Interpelada,
instigada, estimulada...acabei me sentindo motivada a "puxar" na memória
fatos, fases, momentos, acontecimentos que deram corpo a minha
história, especialmente nos tempos em que, cronologicamente, integrava a
fase mais fértil da humanidade -juventude, "terra de bacuri".
Na
verdade, a história da juventude de muitos de nós, "frutos", teve início
um pouco antes de existir a Pastoral da Juventude na diocese. A minha
assim o foi. Ingressei, na minha adolescência, numa "comunidade" jovem
chamada CAJU e depois na COMIC, que era a Comunidade Iporaense Cristã,
de jovens. A nível diocesano existia o TLC (Treinamento de Liderança
Cristã) e uma coordenação diocesana da juventude da qual eu fazia parte
quando aqui chegou, no início de 1981, Pe. Florisvaldo (Floris) com uma
nova proposta para a nossa juventude.
A grande novidade trazida por
Pe. Floris era a formação de pequenos grupos de base com uma nova
metologia de atuação. Nossa cultura era de "comunidades jovens" que eram
formadas por um grande número de participantes. Aliás, a eficácia, o
sucesso de uma comunidade jovem eram medidos, essencialmente, pelo
numero de integrantes da mesma. Pe. Floris chega propondo formação de
pequenos grupos na base utilizando a metologia VER-JULGAR-AGIR-AVALIAR.
Aquele novo jeito de trabalhar, de ser jovem, a princípio enfrentou uma
certa resistência mas, aos poucos, foi despertando uma maior consciência
da realidade, do papel que o jovem exercia e o desejo de ser agente da
própria história.
Foram 10 meses de cansativas reuniões com nossa
pequena, insegura, despreparada (ao menos diante daquela"novidade") e,
por que não confessar, relutante equipe (Brito, Simair, Manoelino, Gildo
e eu, se não me falha a memória). Naquele período Pe. Floris ia
conhecendo a região e iniciamos "experiências piloto" de formação de
pequenos grupos em algumas paróquias. Preparamos o TRECO (Treinamento de
Coordenadores) visando também a avaliação do trabalho até então
desenvolvido em preparação à primeira Assembleia Diocesana de Jovens que
aconteceria em março de 82. Aquela Assembleia definiu um Primeiro Plano
Diocesano de Pastoral da Juventude, para dois anos, tendo como
prioridades: criação e acompanhamento de pequenos grupos de base;
capacitação de coordenadores e formação.
A capacitação de
coordenadores naquele ano, em nível diocesano, se deu através de dois
cursos. O primeiro deles assessorado por Hilário Dick, então assessor
nacional da PJ.Aqui gostaria de abrir um parêntese para relatar uma
"situação desesperadora" e uma experiência desafiadora enfrentada pela
guerreira ECD (Equipe Central Diocesana). Curso agendado, assessor
contactado, coordenadores convidados, Pe. Floris viaja (não saberia
dizer ao certo, mas creio que por uma questão pastoral) e enquanto se
encontra fora ocorreu-lhe um problema de saúde. Comunicou-nos que não
voltaria até a data do evento e que deveríamos assumir a preparação e
realização do mesmo. Desespero total! O curso aconteceu sob a luz do
Espírito Santo.
Outro acontecimento marcante para mim, não sei se
trágico, cômico, pitoresco, constrangedor...ocorreu numa das nossas
famosas Caminhadas Jovens. É que, certamente por falta de outra opção,
eu assumia nos cursos, encontros, assembleias, caminhadas...a animação
dos cantos. Desta feita, em cima de um caminhão de som, com microfone em
punho "puxei" o canto: A verdade vos libertará, libeeeertará...de
maneira tão desafinada que foi a maior "gafe". Imagine 5 mil jovens
reunidos mais a população de São Luis quase toda e eu passando por
aquele vexame. Tudo pelo Reino.
Não poderia deixar de mencionar aqui
a idealização, criação, redação, distribuição do Força Jovem. Com o
objetivo de ser instrumento de comunicação, intercâmbio, formação...para
a juventude diocesana e até nacional ele surgiu. Uma equipe de jovens
de Iporá (todos meus irmãos a integrava) assumiu esse trabalho.
Experiência enriquecedora, mas exigia muito de nós. Chegávamos, em
muitos momentos, a pensar em "deitar com a carga". Trabalhávamos com
recursos mínimos - vale lembrar que não existia celulares, computadores
e, claro, internet. Nosso equipamento mais avançado era uma máquina de
datilografia (velha). O trabalho era artesanal e entrava madrugada a
dentro. Das muitas memórias, destaco o fato de eu redigir, corrigir
textos, ilustrar...amamentando uma filha e embalando outra no carrinho
com o pé.
Enfim, posso afirmar com toda segurança que sou uma
consequência da PJ. Se não tivesse tido essa "escola" certamente seria
outra pessoa. Não ouso dizer se melhor ou pior mas, diferente, com
certeza. A verdade é que a PJ teve uma influência muito grande em minha
vida (até contribuiu para o término de um namoro de sete anos e meio,
creiam). Colaborou, princialmente, para a formação do senso crítico, do
desejo de ser protagonista da história e de colaborar na construção do
Reino.
Confesso que, não raras vezes, tenho me sentido um peixe fora
d'agua na igreja. Percebo uma forte tendência para uma ação mais
voltada para o "combate espiritual" com ênfase no silêncio, na oração,
na meditação, na adoração, na espiritualidade...bem ao gosto do
capitalismo.Oxalá tenhamos a coerência do Papa Francisco - coloque a
teologia em tom menor para que a libertação ressoe em tom maior:
consolação para os oprimidos e apelo às consciências dos poderosos. Que
tenhamos a consciência de João Batista e que o lema dele seja o nosso:
"é necessário que Ele cresça e eu diminua" (Jo 3,30).
E assim vamos
nós. Afinal, sabemos que "estamos unidos por um laço eterno". Então,
cantemos,mesmo que desafinadamente: A verdade vos libertará,
libeeeeertará...
Até breve!
Que maravilha ver minhas singelas memórias aqui publicadas! Gratidão pelo que vivi e pela possibilidade de partilha!
ResponderExcluirNós que agradecemos. Vamos provocar que outras pessoas também possam escrever suas memórias, assim podemos tecer uma grande rede para nos sustentar nestes momentos difíceis.
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