Querido
Papai Noel:
Neste
ano não quero nenhum "smartphone", nem "tablete”,
"iphone", "ipad", "ipod", nem outra bugiganga
telemática. Ao longo deste ano tenho comprovado que as “telas” me afastam da
vida e que eu quero ir com a vida; correr, voar, sentir com a vida; não passar
os meus dias com meu olhar grudado numa tela. Eu quero o que a tela aponta, e
não a tela, apesar dos muitos vídeos e lindas imagens que ela me possa
proporcionar.
Por
tanto, eu lhe peço outros sonhos: estes que passo a escrever.
Sobretudo,
peço que estes tempos mais apertados para tanta gente, alarguem mais, no nosso
interior, o princípio da solidariedade.
O importante não é o saco cheio que você carrega e até transborda; desejo que
nossos corações transbordem mais sentido de mutua compreensão, acolhida
e ajuda, além do desejo de
partilhar.
Não
lhe peço saída para a crise em que vivemos, mas consciência do porquê entramos
nela; consciência de que somente pode
perdurar o sustentável, o que combina com a lei da solidariedade universal,
com o respeito supremo à nossa Mãe-Terra / Pacha-Mama. Antes de pôr as máquinas
a pleno rendimento, desejo que pensem se, de fato, precisamos de tudo que
produzem e da forma como o produzem. Em vez de continuar vertendo química e
veneno sobre os nossos campos, que possamos lembrar-nos do tempo em que a terra
guardava toda a sua fertilidade, os vegetais o seu sabor, e as águas a sua
pureza... Peço-lhe consciência de
que nossos pequenos cosmos humanos exigem direto e estreito contato com o
Grande Cosmos. E, falando destas questões siderais, que não aumente a conta da
luz, mas sobretudo que os Governos não persigam os corajosos que põem moinhos
de vento nas colinas e placas solares nos seus telhados.
Peço-lhe
um lar para todas as pessoas. Que
todos possam conseguir moradia digna. Que ninguém
sofra despejo e fique no meio
do abandono. Suplico, também, a consciência de que nossas vidas não sejam
escravas de bancos onde pagamos as prestações; e que possamos viver, junto à
nossa Mãe-Terra, em casas simples que nossas mãos podem construir, e não
necessariamente no nono andar de um prédio com elevador.
Sonho
com a inteira liberdade para a mulher
quanto ao decidir sobre o seu corpo; sonho com a consciência da sacralidade da
vida que leva no seu seio... Na verdade, o que desejo é que haja mais
consciência, em todas as pessoas, da sacralidade da vida em todas suas formas,
expressões, fases e cores. Liberdade
na sua mais plena expressão; para os povos e raças. Liberdade para que cada
sujeito decida como quer desenhar seu futuro e enfrentar seu destino. Liberdade
para que os povos se autodeterminem, mas também consciência de fraternidade; sonho que a unidade, divinamente
respeitosa com as partes, integrada, enriquecida e florescida na diversidade,
talvez seja a mais elevada meta humana.
Ansiando
pelas liberdades, desejo, de coração, que os tiranos, ditadores e fanáticos de
todo signo e bandeira, terminem por cair. Que os Gandhis e Mandelas se
multipliquem; que os mandatários com verdadeira vocação de serviço, com
espírito de harmonização e de reconciliação, prossigam ascendendo aos governos
dos povos e nações.
Particularmente,
contudo, peço pela Paz nas terras do
Oriente, onde o nosso Salvador Jesus nasceu; Santa Terra de tanto abraço
adiado... Paz nas areias e desertos,
principalmente na gloriosa Síria,
berço de excelsas culturas e civilizações... E Paz, filha da justiça, nesta imensa Panamazônia, onde tantos indígenas e povos originários sofrem
violência e morte pela ambição sem limites de pessoas e do sistema econômico em
que vivemos.
Mais
próximo de nossa casa, peço-lhe que voltemos
a acreditar no Brasil. Que nunca esqueçamos o sangue e o suor derramados
para chegarmos a uma democracia onde a justiça social tem conseguido dar passos
reais, apesar de termos, ainda, muito caminho pela frente. Que continuemos a
superar preconceitos de raça e gênero. Que não cansemos de lutar por preservar
a preciosa “casa comum” na qual vivemos. E que, cada dia mais, nos sintamos
irmãos e irmãs dos povos que moram nos países vizinhos de nossa Pátria Latino-Americana.
Papai Noel, desejo-lhe, de coração, uma boa caminhada pelos
lares e pessoas que precisam de todos estes presentes que lhe pedi. Faça o
possível para que ninguém converta você num ídolo - como já o fazem nas lojas
comerciais - que tomou o lugar de Jesus. Ao contrário, que você seja a ponte para
as pessoas encontrarem o Salvador que pode dar-nos vida plena e abundante e
levar-nos a um novo mundo de paz, respeito, cuidado, justiça e fraternidade.
Papai Noel, que possamos seguir
a estrela que os Magos do oriente seguiram, através dos nossos desertos,
areias e dificuldades. Que, a exemplo deles, caminhemos juntos, despojados e
com esperança, para encontrar JESUS
ao longo do novo ano que está chegando. Que o saco que carrega e que carregamos
espalhe esperanças.
Que o Deus encarnado
em Jesus,
frágil, dependente,
migrante, pobre e marginalizado
inunde o nosso
coração
para que mudemos o
nosso modo de pensar e nosso estilo de vida
e, assim, que 2016
seja o Ano Novo que desejamos para todos.
Um beijo no coração.
Paco.
P. Hilário Dick S.J.
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