Jardel Santana*
Em outubro do ano passado escrevi um texto, intitulado Porque sou contra a Jornada Mundial da
Juventude! (o texto pode ser acessado em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=es&cod=71109).
Nesse período de 09
meses, houve algumas mudanças de conjuntura, nacional, internacional e
eclesial. Para esse texto vou focar na conjuntura eclesial, pois tivemos a
renúncia papal, o que não ocorria há mais de 06 séculos e também tivemos a
eleição do primeiro papa latino-americano.
Assim como ocorrem
mudanças conjunturais, também podem e devem ocorrer mudanças de posturas e
opiniões pessoais e algumas que expressei no texto em outubro, reconheço que
mudei. Dentre elas, posso destacar principalmente a opinião com relação ao
papa. Felizmente, o papa Francisco, diferente de seu antecessor, vem
demonstrando desapego às honras e glamour que o posto no qual está lhe dá.
Concordo com Leonardo Boff, quando diz que “o nome Francisco é mais que nome;
sinaliza um outro projeto de Igreja na linha de São Francisco de Assis: ‘uma
Igreja pobre para os pobres’ como disse, humilde, simples, com ‘cheiro de
ovelhas’ e não de flores de altar. Por isso deixou o palácio papal e foi morar
numa hospedaria, num quarto simples e comendo junto com os demais hóspedes”
(http://cajueirocerrado.blogspot.com.br/2013/07/texto-publicado-na-adital-26072013-e.html).
Foi na esperança de
continuar percebendo algumas mudanças, para uma igreja mais próxima aos pobres
e mais revolucionária, a qual sai dos templos e vai às ruas, conforme pede o
Papa Francisco, que me permiti vivenciar a experiência de participar da Jornada
Mundial da Juventude – JMJ. Outro fator que me motivou a participar da JMJ foi
a realização da Tenda das Juventudes e da Marcha Mundial ‘A juventude quer
viver’, realizada pela Pastoral da Juventude – PJ, em parceria com diversos
grupos e setores da igreja e da sociedade, dentre estes a Cáritas Brasileira e
o CAJUEIRO – Centro de Formação, Assessoria e Pesquisa em Juventude; pois o
modelo de igreja proposto pela PJ, o que busca a Civilização do Amor, é o
modelo que acredito e busco seguir. Também foi a esperança de ouvir o Papa
Francisco anunciar mudanças no formato da JMJ que me motivaram a participar.
Tal anúncio não ocorreu, mas ainda tenho a esperança de que o formato mudará,
deixando de ser um megaevento.
Quando escrevi o texto
ano passado, recebi inúmeras respostas, elogios e críticas. As críticas eram
principalmente questionando se eu já havia participado de alguma Jornada, esses
questionamentos me motivaram a participar e agora tenho mais base, para emitir
opinião favorável ou desfavorável à Jornada. Recebi inúmeras críticas quando
decidi participar da JMJ, dentre estas a de hipócrita, oportunista, a de que no
texto que escrevi contra, afirmava que esse espaço não me representava e agora
estava legitimando esse espaço, dentre outras, mas como disse no início do
texto, com as mudanças de conjuntura, me permiti mudar de opinião, ao menos em
alguns pontos.
Além da participação na
Tenda e na Marcha, outro momento marcante para mim na JMJ, foi quando junto com
jovens da PJ, da Cáritas, e do CAJUEIRO, realizamos em frente à igreja da
Candelária a ciranda pela vida, fazendo memória aos 20 anos da chacina da
Candelária, ocorrida em 23 de julho de 1993. Entretanto, mesmo tendo
participado desses e de outros momentos que foram marcantes para mim, continuo
me posicionando contra a JMJ, não mais como me posicionava antes, contra ela em
si, mas sim contra o seu formato atual, pois no período que estive no Rio de
Janeiro, pensei muito na cidade e nas pessoas que moram lá. Fiquei imaginando
as pessoas que passam o dia trabalhando e ao final do dia não conseguem
transporte para retornar para casa, não conseguem entrar em um restaurante e/ou
lanchonete, devido à quantidade de pessoas, dentre outros inconvenientes, ou
seja, a vida na cidade torna-se ainda mais difícil e isso não é apenas no Rio
de Janeiro, pois acredito que nenhuma cidade no mundo está preparada para receber
mais de um milhão de pessoas, de uma vez. Outro fator para eu ser contra o
formato atual da JMJ, é que este não permite um processo formativo e uma
inserção comunitária e também ao fato de, conforme disse um padre, a JMJ, no
formato em que está não é da juventude e sim do Papa.
Penso que a JMJ não
deve ser para e sim com e das juventudes, por isso defendo um formato
diferente, em que se tenha a participação juvenil desde a organização até a
realização e pensando em um formato possível vou relatar a experiência que tive
na semana que antecedeu a JMJ. Na semana que antecedeu a JMJ, tive a alegria de
participar de duas experiências extremamente marcantes, o I Encontro
Internacional de Jovens da Cáritas e a Semana Missionária em Belo Horizonte, na
Paróquia São Gaspar Bertoni. A participação no Encontro da Cáritas me permitiu
conhecer melhor a dimensão do trabalho da Cáritas, no Brasil e na América
Latina, bem como ter contato com jovens de diversos países da América Latina.
Já a Semana Missionária, foi uma experiência de comunidade, na qual a juventude
foi protagonista. Fomos acolhidos/as em casas de família da própria comunidade
e a cada dia fazíamos experiências que nos permitia ter contato com a
comunidade e a realidade local.
Acredito que a JMJ,
poderia ser a Semana Missionária, considerando que essa propicia o contato com
a comunidade e com jovens de diversos países e principalmente, pode
proporcionar o protagonismo juvenil. Já que se quer ter a presença da figura do
papa, ao invés de se fazer um megaevento com a presença dele, fazendo-o um
pop-star, poderia se dividir em regiões e ele visitar cada uma das regiões. Por
exemplo, no Brasil, teria a Semana Missionária em todas as paróquias, e poderia
se escolher uma cidade/estado de cada região (Norte, Nordeste, Centro-Oeste,
Sudeste e Sul) para o Papa visitar, assim não haveria concentração em apenas um
local e também não se faria um megaevento.
Tenho a esperança que o
Papa Francisco, assim como está fazendo mudanças na estrutura da igreja, fará
na JMJ também, e principalmente no papel dos/as jovens na igreja, permitindo
que estes/as sejam mais protagonistas.
Também tenho a
esperança de que o Francisco de Roma, será como o de Assis, “...homem das dores,[que] reconstrói a igreja pelo mundo afora, na
fraternidade que traz a justiça, na revolução que anuncia a aurora”.
Felizmente ele já está dando sinais de que vai nesse caminho!
Então companheiro... se ainda não o fiz gostaria de o parabenizar pela ida a JMJ. Também tive a graça de mudar a minha opinião em relação a Jornada, mas infelizmente (ou felizmente) estava viajando e não puder participar do "evento".
ResponderExcluirTe parabenizo ainda mais pela disposição em ressignificar a sua disposição e a humildade de lidar com essa ressignificação partilhando conosco.
Enfim... hoje mais do que nunca descordo de alguns posicionamentos seus, principalmente por acreditar sim que a Jornada é também organizada por jovens... assim como tantos outros espaços onde temos assessores das juventudes. E mais ainda porque tanto o MAGIS (que vc bem conhece) quanto outras experiências de congregações religiosas mobilizaram sim várias cidades do Brasil possibilitando experiências riquíssimas de fé e protagonismo juvenis, inclusive de jovens de periferia que nunca havia saído de suas cidades, que mobilizaram sua comunidades para que tivessem condições de realizarem seus objetivos. Também me chama a atenção a participação de jovens estrangeiros que puderam conhecer melhor as comunidades do Brasil através de experiências de peregrinação e ações sociais que possibilitaram uma troca de cultura principalmente podendo levar ao mundo uma imagem de Brasil que a globo não se interessa em transmitir em suas novelas.
Enfim.... reintero meus parabéns (com uma pontinha de inveja) e agradeço pela sua partilha :D