quarta-feira, 12 de agosto de 2020

"Memórias Pejotianas". Eu, "terra de bacuri"! Odalice Gonçalves

 

Interpelada, instigada, estimulada...acabei me sentindo motivada a "puxar" na memória fatos, fases, momentos, acontecimentos que deram corpo a minha história, especialmente nos tempos em que, cronologicamente, integrava a fase mais fértil da humanidade -juventude, "terra de bacuri".
Na verdade, a história da juventude de muitos de nós, "frutos", teve início um pouco antes de existir a Pastoral da Juventude na diocese. A minha assim o foi. Ingressei, na minha adolescência, numa "comunidade" jovem chamada CAJU e depois na COMIC, que era a Comunidade Iporaense Cristã, de jovens. A nível diocesano existia o TLC (Treinamento de Liderança Cristã) e uma coordenação diocesana da juventude da qual eu fazia parte quando aqui chegou, no início de 1981, Pe. Florisvaldo (Floris) com uma nova proposta para a nossa juventude.


A grande novidade trazida por Pe. Floris era a formação de pequenos grupos de base com uma nova metologia de atuação. Nossa cultura era de "comunidades jovens" que eram formadas por um grande número de participantes. Aliás, a eficácia, o sucesso de uma comunidade jovem eram medidos, essencialmente, pelo numero de integrantes da mesma. Pe. Floris chega propondo formação de pequenos grupos na base utilizando a metologia VER-JULGAR-AGIR-AVALIAR. Aquele novo jeito de trabalhar, de ser jovem, a princípio enfrentou uma certa resistência mas, aos poucos, foi despertando uma maior consciência da realidade, do papel que o jovem exercia e o desejo de ser agente da própria história.


Foram 10 meses de cansativas reuniões com nossa pequena, insegura, despreparada (ao menos diante daquela"novidade") e, por que não confessar, relutante equipe (Brito, Simair, Manoelino, Gildo e eu, se não me falha a memória). Naquele período Pe. Floris ia conhecendo a região e iniciamos "experiências piloto" de formação de pequenos grupos em algumas paróquias. Preparamos o TRECO (Treinamento de Coordenadores) visando também a avaliação do trabalho até então desenvolvido em preparação à primeira Assembleia Diocesana de Jovens que aconteceria em março de 82. Aquela Assembleia definiu um Primeiro Plano Diocesano de Pastoral da Juventude, para dois anos, tendo como prioridades: criação e acompanhamento de pequenos grupos de base; capacitação de coordenadores e formação.


A capacitação de coordenadores naquele ano, em nível diocesano, se deu através de dois cursos. O primeiro deles assessorado por Hilário Dick, então assessor nacional da PJ.Aqui gostaria de abrir um parêntese para relatar uma "situação desesperadora" e uma experiência desafiadora enfrentada pela guerreira ECD (Equipe Central Diocesana). Curso agendado, assessor contactado, coordenadores convidados, Pe. Floris viaja (não saberia dizer ao certo, mas creio que por uma questão pastoral) e enquanto se encontra fora ocorreu-lhe um problema de saúde. Comunicou-nos que não voltaria até a data do evento e que deveríamos assumir a preparação e realização do mesmo. Desespero total! O curso aconteceu sob a luz do Espírito Santo.


Outro acontecimento marcante para mim, não sei se trágico, cômico, pitoresco, constrangedor...ocorreu numa das nossas famosas Caminhadas Jovens. É que, certamente por falta de outra opção, eu assumia nos cursos, encontros, assembleias, caminhadas...a animação dos cantos. Desta feita, em cima de um caminhão de som, com microfone em punho "puxei" o canto: A verdade vos libertará, libeeeertará...de maneira tão desafinada que foi a maior "gafe". Imagine 5 mil jovens reunidos mais a população de São Luis quase toda e eu passando por aquele vexame. Tudo pelo Reino.


Não poderia deixar de mencionar aqui a idealização, criação, redação, distribuição do Força Jovem. Com o objetivo de ser instrumento de comunicação, intercâmbio, formação...para a juventude diocesana e até nacional ele surgiu. Uma equipe de jovens de Iporá (todos meus irmãos a integrava) assumiu esse trabalho. Experiência enriquecedora, mas exigia muito de nós. Chegávamos, em muitos momentos, a pensar em "deitar com a carga". Trabalhávamos com recursos mínimos - vale lembrar que não existia celulares, computadores e, claro, internet. Nosso equipamento mais avançado era uma máquina de datilografia (velha). O trabalho era artesanal e entrava madrugada a dentro. Das muitas memórias, destaco o fato de eu redigir, corrigir textos, ilustrar...amamentando uma filha e embalando outra no carrinho com o pé.


Enfim, posso afirmar com toda segurança que sou uma consequência da PJ. Se não tivesse tido essa "escola" certamente seria outra pessoa. Não ouso dizer se melhor ou pior mas, diferente, com certeza. A verdade é que a PJ teve uma influência muito grande em minha vida (até contribuiu para o término de um namoro de sete anos e meio, creiam). Colaborou, princialmente, para a formação do senso crítico, do desejo de ser protagonista da história e de colaborar na construção do Reino.


Confesso que, não raras vezes, tenho me sentido um peixe fora d'agua na igreja. Percebo uma forte tendência para uma ação mais voltada para o "combate espiritual" com ênfase no silêncio, na oração, na meditação, na adoração, na espiritualidade...bem ao gosto do capitalismo.Oxalá tenhamos a coerência do Papa Francisco - coloque a teologia em tom menor para que a libertação ressoe em tom maior: consolação para os oprimidos e apelo às consciências dos poderosos. Que tenhamos a consciência de João Batista e que o lema dele seja o nosso: "é necessário que Ele cresça e eu diminua" (Jo 3,30).
E assim vamos nós. Afinal, sabemos que "estamos unidos por um laço eterno". Então, cantemos,mesmo que desafinadamente: A verdade vos libertará, libeeeeertará...
Até breve!

2 comentários:

  1. Que maravilha ver minhas singelas memórias aqui publicadas! Gratidão pelo que vivi e pela possibilidade de partilha!

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  2. Nós que agradecemos. Vamos provocar que outras pessoas também possam escrever suas memórias, assim podemos tecer uma grande rede para nos sustentar nestes momentos difíceis.

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