes a Palavra
do Deus Amor, Causa e Vida. Jamais falaremos de Pedro sem falarmos de
tuas poesias que seguirão animando nossos encontros, abraços e lutas.
7. *Esperança*
– Pedro. Tu és e seguirá sendo o profeta da esperança. Mesmo que não
fales nada, tua vida e tua presença e agora tua memória comunicam
esperança. Irradiam esperança. Provocam esperança. Convocam à esperança.
Motivam à esperança. E sua vida, querido Pedro, devolveu esperança a
tanta gente. Sua vida foi como a vida D’Ele, o Mártir Jesus. Você, Nele,
com Ele e por Ele, devolveu esperança ao povo. Nele, com Ele e por Ele
você transformou muitos sertões em açudes. Faltam alguns sertões, mas
essa tarefa agora cabe a nós.
Olho
para esses sete traços e me sinto tão pequeno diante de ti e diante
Dele. E por isso, peço a ti que me ajude e que ajude-nos a também sermos
homens e mulheres de profunda FIDELIDADE, de radical AMOR,
comprometidos/as com a LUTA pela vida, POETAS e PROFETAS do Reino,
alimentados/as pela MEMÓRIA MARTIRIAL, comprometidos/as com as causas
dos/as Mártires e por isso mesmo pessoas de ESPERANÇA e que a devolvem
aos/às pobres e sofredores/as. Obrigado por tanto Pedro. Ajude-me a ser
capaz de amar um pouco como você amou e ama. Continue a olhar pelos/as
pobres de nossa Casa Comum.
Dê um abraço no Hilário Dick, por favor.
Abraços pascais,
Luis Duarte
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