sábado, 1 de outubro de 2016

Diane Valdez visita Valdir Misnorovvicz preso político em Góias


Hoje, por meio do Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás, fomos visitar o companheiro José Valdir Misnerovicz, que por meio do violento movimento terrorista do Estado (parceria dos coronéis do GO/RS), foi preso em maio deste ano, com a débil acusação de pertencer a uma organização criminosa. Valdir é dirigente e militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), local e nacional. Formado em Geografia pela Unesp, concluiu recentemente a dissertação de mestrado: “A territorialização do capital e os novos sujeitos da questão agrária brasileira na contemporaneidade” no Programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal de Goiás. Sim, pessoas da área rural também estudam, afinal é direito de todos!

Na prosa de trinta curtos minutos em um presídio, lugar que nunca havia estado, eu e a jornalista Maisa Lima da CUT, escutamos, com coração de militante, a voz com sotaque forte deste gaúcho, apreciador de chimarrão, da região de Alpestre, onde o Rio Uruguay divide o RS de SC. Éramos puras ouvintes, com olhos, ouvidos e pele, da voz deste José brasileiro, que falou do lugar que está sem abaixar a cabeça e nem se deixar render pela injustiça da qual é vitima. Valdir é um homem de pura dignidade, descendente de gente rural do leste europeu, gente que viram seus chãos desaparecerem do mapa e partiram para a América em busca de novas terras e novos sonhos. Então, Valdir sabe de onde fala, sabe falar deste lugar de defensor da Reforma Agrária, da terra para todos, assim como sabe porque está preso naquele lugar.

Valdir, um guri do campo que foi estudar tardiamente, depois, em função da lida, parou de estudar. Filho de pais analfabetos, foi para a universidade com trinta anos, o primeiro da família a ter um diploma de curso superior. Estudou, e estuda, a geografia que divide tão bem os asquerosos 'homens de bem' dos incansáveis homens que lutam pela terra roubada de tempos históricos. Os mesmos que grilaram a terra, que expulsaram a gente do rural, que violentam a terra com agrotóxicos, que matam diante de qualquer ameaça, são os mesmos que se intitulam 'do bem' e que, mafiosamente, articularam pela prisão de Valdir e de tantos outros companheiros do MST.

Este José Valdir de olhar doce e voz dura falou do título de mestre, algo que para muitos tem um significado extremo, para ele traduz a oportunidade de falar sobre suas experiências dentro e fora do país e dividir na academia um pouco do que significa a luta pela terra na pátria nossa. Por isso a prisão, disse ele, pois um trabalhador rural estudado é mais ameaça do que um trabalhador analfabeto. Fazer doutorado? Sim,até poderia, tem convites no Brasil e fora do país. Sim, sabe que a ideia de quem trabalha na área rural não precisa estudar é frágil, mas o que ele quer mesmo é voltar pra terra. Não quer ser doutor. É isso!

Também falou que vai escrever sobre a prisão, com a ressalva de que acha difícil falar de prisão sem falar em liberdade. Então, é melhor falar de liberdade para entender o que significa ser um preso. Um preso, político, ou não, é um preso. Nesse momento eu não teria coragem de falar: - Entendo… ou – Sei… Pois, eu não tenho nem ideia do que significa ter a liberdade impedida. Não sei e não gostaria de saber nunca! Também não queria ter conhecido o Valdir naquele lugar. Queria mesmo era tomar um mate ou uma cerveja com ele, como ele bem disse que vai fazer quando, daqui a pouco, sentir o vento da liberdade…

Quando cheguei no complexo prisional, que significa mais uma prisão de Goiânia, abracei-o e disse: - Você não me conhece, mas eu te conheço e este abraço não é só meu! É de uma tanto de gente que diz: “Estamos juntos companheiro! Estamos juntos companheiras e companheiros! É desse lado que estaremos sempre! Do lado da luta pela terra e pela vida com qualidade para todos!”

Diane Valdez (Texto publicado no Facebook no dia 30/09/2016)

2 comentários:

  1. Emocionada com o relato da experiência companheira Diane. A prisão arbitrária do companheiro Valdir tem que causar indignação em todos e todas nós.

    ResponderExcluir
  2. Hoje ele foi libertado e o MST foi retirado da lista de entidades criminosas e reconhecida como um movimento social. Ainda temos duas pessoas presas. A luta continua para garantia dos direitos.

    ResponderExcluir