

Valdir, um guri do campo que foi estudar tardiamente, depois, em função da lida, parou de estudar. Filho de pais analfabetos, foi para a universidade com trinta anos, o primeiro da família a ter um diploma de curso superior. Estudou, e estuda, a geografia que divide tão bem os asquerosos 'homens de bem' dos incansáveis homens que lutam pela terra roubada de tempos históricos. Os mesmos que grilaram a terra, que expulsaram a gente do rural, que violentam a terra com agrotóxicos, que matam diante de qualquer ameaça, são os mesmos que se intitulam 'do bem' e que, mafiosamente, articularam pela prisão de Valdir e de tantos outros companheiros do MST.
Este José Valdir de olhar doce e voz dura falou do título de mestre, algo que para muitos tem um significado extremo, para ele traduz a oportunidade de falar sobre suas experiências dentro e fora do país e dividir na academia um pouco do que significa a luta pela terra na pátria nossa. Por isso a prisão, disse ele, pois um trabalhador rural estudado é mais ameaça do que um trabalhador analfabeto. Fazer doutorado? Sim,até poderia, tem convites no Brasil e fora do país. Sim, sabe que a ideia de quem trabalha na área rural não precisa estudar é frágil, mas o que ele quer mesmo é voltar pra terra. Não quer ser doutor. É isso!
Também falou que vai escrever sobre a prisão, com a ressalva de que acha difícil falar de prisão sem falar em liberdade. Então, é melhor falar de liberdade para entender o que significa ser um preso. Um preso, político, ou não, é um preso. Nesse momento eu não teria coragem de falar: - Entendo… ou – Sei… Pois, eu não tenho nem ideia do que significa ter a liberdade impedida. Não sei e não gostaria de saber nunca! Também não queria ter conhecido o Valdir naquele lugar. Queria mesmo era tomar um mate ou uma cerveja com ele, como ele bem disse que vai fazer quando, daqui a pouco, sentir o vento da liberdade…
Quando cheguei no complexo prisional, que significa mais uma prisão de Goiânia, abracei-o e disse: - Você não me conhece, mas eu te conheço e este abraço não é só meu! É de uma tanto de gente que diz: “Estamos juntos companheiro! Estamos juntos companheiras e companheiros! É desse lado que estaremos sempre! Do lado da luta pela terra e pela vida com qualidade para todos!”
Diane Valdez (Texto publicado no Facebook no dia 30/09/2016)
Emocionada com o relato da experiência companheira Diane. A prisão arbitrária do companheiro Valdir tem que causar indignação em todos e todas nós.
ResponderExcluirHoje ele foi libertado e o MST foi retirado da lista de entidades criminosas e reconhecida como um movimento social. Ainda temos duas pessoas presas. A luta continua para garantia dos direitos.
ResponderExcluir