Sim, acabou a Jornada Mundial da Juventude no Brasil. Para
alguns fica a saudade, para outros fica o alívio. Sim, não se pode agradar a
todos. Aliás, não se deve agradar a todos. Afinal somos pessoas diferentes.
Frase boa essa, não? Que tal abrirmos a conversa deste texto a partir dela?
Comecemos então pelo fim. Passada a JMJ, vi relatos
eufóricos e de coração aberto sobre a figura do Papa Francisco. Pessoas que não
costumam elogiar a Igreja Católica expressavam simpatia pela figura do
pontífice. Gente comedida e reservada postavam fotos, mensagens e elogios à
pessoa do bispo de Roma. Teria virado Francisco uma unanimidade?
Não, não se deve agradar a todos. E ele não agrada. É
simpático, próximo, mas não agrada. O discurso em favor dos pobres, da
aproximação da Igreja junto ao povo, do pedido para que a juventude seja
revolucionária, para que tomem as ruas, que a Igreja esteja presente fora dos
muros eclesiais, que o testemunho seja coerente com o evangelho que se anuncia
não agrada a todos. Há quem viva, pregue e testemunhe uma vida completamente
divergente deste modelo apresentado.
Não. Francisco não agrada a estes. E tiro daí uma lição. É
preciso refletir junto aos nossos grupos os pedidos do Papa e suas homilias
desta JMJ. São reflexões importantes e que servem de semente para o pensamento
de um outro mundo possível.
Passou a JMJ e o que vi da liturgia oficial e das animações
e shows oficiais não eram condizentes com a diversidade das espiritualidades
presentes na Igreja do Brasil. Agradou sim. Agradou àqueles que vivem,
testemunham e conhecem este modelo.
Não agradou a mim. E sei que não agradou a outras tantas
pessoas. Mas tomo uma nova lição: é preciso que divulguemos mais nossos
artistas pastorais. Precisamos de mais vídeos na internet, exposições
fotográficas, músicas gravadas, festivais, danças e poesias. Sei que temos
muito, mas sei também que divulgamos timidamente. É preciso que mais gente
conheça. É preciso esparramar esta produção e o trabalho de uma gente que crê e
luta pela possibilidade de um novo mundo.
Enquanto a programação oficial rolava, outras tantas
experiências que a mídia (católica ou não) não mostrava estava acontecendo.
Tive um prazer danado ao ler as notícias da Tenda das Juventudes e Santuários
dos Mártires da Caminhada, da Marcha Mundial A Juventude Quer Viver, das
orações de Taizé na Igreja da Candelária. Tudo isso muito rico, tudo isso muito
animador. Apesar disto não agradar a todos, são elementos importantes para
ajudar a fazer uma Igreja que contribua na construção de um outro mundo
possível.
Volto um pouco mais no tempo para falar da minha experiência
concreta. Foi a partir dela que os fatos acima ficaram mais evidentes. Foi a
partir desta experiência que aprendi toda esta lição. Enquanto muitas dioceses
e paróquias pelo Brasil recebiam jovens para a Semana Missionária, antes da JMJ
2013, eu estava numa experiência semelhante, mas com algumas diferenças.
Desde o dia 28 de junho eu vinha sentindo o sabor das
correrias com a chegada de gente de terras distantes. Jovens de nove países
diferentes, quatro continentes se reuniram em Goiânia, São Paulo e Rio de
Janeiro. Em comum, todos eles tiveram algum contato com a DKA, uma instituição
austríaca de cooperação eclesial que visa contribuir no compromisso solidário e
em projetos que busquem um novo mundo possível.
Eles não vieram exatamente para a Semana Missionária. Vieram
para um momento de intercâmbio entre grupos que trabalham com juventude entre
alguns dos projetos financiados pela DKA. Brasil, Colômbia, Guatemala, El
Salvador, Gana, Camarões, África do Sul, Índia e Áustria. Uma riqueza cultural
muito grande. E um desafio do tamanho desta riqueza
Relatos incríveis, pessoas fantásticas, projetos plausíveis,
concretos e de resultado. A troca das culturas foi um ponto forte. O cuidado
entre nós também o foi. Apesar dos dias puxados, apesar das traduções que
tomavam um bom tempo, apesar das mudanças de tempo, temperatura e imunidade, os
sorrisos estavam sempre presentes, os abraços também.
O carinho que ficou entre nós foi grande. E a saudade agora
também o é. No entanto, nada me alegra mais do que saber que a construção do
tal novo mundo possível acontece na prática e está sendo gestada de acordo com
um velho e conhecido provérbio africano: "Gente simples, fazendo coisas
pequenas, em lugares pouco importantes, conseguem mudanças
extraordinárias". E que assim continue sendo! Mesmo que não agrademos a
todos. Afinal, viemos para incomodar!
Obs.: O texto está originalmente no Blog do Rogério Oliveira.
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