quinta-feira, 16 de junho de 2016

Entre o frio e o amor, a vida que explode! Carta ao Lourenço e ao Gisley - Luis Duarte


Queridos e amados Lourenço e Gisley,

Com o coração cheio de tantos sentimentos escrevo essa carta nesses dias pascais e de memória. 
Nesses dias de frio e de amor. É um modo de abraçar vocês e de partilhar um pouco dos sentimentos que explodem aqui dentro. É que vida sempre explode, no amor e apesar dos frios. 

O Dia de ontem (14/06) foi difícil de viver. É que você Lourenço, foi abraçar o AMOR eterno muito cedo. Mais cedo que todos/as nós esperávamos. Aliás, todos/as nós pensávamos e desejávamos e sonhávamos tantas coisas para serem vividas ao longo dos anos contigo. E de repente o AMOR eterno te abraçou e hoje olhas por nós daí desse abraço eterno. O dia de ontem foi um dia frio. Não esperávamos sua Páscoa agora, assim de repente. Mas, o frio sempre vai sendo e precisa ser derrotado pelo amor. E sabes do amor que todos/as lhe tínhamos, mas sobretudo sabes do amor sua mamãe, Rose, e de seu papai, Laurinho. E sabes que esse amor é eterno. Sabes que o amor nunca acabará... Da eternidade olhe por nós, nos ajude a transformar os frios em amor, para que a vida sempre exploda. 

Gisley, o dia 15 de junho nunca mais foi o mesmo desde aquele dia da entrega final, do martírio, da consumação da vida que foi toda doada. Tanta coisa para contar e partilhar. Tanta vida explodindo, apesar dos frios, mas sempre impulsionada pelo amor. 

Os frios aqui estão duros. É impossível não sentir dor sabendo que nas ruas de São Paulo (e de tantos outros lugares) há irmãos e irmãs morrendo de frio. Do frio climático. Mas, do frio da indiferença, da omissão, do acumulo, da falta de amor... Irmãos e irmãs morrendo de frio... Fico pensando nos frios que eu gero por causa de minhas incoerências, de minhas omissões, de minha falta de amor... Doí muito ver, sentir, saber de irmãos e irmãs morrendo de frio... 

É impossível não chorar e não sentir a morte de mais de 50 irmãos e irmãs na boate gay nos Estados Unidos da América... A homofobia e a falta de amor segue matando lá e por aqui... Longe e perto... Ajudem-nos a derrotar o frio do ódio e da homofobia com amor, com irmandade. Ajudem-nos a não sermos indiferentes. 

É impossível não sentir no corpo a dor do estrupo daquela menina e tantas mulheres no Rio de Janeiro e aqui perto ou longe. De novo, é como se o frio matasse nossa humanidade. Mas, ainda assim creio no amor, que resgata a humanidade. 

Apesar do frio e dos sentimentos que se misturam, a vida sempre explode. O AMOR não decepciona. As lágrimas correm porque o frio doí, os sentimentos se misturam. Mas, sobretudo porque o AMOR que explode em nós sempre nos faz perceber que a vida sempre renasce, re-cria, ressurge. A Páscoa é vitória da vida. As mãos que se estendem e se unem entrelaçam e alinhavam esperanças e cuidado, bandeiras de lutas e compromissos de vida que são assumidos. 

Sei que na eternidade e no abraço eterno não há mais frio. Há apenas o AMOR. Sei que está uma
bonita festa no céu nesse dia. Não tenho dúvida de que Gisley, Deusdete, Julciene, Floris e Wal fizeram uma imensa festa na acolhida do Lourival. E sei que todos/as vocês, junto de amigos/as muitos, fizeram uma bonita festa para acolher o Lourenço. E que agora ele brinca e corre pulsando alegria e amor. 

Sim, apesar dos frios e dos invernos vamos seguir alinhavando esperanças, causas, doações e mutirões de amor. É que seguiremos em marcha até que o AMOR se torne plena realidade para todas e todos, tecendo mundos e relações de vida feliz e abundante. 

Peço que ajudem a todos/as nós, a enfrentarmos os frios internos e externos. Ajudem-nos a arder em amor. Caminhem conosco ajudando-nos a perceber a vida que explode, renasce, re-cria. Ajudem-nos a não perdermos a esperança. Ajudem-nos a sermos doação total como vocês o são. 

Abraços muitos e afetuosos,
Luis Duarte

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