Nicolas
Berdyaev, filósofo Russo, disse que a estética é o campo em que Deus e o Diabo
travam as suas batalhas. Há demônios especializados na beleza. Porque a beleza
é sedutora. Pela sedução da beleza, as maiores tragédias acontecem na vida dos
indivíduos e dos povos. O programa do Nazismo era lindo: saúde, limpeza e
beleza. Eu estaria pronto a dar o meu apoio a um partido que adotasse esse
programa. Hitler amava as artes plásticas e da música. E quantas tragédias
individuais aconteceram por causa de um rosto bonito e vazio! A
beleza é o grande ídolo dos nossos tempos, adorado por todos.
Mas há também
os demônios especializados num tipo de feiura chamado “ridículo”. O arrogante
se acha lindo. Somente aqueles que o veem se dão conta de seu ridículo.
É o caso do
vaidoso. Ele se acha o mais bonito, o mais inteligente, o mais
interessante. Deseja aparecer. Pavão. Abre o rabo de penas coloridas e fica
esperando a admiração dos que o veem. Julga-se, em qualquer lugar,
o centro da atenção admiradora de todos. Os mais bobos falam sem parar,
julgando que suas palavras como poemas. Não percebem que os outros estão
dizendo: ‘Você é um chato!’
Você deve se
lembrar do pequeno príncipe, Saiu do seu pequeno asteroide e veio visitar
a Terra, não sem antes visitar uma série de outros asteroides intermediários.
Em cada um deles, vivia um tipo curioso. O Acendedor de Lampiões, o homem que
vivia para cumprir o dever. O Rei, cujas
ordens faziam o sol se pôr. O Homem de Negócios, que passava o tempo calculando
quantas estrelas possuía, embora elas estivessem muito longe. O Geógrafo, que
sabia tudo sobre o planeta dele pela leitura de livros, sem nunca ter deixado
sua escrivaninha.
O Vaidoso...
Vendo o Pequeno Príncipe à sua frente, logo perguntou: “Mais um
admirador?” E logo lhe pediu: “Por favor, bata palmas!” O principezinho, sem
entender, fez o que lhe era pedido – bateu palmas. E o Vaidoso se curvou numa
larga reverencia, como um artista no palco, agradecendo os aplausos. Para
o arrogante, o mundo é um palco, todas as pessoas são admiradoras e ele é o
centro do espetáculo.
A arrogância
assume várias formas. Numa extremidade está a arrogância narcísica. Você
conhece o mito de Narciso. Jovem lindo, o mais lindo de todos, apaixonou-se pela
própria imagem refletida no espelho d’água de uma fonte. Sua beleza o
fascinou de tal forma que tudo o mais perdeu o interesse. Nada no mundo podia
se comprar à sua beleza. Incapaz de ver beleza fora de si mesmo, ele se tornou
prisioneiro da própria imagem. Ficou paralisado à beira da fonte e morreu,
transformou-se então na flor que leva o seu nome.
O mundo está
cheio de Narcisos. Vocês devem conhecer aquelas pessoas que, quando a gente
conta uma coisa, não demonstram o menor interesse e vão logo dizendo:
“Mas isso não é nada...” E com essas palavras jogam no lixo o que a gente falou
e passam a falar sobre a única coisa que realmente importa: elas mesmas.
Na outra
extremidade está a arrogância violenta, que acontece quando o Narciso, além do
seu convencimento, tem o poder. Tendo poder, ele se impõe. Claro. Convencido de sua beleza,
ele acredita que suas ideias são as únicas certas. As ideias de todos os outros
têm de estar erradas. Ele não pode admitir que outros possam estar certos.
Porque isso seria admitir que os outros têm uma beleza que ele não possui. Se
ele for um Narciso sem poder, sua feiura aparece apenas em sua chatice de que
todos fogem. Mas, se ele tem poder – se é presidente, ou delegado, ou oficial
do exército, ou campeão de artes marciais, ou professor, ou pai, ou mãe -, não
titubeia em lançar mão de seu para fazer valer a superioridade que ele acredita
possuir. Aí a arrogância se revela como violência. Quanto ao arrogante
narcísico, todos riem dele. Quanto ao arrogante violento, todos riem dele e
desejam sua morte.
A arrogância
está intimamente ligada à vaidade. A palavra vaidade vem do latim “vanus”, que quer dizer “vão”. Vaidade,
assim, é o vazio, o sem conteúdo, o sem valor. O arrogante está possuído pela
vaidade. Vi um lagarto arrogante. Insignificante se não se percebia visto, quando
queria impressionar os outros estufava um saco vermelho que havia no pescoço.
Ficava, de fato, impressionante e amedrontador. Mas seu papo vermelho era “vanus”… estava cheio de ar. Assim são
os arrogantes.
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