SÍNTESE DO I MODULO - GERALDO PIRES
Nas etapas anteriores
buscamos conhecer-nos melhor, fazer a
apresentação, dizer de qual lugar falávamos ou quais as experiências que
trazíamos... As partilhas foram nos
ajudando a dar ‘identidade’ a cada pessoa da turma, revelando o lugar a partir
de onde cada um/a fala, a formação que possui, a atuação que tem, as redes de
relações estabelecidas, os valores que marcam a sua trajetória, as crenças e
desejos... As partilhas foram identificando que somos um grupo que fala a
partir do serviço chamado Coordenação, como também de um ministério chamado
Assessoria. Conforme o curso avança, estas identidades vão orientando as
expectativas, o olhar sobre determinado tema e as diferentes maneiras de olhar
o que chamamos de Civilização do Amor.
Queridos/as Educadores/as de
Jovens! Não há como negar que há uma renovação no perfil da assessoria e, mesmo
assim, quando se assume o acompanhamento (mesmo sendo jovem) os olhares e as
perspectivas mudam. Não há como negar: as gerações marcam o jeito de ser, ver o
mundo e agir de cada pessoa em sua prática. Não há como dizer que a vida das
juventudes ecoa da mesma forma tanto para assessores/as e coordenadores/as.
Para quem ainda é jovem esta vida juvenil se manifesta de maneira e com nuances
muito específicas. Para aqueles/as cuja juventude foi vivenciada em outros
períodos a vida das juventudes ecoa de um jeito diferente, talvez marcado pela
sua própria experiência de como ser jovem.
Na reflexão que fomos fazendo
sobre as nossas origens (nome, lugar, experiência, referências), percebemos que
algumas pessoas fazem a experiência de viver em cidades pequenas ou médias ou,
até mesmo, na zona rural... Outros vivem em grandes centros urbanos... Boa
parte da nossa turma vive no norte e nordeste onde o tempo, a economia e a
cultura marcam fortemente as opções e práticas pastorais e educativas.
Poderíamos perguntar-nos o quão
determinantes são, para a nossa prática, estas geografias e suas dinâmicas
diferenciadas. De certa forma o “nome” é
sim, uma gaiola, em nossa cultura. Não somente o nome que recebemos no batismo,
mas os títulos (nomes) que ganhamos ao longo da vida e que definem como nós
seremos vistos. Um professor é visto de maneira diferente de um administrador
de empresas, de um médico, de um gari e assim por diante.
Quando falamos em Civilização do
Amor, uma expressão para Reino de Deus (grão de mostarda) na perspectiva proposta pelo curso de “capacitar pessoas e fortalecer redes locais
de educadores/as de jovens, dentro da perspectiva de participação e construção
de Projetos de Formação; gerar espaços de diálogo e troca de experiências nos
serviços de evangelização da juventude”, muitas reflexões podem ser feitas.
Por vezes, falamos em utopia, mas
a utopia é algo possível ou somente imaginável? É algo para agora ou somente
para o futuro? Por um longo tempo foi possível aceitar a explicação de que a
única função da utopia era de nos fazer caminhar, mas essa teoria parece não
caber num tempo em que se busca o imediatismo, no qual o tempo presente é o
tempo para realizar e ser. É complicado tentar explicar para as juventudes de
nosso tempo que há uma conceito/proposta cuja única finalidade é nos tirar do
lugar.
Então, como propor novas formas
dever e compreender o Reino de Deus, a Civilização do Amor e a utopia como
atingíveis e vivenciáveis também em nosso tempo até que se concretizem
plenamente?
Pe. Hilário Dick, semana passada,
na abertura de uma jornada de estudos na PUCPR, revelou que devemos ser boas
notícias para a juventude em vez de querer somente sermos especialistas em
juventude. O que isso nos revela? Em primeiro lugar é que a utopia e o Reino
residem em nós. E nós já somos expressões do Reino e, portanto, Reino e Utopia
são atingíveis, vivenciáveis, possíveis
desde agora. O que nos faz caminhar é o desejo de que o Reino e a Utopia sejam
para mais pessoas e de forma mais plena. A segunda revelação da frase do Pe.
Hilário Dick traz à tona a reflexão da Mercedes Budalles sobre a relação entre
Reino de Deus e Bem Viver. Para que o Reino de Deus aconteça será necessária a
subversão de uma lógica econômica e social. O Reino se torna utopia inatingível
e inalcançável se quisermos “mudanças sem mudar nada”, ou seja, mantendo os
mesmo padrões de vida, consumo, ritmo de vida, etc. Gosto de uma figura que encontrei no Google na
qual, num primeiro quadro, uma pessoa desafia a plateia: “Levante mão quem deseja uma sociedade mais
justa, melhores condições de vida, um planeta com maior qualidade de vida e o fim
das injustiças”! Todos levantam a mão... Então, esta mesma pessoa pergunta à
mesma plateia: “Quem aceita abrir mão
dos seus privilégios, do seu modo de vida, do seu padrão de consumo para que
estas mudanças desejadas aconteçam?” O resultado é que ninguém levanta a mão...
Seguindo o conselho do Papa
Francisco, vamos às periferias e façamos bagunça/movimento (lío), tais quais as
quais as manifestações do outono
brasileiro, com milhões de jovens nas ruas; sigamos, também, sendo Igreja
Jovem, saindo das sacristias para ir de encontro às juventudes para o exercício
de escuta e de denúncia de um modelo de vida que está em colapso.
Sigamos cantando, com Violeta
Parra e Mercedes Sosa “Gracias a La
Vida” pelos sinais do Reino que já são perceptíveis em nossas realidades, pelos
grãos de mostarda que germinam e se tornam árvores vistosas.
No final desta segunda etapa e
início do estudo do Documento Civilização do Amor: Projeto e Missão que
tenhamos estas reflexões sempre vivas em nossos corações.
Forte abraço.
Geraldo Pires
Casa da Juventude do
Paraná
Curitiba, 29 de outubro
2013.
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