terça-feira, 1 de agosto de 2017

Trilhar juntos o caminho de aprender as Trilhas a favor da Vida


Ajudar-se mutuamente
Não é coisa do passado
Nem é moda do presente
É energia de todo o sempre

Necessita renovar
Valorizar-se sem medo,
Viver com alegria

Consumir na comunidade
o que ela mesma produz
com o menor esforço
Acender outras luzes (...) Reginaldo Figuerêdo/ Vila de Poetas




Saímos de Goiás para preparar o Intercâmbio no Ceará, destino: Vila de Poetas. Chegamos! E a sutil pergunta: o que este lugar diz de mim? A chegada foi durante a noite, podia-se ver pouco, porém estávamos atentos. No caminho do aeroporto para casa, um casal Ana Lourdes e Reginaldo nos conduzia. Havia poesia recitada. Uma acolhida com estandarte. E nós nos sentimos em casa.

O que é a Vila de Poetas? Um lugar em Maranguape/CE, tudo simples, sóbrio, que nos fala do Bem Viver. Há poesia espalhadas e poetas são evocados: Manuel de Barros, Cora Coralina, Clarice Lispector e, os poetas da terra tem espaço neste lugar. Toda pessoa que chega é chamada a acordar a poesia que está presente em sua vida.

O espaço tem trilhas e o cuidar da natureza e da terra faz parte do viver aqui. Testemunhamos o  crescer e renovar-se da terra e isso faz brotar as diversas árvores, muitas são sagradas, como a Jurema, uma árvore cultivada pelos povos indígenas da região e usadas em seus rituais cotidianos.

A Vida de Poetas é uma comunidade de pessoas que decidiram viver unidos pela poesia e, assim, exercitar a vida em comunidade, uma cozinha comunitária, as tarefas são distribuídas, há um encontro semanal para compartilhar a vida e o cotidiano da moradia. Atividades de poéticas,  saraus e outras atividades com um cuidado amoroso na a construção de relações para fortalecer os vínculos do Bem querer.

Na Vila de Poetas o Bem Comum, o Bem Viver, acontecem.

A equipe do Cajueiro vai se encontrando com o grupo da Vila de Poetas, o Reginaldo e Ana Lourdes, David, Fran, Carlos, Itálo e a Dani. O povo do Cajueiro chegou primeiro. Viemos Aurisberg, Carmem e Wiley, depois, chegaram Daniel, do Rio de Janeiro, e, já pela madrugada,  Claudia. Esse nosso grupo que acolhe e aprende com o espaço, com as pessoas, com a experiência da Vila de Poetas. Fomos para o aeroporto, o povo da Áustria chegou: Olívia e Jonathan, Sonja, Sandra, Daniela, Peter, Dominic, Doris. Vêm também para o encontro e acolhida o povo da Rede Tucum, Aparecida, Francisco, Gil.

Construir uma trilha exige conhecer o local. Por isto, aproximar da Vila de Poetas para saber a história do grupo, conhecer como foi construído cada espaço da poesia e da moradia dos poetas e como as tendas foram se alargando. Fizemos uma caminhada pelo local e, conhecer cada planta, perguntar pelo novo, pelo desconhecido, saber da história da árvore Jurema e da história dos povos indígenas da região. Reconhecer que esta terra foi e é habitada por povos indígenas. Ver a terra grávida, cheia de fartura por todos os lados: batatas, quiabos, bananas, macaxeira/mandioca... ver a terra se reconstituindo de modo belo, poético, acolhendo mãos e pés que a ela se unem nessa tarefa nobre do frutificar, alimentar o mundo com o pão, o amor, a poesia.

Depois do caminho diurno, ao entardecer, o cuidado com os pés de quem caminha, o cuidado do corpo de quem viaja longe, massagens, escalda-pés, Reiki, tudo isso para nos aconchegar uns aos outros . Á noite, em volta da fogueira a partilha das história de quem somos e porque vivemos. Chegamos para descobrir nossos caminhos e também sermos descobertos no caminhar.

Encerramos o dia com muitos aprendizados e com a convicção de que as várias línguas e sotaques podem ser barreiras para a comunicação, porém não impedem a criação de vínculos, a troca de afetos. Assim nos preparamos para seguir percebendo e criando espaços do bem querer, do bem viver, forjando as trilhas a favor da vida.