Ninguém precisa
explicar porque vocês estão ali
O amor se vive; não se
explica.
Queridos e queridas,
Convidado a dizer-lhes alguma coisa por ocasião da 4ª Missão
Jovem nas terras de Santa Catarina, quero dizer que estou saudando com vontade
de estar lá, isto é, de estar com vocês. Sem grandes discursos, pensei em fazer
quatro pequenas reflexões que podem ser úteis para todos, especialmente para as
juventudes.
1.
A missão tem tudo a ver com a descoberta da
saída. Segundo o livro do Êxodo, custou ao povo hebreu descobrir que precisava reagir à escravidão do faraó.
Precisou aparecer um jovem chamado Moisés, que não suportou o que seus olhos eram
obrigados a ver, matou um egípcio e o enterrou na areia. É o que diz a Bíblia.
Ser jovem é viver a grande aventura da saída da escravidão, do ensimesmamento, da
lonjura do pobre e do desencontro com o/a
outro/a. A descoberta de sair de si mesmo; a descoberta do que é começar a
amar. Amar é dar-se aos outros. Por isso o jovem começa a deixar a outra, o
outro a entrar na sua vida e a felicidade toma novos sabores.
2.
A missão, como disse, tem tudo a ver com a
consciência do êxodo. Ser jovem é viver a epopeia do êxodo. Mesmo que pareça
que as tecnologias nos estejam ajudando a sairmos de nós mesmos e termos a
impressão que estamos abraçando o mundo, parece que é fundamental recordar que
fora do pobre não há salvação. Falo do pobre porque é o mais outro pelo qual
Deus tem preferência. Por vezes temos que sair de nossos quartos para ter que reconhecer que o pobre é real. Ele
até pode estar frente ao nosso nariz, e não o enxergamos porque há “forças” que
acham importante que o pobre não seja só
fadado a ser invisibilizado, mas a desaparecer. Ser missionário é gritar a
plenos pulmões que nenhuma pessoa humana existe para sobrar.
3.
Ainda continuo convicto que uma das grandes
conquistas de nossa humanidade é a autonomia. Ser jovem é convencer-se que
somos feitos para sermos autônomos, empoderados, protagonistas. Não significa
que somos feitos para sermos autossuficientes, “independentes”. Ser autônomo é
descobrir a grandeza para a qual fomos criados; também a grandeza dos nossos
limites. Todos sentimos em nós a fome de
referências e de pessoas que sirvam de exemplo e modelo; todos sentimos a fome
da grandeza do que é ser limitado.
Continuo convicto que vocês sabem a enormidade da feiura da pessoa que
se acha auto-suficiente, gritando aos
desertos que não precisa dos outros.
4.
Nunca podemos esquecer que o Deus no qual
acreditamos é Trindade. Deus não está fechado em si. Ele é amor; é vida; é
plenitude. Até podemos dizer que o Deus que move nossa fé é missionário. Até
podemos dizer que somos missionários porque Deus é missionário. O encontrar o
outro, a outra, o pobre, o universo bonito e feliz não é algo que vem de fora;
é algo que brota do divino que mora em nós. Somos missionários porque é esta a
vocação que quer brotar, sempre mais, em nós. Não há força que nos impeça
disso, somente a nossa covardia e o nosso medo de sermos nós mesmos.
Descoberta
Consciência
Autonomia
Deus Trino em nós.
A todos e todas um abraço, pedindo apoio para que as palavras
se tornem prática e vida, todo dia.
P. Hilário Dick S.J
São Leopoldo, 17 de junho de
2014.
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