Querido Lourival,
O dia e o tempo pascal
que vivemos me convida a te escrever. Confesso que é estranho pensar que irei
ao CAJUEIRO e não te encontrarei mais. É estranho ter que aprender a lidar com
sua ausência física. É claro, você nunca morrerá em nós e nas causas que
assumimos. Mas, preciso dizer que sua ausência é sentida.
Sei que sabes, mas
quero lhe contar algumas coisas que vivemos ontem em seu velório, na grande
festa da ressurreição. De fato, por mais estranho que pareça, vivemos uma
festa. A grande festa da ressurreição. A grande festa das causas e da doação.
Depois de ficar sabendo
de sua páscoa, entre vários amigos que avisei, falei com o mano Jean. E meu dia
foi marcado pela presença e amor do mano que me cuidou e me ajudou a organizar
o ODJ. Um gesto simples para ajudar os grupos de jovens a rezarem sua Páscoa
para que a missão siga sempre mais viva e forte. Logo em seguida, partimos daqui de Rio Verde,
em meio de choros e abraços, eu, Karlos, Hellen, Alessandro, Edina, Luiz
Rogério e Júlio. Foi uma viagem cheia de silêncios, memórias e partilhas.
Já na chegada era
impressionante o número de amigos/as ali reunidos/as. Foi uma festa com tanta
gente... De tantos lugares... Com tantas histórias... Sua vida e sua doação
reuniu tantos/as amigos/as e familiares na despedida e envio. Até a Vanildes,
lutando forte contra o câncer, estava. Sei que a abracei e chorei junto. A
Flor, uma das mais novas em nosso meio, estava com seu sorriso e seu olhar
carregado de horizonte. A Quel em olhar longe, carregado de memória... Quim,
lembrando que você sempre questionava o projeto de vida... A Alessandra, a quem
você tanto incentivou e cuidou, mesmo com a perna machucada estava lá... Até a
Edina, vindo da missão na África... É claro que faltou muita gente que estava
longe, mas muito perto e próximo. Hilário, do RS, nosso mestre e avô,
dizendo-nos em meio de choros e rezas que sua vida é uma surra de esperança... Sei
que o avô chorou. Ainda bem que a mana Pati estava lá cuidando dele. Mirim e
Mercedes lá em São Félix sonhando e organizando a Romaria dos Mártires.. O Guigo, recordando
sua ajuda no ICJ e sua amizade... O povo da PJ espalhado pelo país todo... Seus
inúmeros alunos/as e tantos/as jovens assessorados por você... Todos/as num
amor sem tamanho, celebrando junto a doação de sua vida...
Em meio aos choros e
abraços, sua memória nos unia e nos comprometia. Você jamais morrerá em nós.
Porque, muito do que somos se deve a você. Na recordação da vida, foi
impressionante (e fez todo mundo chorar) o número de pessoas que narravam as
memórias que guardavam de você. Foi de
arrepiar escutar uma vovozinha dizendo de como você foi importante na vida de
seus netos e filhos e que por isso ela estava ali com o coração agradecido.
Todos choraram quando a
Cida disse forte: “o Lourival me ensinou a ser gente. Com ele, eu aprendi a ser
gente”. Como negar sua contribuição para que centenas de nós nos tornássemos
autônomos/as e felizes?
Como negar o bem que
sua vida fez na Pastoral da Juventude? Foi muito forte a presença de seu grupo
de jovens RUACC. Impressionante a presença, a fala, o choro... Forte demais a
presença dos amigos/as do Floris e Frutos... O choro de Azézio era o choro de
tantos/as amigos/as que fizeste na PJ...
Na Eucaristia,
presidida por Geraldo e Célio, junto de duas pastoras, todos/as comungamos do
AMOR, na certeza da vida que rompe a morte. O choro de Geraldo e de Célio. Entre cantos e choros, sua memória nos
animava. Não dei conta de segurar as lágrimas com Claudinha, que tanto lhe
cuidou, contando que você dizia: “Deus está me chamando para dormir!”. Como não
chorar com a oferta de Rosas a ti, ao Ciron (seu amor e companheiro, que lhe
cuidou e amou) e a sua mãe, Dona Abigair, que nos ofertou você...
Você pensou em tudo e
todos/as... Escolheu a bata que desejava usar, reafirmando mais uma vez sua
pertença ao povo latino, sendo sempre um goiano de pé rachado. Escolheu os pés do Divino Pai eterno para
acolher seu descanso eterno. É uma volta ao amor da infância... Até o por do
sol foi lindo: um presente seu para nós. E um presente do Gisley, Floris,
Albano, Wal, Raimundo, Deusdete, Julciene que te precederam no martírio e na
eternidade amorosa. Sei que teve bonita festa no céu para te acolher. Eles
também estavam na Eucaristia. Os senti.
O carroceiro que virou
pesquisador (Miriam) .... O pobre que derrotou o capitalismo (Rezende)... O
homem que me acolheu e sempre acolheu todos (alguém disse)... Gratidão,
gratidão, gratidão (disse a Kelli)... E como não se emocionar com Marlúcia, sua
irmã, falando?
Impressionante como
sempre falavam de você, de Carmem e de Rezende juntos/as... Vocês marcaram a
vida de tantos/as... Não posso deixar de mencionar esses dois amigos, mestres e
amados/as. O coração doía ao ver as lágrimas dos dois... Também da Vanildes. Na
verdade, doía demais ver o choro de todos. Mas, dizer de Carmem, Rezende e
Vanildes é dizer de três pessoas imensamente amadas por ti e que te amavam
demais... Mas, é dizer de como e do quanto vocês fizeram juntos/as... É claro,
que juntos deles estão Edina, Alessandra, Marcelo, Willian, Berg, Geraldo,
Claudinha, Arilene, Ciron, Kelli e tantos/as outros/as...
Abraçado no Marcelo,
nos perguntamos: “e agora?” E agora? O que faremos? O que faremos sem o
Lourival? Com o Berg conversei a mesma coisa, também no carro com o povo de Rio
Verde... Já estávamos sem Wal, Floris, Albano e Gisley... O que faremos sem
você? Você que sempre cuidou de todos/as nós também pensou nisso... Na véspera
de sua Páscoa, pediu que seu sobrinho, um jovem, chamasse e Carmem. E você
disse a ela, dizendo a todos/as e cada um/a de nós: “o projeto”. Sim Lourival,
amigo e assessor, mestre e amigo, seguiremos com o projeto. Carmem escutou em
nosso nome e respondeu em nosso nome: “o projeto vai continuar!”. O CAJUEIRO
vai crescer e dar mais frutos. A causa da vida da juventude mais vez é assumida
e re-assumida por todos/as nós. Você não morrerá meu amigo, porque sua vida que
foi toda doação será sempre eternidade...
Em meio de mantras, que
cantamos várias vezes ao longo do dia, devolvemos teu corpo à terra. As
palavras ainda não mensuram tudo que sinto e sentimos. Sei que você não morrerá
em nós amigo. Sei que a causa jamais terá fim! De minha parte, ainda preciso
agradecer tudo que você foi e é em minha vida e em meu processo. Tanto poderia
e devo dizer. Mas, deixo isso para a próxima carta. Não faltarão cartas amigo.
Te amo. Te amamos! Ajude-nos a cuidar da juventude. Beije o Wal, o Gisley e o
Floris por mim.
Beijos e abraços,
Luis Duarte
Lendo todas as manifestações de carinho durante todo o processo pelo qual o Lourival passou e agora as manifestações de saudades, me enche o coração de um sentimento inexplicável, sinto saudade de uma pessoa com quem tive pouco de convivência, quase nada, mas que foi e sempre será de uma vida, pois o que aprendi com ele, me anima e leva a seguir em frente acreditando no protagonismo juvenil e na presença da mulher na luta por políticas publicas, mas acima de tudo lutar pelo amor, pela humanização dos nossos jovens. Conheci o Lourival na preparação de um seminário sobre politicas para Juventude, com todo seu carinho e metodologia fomos construindo o seminário, por e-mail, telefone, zapi-zapi e por fim fizemos um belissimos trabalho com os jovens do campo e da cidade. Hoje jovens que participaram daquele momento estão engajados nos sindicatos, na luta pela terra, pelos seus direitos, a partir de um olhar carinho e crítico Lourival, deu esperanças e caminhos a aqueles jovens e a mim ensinou muito e continuará me ensinando através dos amigos e amigas que vem trazendo seus conhecimentos e lutas nessas lindas manifestação de amor. Obrigada pela vida doada e pelo amor plantado.
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