Esta é minha vigília por Lourival que não está nada bem de saúde. Uma contemplação de um amigo e companheiro que, na dor que vive, é capaz de falar e revelar coisas de esperança, de gana de viver, doando sua vida em prol da juventude, desejos e anseios que todos precisamos viver.
A primeira contemplação é de um gesto dele de solidariedade com Vanildes,
sabedora que o câncer a invadira. Lourival é sério, mas aqui o olhar dele vai fundo
procurando e afirmando sentido. Veja-se a diferença da outra foto:
Não são dois Lourivais. É o mesmo, este que todos nós conhecemos. Talvez
tivéssemos que falar do sorriso, do chapéu, da flor, mas o importante é o todo. O
chapéu ou o turbante de paxá dos orientes, os óculos ou os olhos. Alguém que olha
para longe.
Eu era contra a vinda dele, de Goiânia para Porto Alegre. A desculpa era que Ciron
não tinha visto, ainda, a Serra Gaúcha. E ele veio com Ciron...
Pior ainda (e eu sei disso): ele querendo viajar um dia depois de uma sessão de 04
horas de quimioterapia.... Parece que não importa que tenham tirado um pedaço do
intestino dele, um pedaço do fígado, da vesícula... lá vai ele, viajando pra cima e pra
baixo. É Lourival Rodrigues da Silva, ex-aluno, meu substituto na coordenação da Pós
em Juventude, um guerreiro, companheiro de sonhos e trabalhos. Na CAJU (Goiânia),
os jesuítas fizeram muita bobagem e muita grosseria com muitos, mas com ele de
forma especial. Aquilo que ele amava do fundo das tripas e era efervescência de
juventude pobre, de pesquisas, de assessorias pela América Latina afora, virou um
cemitério. Quase diria de almas penadas. Por vezes penso que a decepção foi tão
grande que se encarnou em câncer no Lourival e em outros.
Portanto, o Lourival veio visitar-me, daquele jeito, junto com o companheiro Ciron.
Loucura! O sorriso aberto no aeroporto foi a primeira surra. Surra de fortaleza, de
resistência, de esperança...
Uma das visitas foi ao Observatório Juvenil. Ele queria ver... Como é bom ver que
outros acreditam mais que a gente. O dedo apontado vai para o juvenil e o Lourival é
um desses que, em meio às sessões infernais de quimioterapia fica sonhando a
felicidade das juventudes. Não tenho condições de falar da forma como a juventude
foi crescendo em Lori. Acho que o primeiro encontro com ele foi em 1993, no Espírito
Santo. Um encontro um tanto doido, com Lourival esbanjando militância e alegria.
Seis anos depois ele virou meu aluno na primeira turma de um Curso de Pós em
Juventude em São Leopoldo.
Ei-lo sentadinho ao lado de Zoila e colegas. Sem enganos, pode-se dizer que, além de
estudioso, era perguntador e curioso. Que o diga aquele professor daquele dia que
inventou de querer falar abobrinha. Lori não poupou... Mas, voltando àquela visita
doida, mais duas recordações:
1) Quase três gerações; quase três irmãos; quase sonhos juntos... Edinho,
Lourival e eu. Fora eu, grandes sonhadores. O Ciron só conhecia Lourival; o
Edinho não conhecia Ciron; o Lourival carregava a todos no coração. Foi lá no
Centro de Espiritualidade Padre Arturo Paoli. Sentir-se idoso, às vezes, é
muito consolador.
2) Aí acrescento duas outras imagens: a do Lourival na antiga sede da UNISINOS
onde começou a Pós em Juventude e, na outra, o acréscimo de outra
figurinha que vai crescendo juventude afora: Débora Cristina Giehl. As
gerações aumentaram.
Nascido em Anápolis, interior de Goiás, Lourival é filho de uma família simples e que
lutou para sua sobrevivência. Nem digo em que ele trabalhou... Passou a infância na
cidade Trindade. Além de graduado em Direito, pela Faculdade de Educação e
Ciências Humanas de Anicuns é especialista em Juventude no Mundo
Contemporâneo pela UNISINOS e mestre em Ciências da Religião pela PUC/GO.
Despertado para a vida em grupo, aos 17 anos, na periferia de Goiânia, na segunda
metade dos anos 80. Intensificou sua militância com a Pastoral da Juventude na
diocese de São Luis de Montes Belos - GO, (89 a 93) tanto na coordenação jovem e
posteriormente na equipe de Assessoria da diocese. Durante este período esteve à
frente da equipe de coordenação da organização dos jovens no regional Centro
Oeste e na Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude (91 a 93). Neste período
participou da organização e produção de materiais e na preparação de atividades de
formação. Sempre estudando os temas: juventude, planejamento, metodologia,
grupos, religião, políticas públicas...
Participou e esteve à frente de vários em eventos nacionais e internacionais. Esteve
presente nos encontros da Rede de Centros e Institutos do Brasil e da América
Latina, em encontros promovidos pela CNBB em nível nacional e regional, como
representante ou como assessor; nos encontros promovidos pelos governos federal,
estadual e municipal sobre políticas públicas da juventude. Acompanhou a discussão
sobre a formação do Conselho Nacional da Juventude e suas câmaras temáticas.
Coordenou o intercâmbio entre jovens da DKA, na Áustria e da CAJU Brasil, uma
experiência de um mês que teve o reconhecimento da Instituição da Áustria e dos
jovens que participaram do projeto. Difícil dizer em que Estado ou diocese do Brasil
em que ele não tenha estado.
Esteve frente à coordenação geral da Casa da Juventude (2003 a 2006). Na CAJU
produz vários materiais sobre e para os grupos de jovens. Muitos desses são frutos
da sistematização de uma experiência de anos e de pesquisa junto à juventude. Além
disto, acompanhou a área de metodologia e planejamento da CAJU, com uma equipe
de 25 pessoas, coordenando e distribuindo todos os serviços e acompanhando a
formação destes agentes em três projetos: Escola de Educadores/as de Adolescentes
e Jovens; Formação de lideranças Juvenis – Caminho de Esperança; Experiência de
tarde de formação – uma experiência de trabalhar dinâmicas e temas em curto
espaço de tempo.
Participou de duas gestões do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, sendo
vice-presidente na segunda gestão e suplente na terceira gestão. Além das tarefas
próprias do conselheiro, sempre participou das equipes de formação de novos
conselheiros para a defesa dos direitos da juventude. Participou da equipe nacional
do Simpósio Internacional sobre Juventude Brasileira, estando na coordenação e
realização do JUBRA em Goiânia, pela CAJU e depois em Belo Horizonte (2010).
Os amigos e amigas são muitos. Na foto acima, ao lado de Norbert, do Adveniat, está
Carmem Lúcia Teixeira. Só o dois sabem os anos em que trabalharam juntos e
quantos projetos realizaram. A outra não precisa de explicação: sabemos o que ele
significa no debate das Políticas Públicas para a Juventude. Mas tem outros/as
amigos também... De mais longe e de mais perto. Nem a tormenta que caiu sobre a
Casa da Juventude fez Lourival parar. Mesmo com a saúde já fragilizada, lá estava ele na
fundação do CAJUEIRO. São amigos/as que são da quase-família e da família, de mais tempo
e menos tempo, de mais idade e de menos idade. O que importa e o que une, além dos
corações, são as juventudes.
Sei que deixei de lado milhares e milhares, mas os que consegui encontrar servem como
símbolo de todos os jovens e de todos os que trabalham com jovens, mundo afora. Os
Lourivais são presenças de sonhos, de sentimentos, de artes, de pesquisas, de loucuras, de viagens, de sempre querer mais e melhor.
E tudo isso é verdade. Tudo isso é o que me ocorreu nesta vigília que fiz pensando ser mais
irmão de Lourival. Olhem a cara dele, o chapéu dele, a mãe dele, a Carmem a gurua dele e de
todos nós = Carmem, e os outros dois sorrisos que são de todos nós.
A vontade é concluir a vigília imaginando Lourival cantando um mantra de encher o carinho
que precisamos cultivar. O “Amém” pode ser aquele que todos sabemos. Aliás, certo dia,
numa Eucaristia da qual participei em longes terras, a única coisa que entendi foi este
“Amém”. Que assim seja.
Amém. Conheci o Lourival por essas andanças. Pessoa incrível. Awerê!
ResponderExcluirLindo texto, me emocionei. O Lourival faz parte de nossas vidas, tenho um carinho enorme por ele, muito aprendi com esse gigante.
ResponderExcluirAmém! Nossa Hilário muito, muito significativa essa vigilia. Amém!
ResponderExcluirVai em paz grande lutador, dê um abraço em Gisley nosso eterno amigo. Os céus e a terra cantam um grande aleluia por sua existência. Obrigado pela doação e amizade. Descanse em paz camarada. Pe. Divino Viana, css
ResponderExcluirEmocionante o texto, Hilário sempre colocando belíssimas palavras para acalentar o coração de todas/os que conviveram com essa pessoa maravilhosa. #LorivalVive
ResponderExcluirTive a honra de participar juntamente com Lourival da primeira turma de Especialização em Juventude realizada no Brasil em São Leopoldo-RS, quando conheci também o Fenômeno Pe. Hilario Dick, Lourival era figura marcante em nossa Diocese de Itumbiara, foram tantas assessoria em assembleias, cursos e e outros encontros de PJ. Eu e mina esposa fomos ao velório e não tivemos como conter nossas lagrimas. Louvival, pessoa marcante em nossas vidas. Descanse em paz amigo.
ResponderExcluirTive a honra de o conhecer em um encontro da Pastoral da Juventude de Seara Santa Catarina. Era o Líder do Retiro. Uma pessoa muito humilde e com muito para ensinar. Vai em paz amigo
ResponderExcluir